Você tem mania de não terminar o que começa? Veja passos para reverter isso
Você provavelmente conhece alguém com essas características. Ou, ainda, talvez se reconheça nesse padrão de comportamento: gente com a mania maléfica (para si mesma e para os outros) de simplesmente não terminar o que começa ou procrastinar ao máximo encerrar algo. Por mais paradoxal que possa parecer, muitas dessas pessoas ficam entusiasmadíssimas com projetos novos, mas assim que engatam a primeira no trabalho parecem perder o encantamento. É uma conduta muitas vezes inconsciente. E, quando consciente, provoca um enorme sofrimento, pois nem sempre quem age assim consegue mudar. É difícil, mas dá, sim, para quebrar esse paradigma.
Para começar o processo de mudança, o primeiro passo é buscar entender o que há por trás desse tipo de comportamento: perfeccionismo, medo de fracassar, hábito de procrastinar, síndrome do impostor... ou tudo isso junto? Para Silvia Donati, coach pessoal e profissional de São Paulo (SP), pode ser tudo isso e mais o prazer da conquista! "É como se a pessoa vivesse um um estado de paixão que gera um pico de euforia na conquista. E aí, quando obtém o que deseja, o interesse vai baixando, baixando, até se perder praticamente por completo", compara.
A pedagoga e especialista em psicologia positiva Gabriela Sayago, pós-graduada em Neuropedagogia pelo Instituto Saber, lembra que a novidade é uma necessidade humana. O novo nos estimula, gera ansiedade de forma positiva, e nos leva a fazer planos e a vislumbrar possibilidades. Porém, assim que algo deixa de ser novo e conforme as dificuldades vão aparecendo no meio do caminho, o estímulo inicial costuma cair significativamente. "Pela minha prática de consultório, o fator mais comum para o desânimo no decorrer de um projeto está diretamente relacionado ao tédio, o espaço entre a novidade, que produz muita empolgação, e o lançamento, que costuma trazer mais uma rodada de empolgação", afirma.
O tédio ao qual Gabriela se refere pode estar relacionado à falta de desafio, limitações relacionadas à autonomia e à criatividade e, sobretudo, o medo do julgamento alheio -
o perfeccionismo, o receio de fracassar e a síndrome do impostor, problemas comumente associados a atrasos e procrastinações, de certa forma estão todos relacionados ao receio do que os outros vão pensar.
De acordo com a consultora Madalena Feliciano, diretora de projetos da Outliers Careers, de São Paulo (SP), e presidente do IPC (Instituto Profissional de Coaching), é normal ficarmos extremamente animados com novos projetos, já que com eles vêm as novas perspectivas, mas para levá-los adiante é preciso esforço e dedicação. "Ser perfeccionista é tido como uma qualidade em muitos pontos de vista, mas pode, sim, ser um problema na hora de terminar um projeto, pois a pessoa não o conclui até estar satisfeita e isso é realmente difícil. Além disso, muitos têm o hábito de procrastinar, afinal, é algo que está intrínseco na sociedade atual", pondera. Para Madalena, o medo de fracassar também é muito comum, principalmente no começo da carreira profissional, pois muitos jovens sentem que não tem o apoio ou base necessários para continuar com o projeto.
Já Luiz Francisco Jr., psicólogo, life coach e docente dos cursos de Administração de Empresas e Direito da FADISP (Faculdade Autônoma de Direito), de São Paulo (SP), avalia que a mania de não terminar o que começa ou adiar o término ao máximo tem a ver com frustração. Ela ocorre quando expectativas, em geral construídas subjetivamente, não são atendidas. Em outras palavras, a pessoa aceita fazer um trabalho, por exemplo, e alimenta fantasias de sucesso ou de satisfação que no percurso não são atendidas. Isso resulta em desinteresse, procrastinação ou falta de qualidade no que é preciso entregar. "Para evitar esse descontentamento, recomendo esclarecer bem os termos da parceria em condições claras e transparentes, deixar um espaço aberto ao diálogo e lidar com prazos bem estabelecidos e com margem para negociação. E é importante evitar atrelar um trabalho ou atividade à realização compensatória para outras frustrações ou experiências, porque isso significa atribuir um peso e uma responsabilidade que tende a prejudicar mais do que ajudar", avisa.
Prejuízos à vida e formas de enfrentar o problema
Segundo Madalena, todos os campos da vida acabem prejudicados com essa postura. "Aquele que não termina ou adia a entrega de seus projetos sempre acaba excluído. A pessoa é prejudicada na vida pessoal, pois os amigos param de procurá-la ao saber que nunca cumpre o planejado. E, na vida profissional, há perda de oportunidades: quem vai contratar alguém que não honra os prazos e ainda pode prejudicar os colegas?", questiona.
Além do mais, na opinião de Gabriela esse padrão de perder o encantamento quando algo deixa de ser novo pode se repetir em diversas outras situações da vida, desde a formação profissional, passando pela área da saúde e até em relacionamentos afetivos.
Mas como mudar esse padrão? Inspire-se nessas dicas:
Faça o que gosta, inicie projetos que lhe interessam de fato, não só sob o ponto de vista financeiro.
Se conheça. O que exatamente está te travando? Com quem pode conversar? O que pode fazer diferente? Avalie: por que você está onde está? Por que iniciou esse projeto? O que a motivou no início? Onde quer chegar?
"Tente perceber a importância do seu trabalho e como ele impacta no andamento da empresa e nas atividades de seus colegas", sugere Madalena.
Aja sempre com sinceridade e objetividade: não inicie projetos que não tem capacidade para terminar.
"Peça ajuda! Se existem mais pessoas trabalhando com você no projeto, não hesite em compartilhar os problemas que encontrou no caminho", diz Madalena.
Separe o que precisa fazer em metas menores. "Ver a 'linha de chegada' nos motiva, então crie pequenos projetos dentro dos grandes projetos", orienta Gabriela.
"Comprometa-se com você e reconheça a importância que uma atividade, um curso, um trabalho ou uma pessoa tem em sua vida e cuide disso. Quando nos comprometemos com algo, significa que missão dada é missão cumprida", conta Silvia.
"Não se esqueça do mais importante: a motivação vem de dentro, ninguém de fora resolverá seus problemas e praticamente todos os projetos da vida passam pela fase mais estável. Pular de um para outro não é a solução, saber lidar com 'o meio', sim", fala Gabriela.
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