Torquatto relembra fuga de global, novelas e como fez do batom Snob um hit
Quando era criança, Fernando Torquatto queria ser artista. "Gostava dessa coisa de cantar, atuar, mas era muito tímido para isso", fala. Encontrou uma forma de expressar sua criatividade na maquiagem. "Foi um jeito de mostrar a minha sensibilidade, criar uma fantasia que existia dentro da minha cabeça". Caracterizador da TV Globo, o maquiador tem um pezinho no pop das novelas e outro nos looks conceituais da passarela. "Não sou o cara da moda, mas também não sou o cara da televisão. Era um híbrido", diz o artista a Universa. Ele lança nesta quinta-feira (9), em São Paulo, o livro "Torquatto", para celebrar seus 25 anos de carreira como maquiador e fotógrafo.
A fotografia e a maquiagem surgiram na vida de Fernando Torquatto dentro de casa. "Meu pai era fotógrafo e minha mãe era bastante vaidosa, amava moda", conta. As primeiras "clientes" do artista foram a mãe e as colegas de faculdade, onde cursava Artes Visuais. Em 1994, surgiu um convite para ser modelo e maquiar as atrizes de uma propaganda. Não parou mais. "Mas me senti profissional mesmo quando assinei a beleza do desfile da marca Arranha-Gato, em 1995", fala.
Há 15 anos, Torquatto deu o passo que o faria ditar a beleza que as brasileiras usam para ir trabalhar ou ir ao cinema: ele se tornou caracterizador de novela da Globo. "É fascinante, poderoso demais falar com tantas pessoas." Foi ele quem criou o pixie cut de Giovanna Antonelli em "Da Cor do Pecado" (2004) e fez o estoque de batom Snob da M.A.C acabar quando colocou o lilás na boca de Alinne Moraes em "Viver a Vida" (2009). Para ele, o visual é uma forma de imprimir a dramaturgia de personagens de TV. "A maquiagem é boa porque consegue contar uma boa história".
Desencontros com Xuxa
"A Xuxa foi a maior frustração da minha carreira no início, porque a gente não se encontrava. Em 1997, me falaram que eu iria maquiá-la para uma capa de revista. Fiquei deslumbrado, porque estava no começo da minha carreira. Arrumei todo o meu material, comprei tudo novo, porque eu ia maquiar a Rainha dos Baixinhos. Quando estava deixando a minha mesa pronta, vi que tinha outro maquiador na locação. Descobri que havia tido um engano e que eu não a maquiaria naquele dia. Fui fechando tudo devagarinho. Tinha levado uma maleta da marca com quem eu trabalhava na época e deixei com a equipe. Pedi para o produtor entregar a maleta para ela. No caminho, dentro do táxi, eu fui chorando. Estava bastante chateado. Quando cheguei e fui ouvir as mensagens da secretária eletrônica, eu ouvi a voz da Xuxa. Ela ligou para agradecer o presente e disse que um dia a gente ia se encontrar. Dois anos depois, eu fui maquiá-la para um desfile, ela chegou já pronta. Foi outra decepção, parecia que nunca teria a honra de prepará-la. Até que, finalmente, em um comercial da Monange, me chamaram para maquiá-la e deu tudo certo. Ela me abraçou e disse: 'Bem-vindo à minha vida'".
Caracterizador da Globo
"Primeiro fiz abertura de novela, depois eu trabalhei na maquiagem de 'Os Normais'. Em 2004, fui convidado para fazer a caracterização de Tais Araujo em 'Da Cor do Pecado'. Como era a primeira protagonista negra da Globo, a figurinista achou que eu teria um olhar diferenciado para fazer uma pele mais real. Falei que ia fazer apenas uma novela, mas acabei amando. Já fiz 15. É um trabalho fascinante, porque é como um quebra-cabeças. Tenho que fazer vários personagens, então não podia pensar em apenas uma peça, mas em todas que estão em volta. E a maquiagem conta uma história daquela personagem."
Transformação mais marcante: Giovanna Antonelli em "Da Cor do Pecado"
"Quando fiz a caracterização da Giovanna Antonelli, ela estava vindo da Jade, de 'O Clone', com aquele cabelo comprido. Para fazer bem o meu trabalho, eu tinha que 'matar' a Jade, então fiz um corte bem curtinho, com a parte de trás espetada. Foi uma ousadia, mas que fez muito sucesso na época."
"Fugi de Aracy Balabanian"
"Foi a primeira pessoa que me deixou muito impactado. Quando eu encontrei a Aracy Balabanian, eu fugi dela. Minha mãe a adorava e eu não soube como me comportaria perto dela. Até mandei um anel de presente pedindo desculpas. Outra mulher que maquiei e fez eu perceber que estava em outro patamar foi a Fernanda Montenegro, que caracterizei para 'Belissíma' (2005)."
Marina Ruy Barbosa
"Tinha feito uma sessão de fotos com Marina Ruy Barbosa, Tony Ramos e Claudia Abreu para uma revista semanal. No fim, vi a Marina olhando fascinada para as maquiagens e decidi fazer uma brincadeira. Na época, quis fazer uma pintura. A minha ideia era reproduzir uma mini-Venus. Hoje um visual tão carregado seria complicado. Essa maquiagem não tinha o peso de antecipação do amadurecimento como mulher. Acho que faria a mesma coisa hoje, mas talvez eu teria que explicar mais. Eu sentia a Marina já sendo quem ela é atualmente. A make não foi para a revista, foi para eu guardar. Eu não me arriscaria a colocar uma foto dessa nas bancas."
"Bombando" o Snob
"Eu adoro fazer novela, porque posso me comunicar com milhões de pessoas. É poderoso demais. Um caso muito emblemático foi quando coloquei o batom Snob, da M.A.C., na Alinne Moraes em 'Viver a Vida', em 2009. Ela era uma ex-modelo, fazia sentido usar uma cor que é um clássico, mas bem esquisita. Foi um sucesso. A Fabiana Gomes, maquiadora da marca, comentou em um evento que eles foram surpreendidos porque o batom estava saindo de linha e tiveram de mandar fazer mais unidades. Toda brasileira que chegava a Miami ou Nova York queria o Snob. Quando ela comentou isso, eu estava presente e tive de levantar a mão e dizer que havia sido o culpado."
Personagem favorita: Maysa (2009)
"O trabalho foi um luxo. Foi a primeira vez que tive que reproduzir o rosto de outra pessoa. Durante dez anos, eu tive uma coluna em que transformava os famosos em outras pessoas. Quando pude fazer isso na TV, foi incrível. Participei até da escolha da atriz, Larissa Maciel. E eu só cuidava da Maysa. Era como se eu fosse o maquiador dela, que era uma artista que eu amo."
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