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Desemprego após a maternidade leva mulheres a abrirem o próprio negócio

Segundo levantamento da Rede Mulher Empreendedora (RME), revelou que 75% dos empreendimentos criados por mulheres surgiram devido à maternidade - iStock Images
Segundo levantamento da Rede Mulher Empreendedora (RME), revelou que 75% dos empreendimentos criados por mulheres surgiram devido à maternidade Imagem: iStock Images

Natália Eiras

Da Universa

14/05/2019 04h00

A publicitária Cristiane França, 41, viu sua carreira ganhar novos rumos quando engravidou de Alice, 4. "Meu chefe começou a tirar minhas funções, dizendo que eu podia ter uma complicação a qualquer momento e, com isso, eles ficariam descobertos. Passei o último trimestre de gravidez praticamente sem nada para fazer no trabalho", fala à Universa. "Na volta da licença-maternidade, me demitiram". Cristiane ainda tentou voltar ao mercado de trabalho, mas não conseguiu emprego. Para ganhar dinheiro e dar conta dos cuidados com a filha, Cristiane começou a trabalhar por conta própria. "Criei minha mini-consultoria em marketing. Virei 'empreendedora' por falta de opção."

Casos como o de Cristiane não são incomuns. De acordo com um estudo realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), 48% das mulheres que têm filhos perdem o emprego em até dois anos depois da licença-maternidade. E, segundo um levantamento da Rede Mulher Empreendedora (RME), 75% dos empreendimentos criados por mulheres surgiram devido à maternidade.

"Fiz milhares de entrevistas e testes e nunca me chamavam. Perguntavam se eu pensava em engravidar novamente. Era muito assédio. Então comecei a me virar enquanto tentava uma vaga fixa", diz Cristiane. "Hoje em dia, consigo ganhar dinheiro com o meu próprio trabalho".

A consultora de Recursos Humanos e co-fundadora da Cicclos Renata Aranega diz que ainda há muito preconceito entre recrutadores antiquados. "Eles acham que a mulher não vai conseguir se dedicar à empresa, que ela não vai dar conta de todas as atividades por ter uma criança pequena em casa", diz a especialista. "Eles preferem contratar pessoas que têm mais disponibilidade, porque sabem que a mulher vai ter mais dificuldades para fazer hora extra, por exemplo."

Havia vaga, mas meu filho precisava de mim

Foi essa pressão em bater cartão e ficar longas jornadas no escritório que afastou a administradora Flavia Gusmão Pacheco, 44, de São Paulo (SP), de grandes empresas. "Precisei deixar um cargo em uma corporação em 2014 porque eu trabalhava 40 horas por semana e meu filho mais velho estava tendo problemas de saúde". Mãe também de uma menina de sete anos, ela ficou um ano e meio fora do mercado.

"Recebi convites de outras grandes empresas, mas preferi ficar em uma vaga em que trabalhava 25 horas por semana. Foi perfeito." Quando achou que estava com a vida dentro "dos trilhos", voltou a exercer funções em tempo integral. "Ficou tudo um caos. Percebi, então, que precisava ter horários mais flexíveis".

Por causa de sua experiência, Flavia criou a plataforma Be Flexy, com vagas de emprego com jornadas flexíveis, que teve a ajuda da aceleradora B2 Mammy, focada em empreendimentos feitos por mães. "Digo que não tenho mais uma vida profissional nem uma vida pessoal. Tenho uma vida. Consegui integrar essas duas partes de uma forma que consigo priorizar o que for mais urgente no momento."

A tendência das vagas flexíveis

Segundo Flavia, o mercado ainda precisa "comer bastante arroz e feijão" para conseguir receber mães de braços abertos. "Temos que amadurecer em relação a isso. E vaga flexível não quer dizer que a pessoa vai trabalhar menos, mas que ela terá mais controle de seu tempo."

Renata Aranega acredita que horários mais flexíveis são uma tendência para o mercado de trabalho. "As empresas mais antenadas já estão dando essa alternativa para mulheres que acabaram de se tornar mães. São projetos para conseguir manter essa mulher dentro da empresa, porque ela, como mãe, vai ter uma perspectiva que pode ser muito útil para a corporação", diz a especialista.

Ter uma mulher com filhos pequenos no escritório pode tornar o ambiente mais diverso. "E sabemos que diversidade resulta em alta performance." É o que mostra um levantamento da consultoria empresarial McKinsey, que dá conta que a diversidade de gênero representa um possível crescimento de 21% na receita. "Quanto mais pessoas diferentes, mais soluções inovadoras surgem", afirma Renata.

Enquanto o mercado de trabalho não abre as portas para essas mães, mulheres como Cristiane precisam "se virar". "Tenho medo de engravidar novamente e ter que começar tudo do zero", fala a publicitária. "Atualmente todas minhas clientes também são mulheres --não são mães, mas entendem que eu tenho que ter tempo com a minha filha."