Marcas de moda sustentáveis: como saber se o discurso delas é verdadeiro?
O caso da Loja Três acendeu um debate importante: em um novo contexto em que dizer-se sustentável (ambiental e socialmente) é uma estratégia de marketing que nem sempre encontra respaldo na estrutura e no funcionamento das empresas, como saber se estamos apoiando negócios que, de fato, fazem a diferença?
Para tentar responder a essa questão, chamamos a estilista vegana Renata Buzzo, a fundadora do portal Modefica Marina Colerato e a idealizadora do projeto Uma Vida Sem Lixo Cristal Muniz para esboçar uma estratégia e não cair em armadilhas. A lista que você lê abaixo está longe de ser infalível, mas as dicas são preciosas e deixam claro como todo cuidado é pouco:
Duvide de quem se diz 100% sustentável
Renata Buzzo explica que existem várias maneiras de ser sustentável, mas nenhuma delas garante impacto zero no meio ambiente. "Tudo deixa uma pegada de resíduo. Se a marca se diz sustentável, precisa saber explicar em que processos tem iniciativas para reduzir impacto. Por exemplo, não é porque se diz sustentável que é vegana. Assim como uma marca que trabalha muito bem a responsabilidade social com seus colaboradores pode usar ingredientes poluentes e nocivos ao meio ambiente. Muitas marcas deixam sua comunicação bem genérica propositalmente para que passem a impressão de ser mais responsáveis do que são."
Desconfie do que está escrito na etiqueta
Não acredite de imediato no que uma marca diz a respeito de seus processos. "Palavras como 'zero lixo', 'matéria-prima sustentável', 'animal-friendly', podem ser facilmente esvaziadas de seus sentidos. Cobre justificativas a respeito daquilo que a marca usa como argumento para te vender um produto 'sustentável'. Faça perguntas como: 'O que é essa matéria-prima sustentável que vocês alegam usar?', 'Por que esse produto em questão pode ser considerado biodegradável?'", ensina Cristal Muniz.
Descubra os pontos negativos
Cristal Muniz manda a real: "Toda marca vai ter um furo. Deixar claro no que está falhando em termos de sustentabilidade faz parte do compromisso de quem realmente está engajado. Precisamos estar sempre atentos à falta de transparência a respeito daquilo que ainda não foi corrigido ou está em processo de encontrar uma solução melhor. Esse tipo de postura é muito mais verdadeiro e importante do que quem tem a iniciativa de, vez ou outra, fazer uma coleção com tamanhos inclusivos ou com tecidos eco-friendly."
Corra do "compre, compre, compre"
Se toda hora a marca enche sua caixa de e-mails com ofertas e lançamentos, desconfie. "É importante entender qual é a mentalidade da empresa. Se ela insiste demais no 'compre, compre, compre', isso é completamente incompatível com a ideia de sustentabilidade. Claro que as marcas precisam vender seus produtos, mas o que elas estão fazendo em termos de mudança de modelo de negócio? Qual é sua atuação no combate às estruturas de desigualdade? É ir além da lógica do vender a qualquer custo e passar a usar suas plataformas para construir uma comunidade engajada", diz Marina Colerato.
Preste atenção aos valores da marca
Veja se ela se engaja nas causas que diz defender. De acordo com Marina Colerato, quem de fato se preocupa com essas problemáticas usa a sua plataforma não só para vender produtos, mas também para colocar em pauta assuntos urgentes: "Se tem uma legislação acontecendo, por exemplo, que coloca em xeque o acesso à educação das minorias sociais, a marca que tem discurso de sustentabilidade social tem a oportunidade de usar sua comunicação para agir contra isso. É checar se ela está propondo uma conversa sincera e aberta."
Não é comprando mais que se muda algo
Não é porque a roupa é sustentável que é legal comprar demais. "É preciso pensar no ciclo de vida dessa peça, na verdadeira utilidade dela e em como será feito o seu descarte. Dependendo do caso, produtos que são sustentáveis acabam trazendo mais impacto para o ambiente, por serem mal utilizados, do que produtos não-sustentáveis bem utilizados. O nosso uso e a maneira como consumimos o nosso produto também faz parte desse processo", afirma Cristal Muniz.
Ainda tem dúvidas? Pergunte
A dica é de Marina Colerato: "Se você chega atacando uma marca nos comentários de algum post, muito raramente ela vai responder. Mande um inbox ou e-mail para tirar suas dúvidas e descubra até onde vai o engajamento da empresa".
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