Empreender depois dos 50 anos é chance de recomeçar a vida profissional
A população brasileira está envelhecendo. De acordo com projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população na faixa etária entre 50 e 54 anos que em 2018 era formada por 12,3 milhões de brasileiros vai chegar a 15 milhões já em 2030. Por outro lado, o número de jovens vai cair. A expectativa é que já em 2039, o país tenha mais idosos do que crianças.
Diferentemente do que acontecia há pouco mais de uma década, em que a população com mais de 50 anos chegava a essa idade com a expectativa de se aposentar e não ter mais ocupação profissional, hoje esse público é mais ativo e demonstra a vontade de continuar no mercado de trabalho. Uma pesquisa realizada pela MaturiJobs e pela Noz Pesquisa e Inteligência, mostrou que 38% da população com mais de 50 anos está sem ocupação no momento. Desse montante, a maioria projeta para o futuro arrumar um emprego, trabalhar como autônomo, freelancer ou consultor ou ainda empreender. Os dados foram divulgados no início do mês de maio.
Começando de novo
Mas conseguir um novo emprego após os 50 anos nem sempre é fácil. A pesquisa da MaturiJobs mostrou que 48% dos idosos já passaram por alguma situação profissional em que foram discriminados por conta da idade. "Temos uma população de 50 mais que é invisível para o mercado de trabalho. Ainda existe preconceito. E é aí que aparece a chance de empreender. É o momento, muitas vezes, de realizar um sonho ou almejar um negócio que antes só existia no papel", conta Mórris Litvak, fundador e CEO da MaturiJobs.
Existem alguns caminhos que podem ser bem interessantes. "Empreender para esse público é diferente. Ele foi educado e acostumado a ter um emprego e não tem o hábito de correr riscos. Então, o ideal é começar com algo que não precise investir muito dinheiro", explica Mórris. Segundo ele, o idoso pode ser um freelancer, trabalhar como autônomo, abrir uma empresa e ainda optar por trabalhar num sistema de economia compartilhada ou colaborativa. Conheça esses caminhos:
- Empreendedor individual - ele pode abrir uma empresa ou uma franquia. Mas precisa levar em conta de que precisará de um certo investimento inicial.
- Autônomo - pode ser um advogado, um arquiteto ou qualquer outra profissão que ele já tenha exercido numa empresa e que agora passe a oferecer por conta própria e sozinha. Ele não depende de uma equipe para fazer esse trabalho e determina o seu próprio horário e carga horária.
- Freelancer - oferecer trabalhos diferentes para quem precisa. Pode ser uma tradução de textos, um serviço de dogwalker, um artesanato, oferecer aulas particulares, ou seja, usar uma habilidade, um hobbie ou um conhecimento para gerar renda.
- Economia compartilhada - é o uso de plataformas onlines para disponibilizar serviços. As mais conhecidas atualmente são as de artesanato, serviço de transporte e de hospedagem.
- Economia colaborativa - são grupos de pessoas que se reúnem para oferecerem juntos um serviço ou uma gama de serviço. É um trabalho em rede, como uma cooperativa ou um coletivo.
Preparação e apoio são fundamentais
Mas como se engajar num mercado que mudou tanto nos últimos anos? É preciso voltar a estudar. Isso mesmo! "Ele precisa de uma orientação para lidar com as mudanças, precisa atualizar-se com novas tecnologias, novas técnicas e comportamentos", diz Mórris, da MaturiJobs, que oferece desde vagas de empregos até cursos e palestras para o público sênior. A procura é tanta que seu banco de dados possui 90 mil inscrições. Para atender essa faixa etária, também oferece a MaturiServices, uma plataforma de serviços em que apenas pessoas com mais de 50 anos podem oferecer seus serviços.
Neste mesmo caminho, foi inaugurada em São Paulo, a Nextt 49+, um hub de inovação especializado nos sêniores. "Esse público tem experiência da carreira, mas ele precisa desenvolver habilidades que não estão ligadas ao empreendedorismo, como liderança, comunicação e aprender a assumir riscos", explica Maurício Turra, um dos fundadores da Nextt 49+. Portanto, contar com essa rede de apoio em que ele possa aprender e ainda desenvolver seu network é fundamental.
Vontade de se manter útil
O lado financeiro ainda é o principal motivo para que essa população continue trabalhando. Mas há outros fatores. "Alguns estudos revelam que manter-se ativo no mercado de trabalho, após a aposentadoria, exerce uma influência positiva na qualidade de vida dos idosos. As motivações determinantes devem-se ao fato de poderem ser reconhecidos pela sociedade, como indivíduos produtivos e ainda atuantes", explica a geriatra Mayra Frutig, da rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo (SP).
Mas depois de tantos anos trabalhando com uma pesada carga horária, a população sênior procura por uma flexibilidade profissional em que possa aliar trabalho com qualidade de vida e prazer no que se faz. "É uma nova fase que permite ao idoso investir seu tempo em projetos prazerosos. Toda a experiência nova gera uma reorganização de neurotransmissores que pode auxiliar nas estratégias de preservação da memória e cognição, caminhando para um envelhecimento saudável", completa a geriatra. Quer mais? Continuar ativo permite a manutenção da independência funcional e do convívio social, fundamentais para combater transtornos de humor e depressão.
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