Síndrome da mãe impostora: livre-se da culpa e curta seu filho (e a vida)
A chamada "síndrome do impostor" é uma crença limitante que pode afetar qualquer um de nós, causando problemas em diversos aspectos da vida. Quem sofre desse mal costuma acreditar que não é capaz de desempenhar determinadas tarefas, que não pertence a determinado lugar ou que, a qualquer momento, os outros vão descobrir que não passa de uma fraude. É uma condição mais fácil de identificar nos ambientes profissionais, mas é comum se manifestar de uma maneira bastante dolorosa nas mães.
Muitas, tomadas pela culpa e pela ansiedade por acharem que estão bem longe do ideal de mãe, acabam se tornando reféns da "síndrome da impostora materna": por mais que façam, nunca se julgam boas o suficiente. Se sentem em dívida com os filhos, com o parceiro, com a sociedade, consigo mesmas. E, nessa espiral de penitência, acabam não exercendo a maternidade com toda a plenitude de que são capazes.
Para Carla Poppa, doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade de São Paulo), a culpa que algumas mães carregam é despertada pelos valores sociais que são associados à maternidade. "Esses valores contaminam com a ideia de que a maternidade é o que vai dar sentido à sua vida. Ou, ainda, com a ideia equivocada de que toda mulher nasceu para ser mãe e que se realiza nesse papel. Se a mulher não consegue questionar de maneira crítica essas ideias, sempre que sentir vontade de investir sua energia em uma necessidade pessoal, é possível que essas crenças invadam sua experiência e que o sentimento de culpa seja despertado", afirma.
Mãe não precisa estar presente o tempo todo
O sentimento de culpa também pode se tornar mais frequente dependendo da concepção pessoal que cada mulher tem sobre cuidados e educação dos filhos. Para algumas, isso significa estar sempre presente e disponível para as necessidades da criança. No entanto, o desenvolvimento emocional da criança depende do vínculo de afeto que é construído principalmente nos momentos de tranquilidade.
"Por isso, a ideia de que a mãe precisa estar sempre presente para desempenhar essas tarefas pode provocar um sentimento de culpa desproporcional à necessidade dos filhos. Nesses casos, questionar a própria concepção de cuidado também pode ser útil", diz Carla, que atua como psicoterapeuta de crianças, adolescentes e adultos e acaba de lançar o livro "O Suporte para o Contato - Gestalt e Infância" (Ed. Summus).
Insegurança que precisa ser combatida
Já a psicóloga Sandra Monice, de Santo André (SP), afirma que a síndrome da impostora materna é uma grande armadilha que, caso não seja combatida, traz inúmeros prejuízos. "A necessidade de sentir que está no controle das situações, o receio constante de errar, a insegurança cotidiana por não sentir que está adequada ao modelo social da maternidade ou a demanda por corresponder ao que familiares e parceiro esperam desse papel, além da culpa por trabalhar fora e precisar se desdobrar para ter algum tempo de qualidade com os filhos, são componentes que podem afetar o equilíbrio emocional da mais forte das mulheres", descreve.
O efeito rebote é a consequência mais nefasta. Em vez de exercer a maternidade com segurança e confiança, as mães muito perfeccionistas e exigentes consigo mesmas acabam afetando a relação com os filhos. "A mulher que sofre dessa busca pela perfeição tende a projetar essa exigência nos filhos e isso, em muitos casos, afeta a espontaneidade desses relacionamentos e o desenvolvimento das crianças", fala Sandra. A criança passa a tentar agradar a mãe e, para corresponder às expectativas dela, deixa o contato com as próprias sensações em segundo plano.
Não tente controlar tudo
Na opinião da psicóloga Julia Bittencourt, do Rio de Janeiro (RJ), especialista em psicologia perinatal e parentalidade, a preocupação para que dê tudo certo prejudica justamente a parte mais valiosa da maternidade. "Ao se cobrarem demais e quererem controlar tudo, o que é impossível, essas mães acabam deixando de lado as brincadeiras, a diversão e os momentos mais leves com o filho", diz.
Quando há mais de um filho, a atenção precisa se multiplicar. "Cabe à mãe entender que cada criança é de um jeito e que é necessário ser versátil com cada um dos filhos. Não se deve buscar uma criação igual para todos, é superimportante respeitar a diversidade e a pluralidade. Ao dar espaço para essa interação, as relações tornam-se muito mais espontâneas do que aquelas em que tudo é pré-definido e perfeito aos critérios maternos", comenta a psicóloga Aline Saramago, do Rio de Janeiro (RJ).
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