"Navalha no patriarcado": salão para lésbicas oferece cortes diferentões
"Passa a navalha no heteropatriarcado. Seu corte, suas regras". É assim a descrição da página Sapanavalha, criada e cuidada pela cabeleireira e atriz Julia Navalha, de 28 anos. Entre sua clientela, atendida em um endereço em meio a um cartão postal do Rio de Janeiro, uma casinha na escadaria Selarón, na Lapa, nada de fotos de atrizes de novela como referência para corte. A ideia de Julia, que é lésbica e militante LGBT, é que os cabelos sejam únicos e livres.
Natural de Florianópolis e vivendo no Rio desde 2016, Julia já cortava o próprio cabelo e o de algumas amigas há anos quando resolveu fazer do hobbie um ofício.
"Minhas amigas gostavam e pediam para eu cortar. Um dia, no bar, uma amiga cismou que eu tinha que fazer uma página no Instagram, para divulgar os cortes. Pediu pra eu pensar em um nome. Eu falei "Ah, sou sapatão e corto com navalha, coloca Sapanavalha", lembra ela. Pegou.
Fortaleça a economia Sapatão
Na tarde em que Universa passou com Julia e suas clientes, todas as meninas atendidas, assim como ela, eram lésbicas, o que a profissional afirma ser uma característica majoritária de seu público.
"Muitas mulheres chegam aqui e contam que viram a página no Instagram ou que alguma amiga indicou e que elas vieram mesmo para dar força e visibilidade para o trabalho de uma mana lésbica, querem realmente fortalecer a economia sapatão", conta.
Mas esqueça o esteriótipo que relaciona mulheres gays a cabelos curtos: entre as meninas que cortam o cabelo com ela, os tamanhos e texturas são os mais variados possíveis. Em comum, os cortes costumam ser menos tradicionais, com partes raspadas, desenhos ou desníveis (propositais, claro).
"Faço cortes básicos, corto pontinhas, mas a maior parte das meninas que vêm quer fazer um corte diferente e tem muitas que falam 'quero mudar, mas não sei o que quero, faz o que você quiser'. O que eu adoro", conta ela, que tem predileção por cortes assimétricos em seu "sapasalão", como chama o espaço, onde o clima é muito caseiro e o papo acolhedor.
"Eu conheço mulheres e histórias incríveis aqui, a troca é demais. Às vezes dá vontade de colocar uma câmera escondida porque é tanta gente bacana que vem e transformar o cabelo da galera é muito legal", conta.
O trabalho dela é composto em grande parte por experimentação, que funciona, basicamente, assim: ela vai cortando e descobrindo, no caminho e na conversa com a dona dos cabelos, onde o corte vai parar. O serviço, sempre feito com o cabelo seco, custa R$ 50.
"Eu sei que o tipo de corte que eu faço custa, aqui no Sudeste, nas capitais, entre R$ 90 e R$ 180, mas acho que esse preço excluiria boa parte das pessoas com quem eu quero trabalhar. Gosto que haja diversidade e que seja um preço que perfis diferentes podem pagar", afirma.
'Sapatinder'
Julia conta que o público lésbico costuma se empolgar com mais que os seus dotes capilares em sua página do Instagram.
"Elas fazem o maior Tinder na página. Eu posto foto ou vídeo dos cortes e elas me chamam inbox e falam 'to apaixonada, que mulher é essa', e flertam por lá", ri ela. A interação até rendeu namoro entre uma amiga de Julia e uma cliente "Eu morava com essa amiga, ela me viu cortando cabelo de uma cliente, eu senti um clima no ar e pronto: estão juntas".
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