"Sou muito exibida", diz Monja Coen, que lança sétimo livro
Monja Coen lança na semana que vem seu sétimo livro. "Aprenda a viver o agora" é uma espécie de autoajuda para estressados. "Por que se irritar no trânsito se dá para admirar a cidade?", ela pergunta. E responde.
Nesta entrevista, a líder budista de quase 73 anos, que dá palestras e cursos quatro vezes por semana, pede para ser tratada por você, relembra o casamento aos 14 anos, a tentativa de suicídio e a prisão por tráfico de LSD aos 20 anos --esta passagem, a que definiu seu caminho pela religião.
Paulistana, de nascimento Claudia Dias Batista de Souza, e jornalista, ela critica Jair Bolsonaro, fala da experiência de ter meditado com Lula na prisão e dá dicas de como aprender, afinal, a viver o agora.
Endividada, com dor de cotovelo e odiando o trabalho --essa é uma realidade para muitas mulheres. Como aprender a viver o agora se o agora é esse horror?
Antes de tudo, pense: estou viva e, por isso, tenho problemas. Se tem dívidas, peça ajuda a alguém para quitá-las e, depois, faça um curso de finanças para evitar que isso volte a acontecer. Sobre a dor de cotovelo, deseje felicidade. A fila anda, não chore pelo leite derramado. Não gosta do trabalho? Faça do seu local de trabalho o melhor do mundo, pois é onde você está. Lembre que tem um monte de gente desempregada no Brasil. Se realmente não se adaptar, prepare-se para procurar um emprego melhor ou até mudar de carreira.
Quais outros conselhos considera importantes no livro?
Com esse livro, quero ensinar que 10 minutos por dia podem modificar a sua vida num curto tempo. Se você está no trânsito, por exemplo, em vez de ficar bravo e buzinar, sugiro que fique em silêncio, olhe a cidade e reflita como pode facilitar a sua vida sem perturbar a dos outros. Outros conselhos: está com insônia? Levanta, vai fazer outra coisa. Está difícil fazer a dieta? Quem nasceu gordinho não vai ficar magrinho, então cuide de você, de uma maneira que achar adequada, e vá viver. Faça tudo com atenção para transformar cada momento num instante zen e, assim, ficar menos ansiosa: vai ao supermercado? Olhe de onde vêm os produtos; vai escovar os dentes? Cuidado para não machucar sua gengiva.
Como se transformou numa líder religiosa tão pop?
Como diz minha irmã, sou muito exibida. Me tornei uma figura popular quando o marido da minha neta passou a publicar vídeos meus de meditação e palestras no YouTube. Do nada, lá em 2014, o canal começou a bombar e, hoje, tem mais de 1 milhão de seguidores. Além disso, minha ordem religiosa, a japonesa Soto Shu, me obriga a ser careca --o que significa renúncia ao apego a bens materiais -- e isso faz com que a minha imagem seja exótica.
O que faz com o dinheiro que ganha da publicação de livros, de palestras e cursos?
Parte do dinheiro doo para um mosteiro que está sendo construído no Rio Grande do Sul por discípulos meus. Outra parte estou economizando para para construir nosso próprio espaço em São Paulo. Quero que ele fique pronto antes de eu morrer. As palestras e a venda dos meus livros bancam o aluguel da casa onde funciona o mosteiro atual, água, luz e manutenção. Moro nesta casa com outras monges e o dinheiro também paga, por exemplo, nossa alimentação. As pessoas acham que monge não precisa de dinheiro, que vive de brisa.
Qual é sua opinião sobre o presidente Jair Bolsonaro?
Bolsonaro, é difícil ser presidente de um país, né? Ainda mais você, que foi só deputado. É um pulo um pouco grande. Não concordo com a liberação das armas e com tirar verba da Educação. Ele fala coisas inapropriadas para o cargo que exerce, depois desdiz, mas o estrago já está feito. Ele ainda está no processo de aprendizado, espero que aprenda.
Você foi até Curitiba meditar com Lula no ano passado. Como foi a experiência?
Ele me deu um abraço. Eu não o conhecia. Conversamos sobre nossos bisnetos e eu o ensinei a meditar. Pedi que ele colocasse a mão direita embaixo da esquerda, que é a posição de meditação. Ele brincou: "Mas a esquerda não tem um dedo, tudo bem?". Lula me contou que acorda, toma remédio para tireoide, faz esteira, toma café da manhã e estuda. Sugeri que ele inserisse a meditação na rotina antes do café da manhã. Ele gostou. Queria muito saber se ele está conseguindo. A equipe dele foi que me fez o convite. Paguei a passagem até Curitiba. Lá, eles me buscaram no aeroporto e me levaram para almoçar em um restaurante simples. Já na Polícia Federal, fui levada até a cela por um segurança alto, loiro, bonitão, forte e armado, parecia ator de cinema.
Você também foi presa, mas na juventude. Quais as consequências dessa passagem?
Viajei para a Inglaterra para aprender o idioma, quando tinha 22 anos. Conheci um menino lá e começamos a namorar. Ele era usuário de drogas e tinha um amigo na Suécia que queria comprar LSD. No aeroporto, pediu que eu escondesse a droga dentro da minha bota. Me pegaram. Fiquei presa por seis meses por tráfico. Foi lá que comecei a meditar. Não tinha o que fazer, então passava o dia fazendo "ommmmm". Na prisão, convivi com mulheres que haviam sofrido muito; a maioria tinha as veias dos braços arrebentadas de tanta picada de heroína. Havia uma que não tinha as pernas porque tinha sido punida por traficantes. Com a meditação, fugia um pouco desse sofrimento.
Quando foi solta, qual foi a primeira coisa que fez?
Voltei para o Brasil para ficar com a minha filha, que na época tinha cinco anos, e pedi demissão do jornal onde trabalhava (ela é jornalista). Eu entrava na redação às 13h e saía três, quatro da manhã. Não podia mais desperdiçar tempo com minha filha, eu já tinha me ausentado demais. Para me divertir, saía com meus primos [Sergio Dias e Arnaldo Batista, dos Mutantes], que, um dia, me levaram a um show do Alice Cooper. No evento, conheci meu segundo marido, com quem fiquei casada por 12 anos.
Você teve dois casamentos. A opção pela religião teve a ver com tristezas amorosas?
Também; mas eu diria que foi, principalmente, o fato de ter sido presa injustamente. Meu primeiro casamento foi muito cedo. Eu tinha 14 anos. Minha mãe era maravilhosamente controladora e repressiva. Ela não me deixava namorar. Mas um menino --que virou depois meu marido -- entrava no meu quarto escondido, pela janela. Meu pai não me obrigou a casar, mas eu casei porque queria ser chamada de "senhora" e achava que casamento era ascensão social. Mas esse marido me abandonou quando eu estava grávida. Voltei a morar com a minha família, e meu pai me aconselhava a não contar para ninguém que eu já tinha sido casada e que era mãe. Ele dizia que os homens se aproveitariam de mim. A vida andou e me casei de novo. Ficamos juntos por 12 anos. Esse relacionamento acabou de forma mais gentil; já não nos gostávamos mais.
Você já revelou ter tido depressão e tentado o suicídio, também por volta dos 20 e poucos. Como saiu desse poço?
Fiz terapia e fui medicada por anos. Quando tentei me matar, pensei que a vida não tinha solução. Namorava um alcoólatra e a convivência com ele era muito difícil. Na época, minha filha tinha dois anos. Ao acordar da tentativa de suicídio, pensei: "Nem para me matar eu sirvo". Mas logo lembrei dela. Naquele momento ficou claro que eu não podia abandoná-la.
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