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Experimentei a maternidade com um bebê reborn por um dia. E não foi fácil

Passei um dia numa Maternidade Reborn, com réplicas hiper-realistas de bebês que têm até cabelo humano - Gabriela Cais Burdmann/UOL
Passei um dia numa Maternidade Reborn, com réplicas hiper-realistas de bebês que têm até cabelo humano Imagem: Gabriela Cais Burdmann/UOL

Luiza Souto

Da Universa

06/05/2019 04h00

Com três sobrinhos que são uma graça -- uma tem a minha cara e meu gênio --, sinto-me muito bem na qualidade de tia e mãe de duas cachorras, aos 35 anos. Trato a Chica Buarque e a Cassia Eller -- sim, elas têm os nomes dos meus ídolos -- como filhas: dormem na cama comigo e com o meu marido, pego no colo para arrotar depois que comem, deixo a luz acesa e a tevê ligada quando não estou em casa, canto para elas e assim vai.

Sem vontade de encarar a maternidade humana topei, no entanto, fazer um workshop de amamentação e cuidados básicos com um bebê reborn para saber se seria tão diferente da experiência que tenho com minhas "catioras". E olha... Deu vontade de coroar com a pedra mais valiosa a dona Esther, que teve três filhos, incluindo esta que vos escreve.

O Shopping Frei Caneca, na Consolação, centro de São Paulo, montou uma maternidade no térreo com 15 bebês reborn, aquelas réplicas hiper-realistas que têm até cabelo humano. A parada (desculpe, sou carioca) é tão bem feita que fiquei até com medo de pegar, mesmo sentimento que tenho quando vejo um recém-nascido.

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Um bebê reborn custa a partir de R$ 1,3 mil
Imagem: Gabriela Cais Burdmann/UOL

Com preços a partir de R$ 1,3 mil, esses bonecos são feitos por especialistas no tema. O Massao Yamamoto, da Doce Reborn, é um deles: ele e a mulher têm uma loja especializada na Penha, zona Leste de São Paulo, desde 2015. Desde a inauguração, eles viram as vendas saltarem de 85 para 210 bebês por ano. Os clientes são diversos: de criança que chega à loja querendo um a casais que não podem ter filhos e encomendam um bebê com suas características físicas. Nesse caso, os valores saltam para cerca de R$ 3,5 mil.

"Tem até avó que pede para fazer um bebê parecido com a neta que mora longe, para matar a saudade", diz Massao. Acho que já sei o que darei para minha mãe, a dona Esther, de Natal. Eu era um neném lindo.

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Aprendi técnicas de amamentação e cuidados com o recém-nascido
Imagem: Gabriela Cais Burdmann/UOL

Voltando... Dentro dessa maternidade reborn, que ficará no shopping até o dia 26 de maio, fiz um curso rápido de amamentação e cuidados práticos com o bebê. No fim, quase levei a Maria Valentina, de 46 cm e 1,542 kg para casa. As crianças tinham nomes próprios e cada uma tinha seu peso e altura.

Meu conhecimento era tanto que quando alguém falava na posição invertida eu imaginava o bebê de cabeça para baixo, com a barriga dele no meu ombro. "Não, Luiza, ele fica de lado mesmo, mas com as perninhas apontadas para as suas costas."

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A Maternidade Reborn
Imagem: Gabriela Cais Burdmann/UOL

Quem teve a paciência comigo foi a enfermeira obstetra Luciana Rodrigues, que é também neonatologista e consultora de aleitamento materno, da Ninho Acalento.

Ela me contou que uma das maiores dificuldades que as mães têm é encontrar melhor posição para dar o peito ao neném. Eu mesma me atrapalhei um pouco na hora de segurar o boneco -- imagine com um bebê de verdade.

E mesmo expert na posição, atenta Luciana, o neném às vezes simplesmente tem preguiça de sugar, e o leite não vem. Então, não é só mostrar o peito. E faz o quê?

"Relactação. Existem métodos em que você mesma tira o leite, coloca num copo de pinga (é copo de pinga mesmo) no meio do peito, vem com uma sonda e coloca no cantinho da boquinha do neném. Ou deixa o leite no copo mesmo e ele vem lambendo, igual a um gatinho. É melhor do que dar a mamadeira. Mas também é cansativo. Por isso muita mãe desiste da amamentação", explica Luciana.

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Existem várias técnicas para ajudar o neném a mamar
Imagem: Gabriela Cais Burdmann/UOL

Ela também me ensinou a massagear o bico do peito, caso um dia meu leite venha a empedrar, e o jeito certo de dar o tapinha nas costas se o bebê engasgar. Dei uma exagerada na batida no início.

"Vamos para o banho da criança? Acho que é mais fácil. Só enfiar na banheira, né?", pergunto.

Nada! Até para colocar na água tem toda uma técnica de posição, o melhor jeito de segurar... a cabecinha primeiro, a higiene antes de entrar na água. Eu não fazia ideia de que tinha que limpar o bumbum da criança antes de colocá-la na banheira.

Faço parte de muitos grupos de discussão sobre maternidade. Dali, tiro muitas ideias para escrever reportagens sobre esse universo. É impressionante como as mulheres falam dessa falta de orientação. São dicas tão valiosas, e a princípio simples de se seguir. Eu mesma me sentiria superperdida. Imagine as mães solo ou aquelas que não têm uma rede de apoio. Não consegui, por exemplo, segurar o boneco e a sonda para relactação ao mesmo tempo. Precisaria de alguém com certeza. Também tirei nota baixa no quesito banho.

Claro que, no dia a dia, a mãe pega o jeito, mas dicas como as que a Luciana me deu podem ser cruciais. Algumas maternidades até promovem oficinas como essa, mas me parece que deveria acontecer em todas.

Lá no Frei Caneca vai rolar ainda um workshop de shantala -- uma técnica de massagem no bebê e que ajuda, entre outras coisas, a aliviar cólicas -- e outro de preparação para o parto e cuidados com o corpo no pós-parto. Tudo de graça.

Os bebês reborn ficam ali para exposição mesmo. Tem até uma dupla de gêmeas.

"Alguma delas tem dente?", perguntou um senhor quando eu já estava de saída.

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