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Banho proibido, lonjura da cozinha e solidão: como é menstruar em 8 países

Cena do documentário "Absorvendo o Tabu", que fala como a menstruação é tratada na Índia - Divulgação
Cena do documentário "Absorvendo o Tabu", que fala como a menstruação é tratada na Índia Imagem: Divulgação

Camila Brandalise

Da Universa

29/05/2019 04h01

Pode soar estranho às brasileiras que uma mulher seja orientada a não tomar banho durante o período menstrual, mas, na vida das afegãs, a prática é comum: elas acreditam que, ao se banharem enquanto sangram, podem se tornar inférteis.

Em algumas regiões de outros países, como Índia e Nepal, elas são isoladas por serem consideradas impuras. E, mesmo no Brasil, na região do Xingu, a menarca dá início a um ritual de confinamento.

Veja, abaixo, alguns mitos e hábitos envolvendo a menstruação ao redor do mundo:

Afeganistão

Mulheres afegãs não lavam suas vaginas, pois acreditam que isso pode torná-las inférteis. Além disso, uma pesquisa da Unicef feita com garotas entre 12 a 18 anos mostrou que 62% delas usam tiras de roupas no lugar de absorventes porque não têm acesso ao produto: como o assunto é um completo tabu, elas não podem nem pedir aos pais que os comprem.

Somália

Elas não podem rezar nem frequentar mesquitas no período menstrual porque são consideradas sujas. Assim que o sangramento acaba, precisam lavar o cabelo em sinal de limpeza. Segundo as regras do islamismo, a mulher deve estar limpa "dos pés à cabeça" e, até que o cabelo seja lavado, não pode voltar a rezar. O mesmo vale para outros lugares que seguem à risca os preceitos islâmicos.

Uganda

Em algumas tribos, as mulheres menstruadas são afastadas do trabalho nas plantações de amendoim, um dos principais produtos de exportação. A alegação é de que elas podem fazer com que a safra seja fraca.

Brasil

Na aldeia Kamayurá, no Xingu, a menina que menstrua pela primeira vez passa por um ritual de reclusão. Elas ficam em casa pelo tempo determinado pelos pais, que pode durar até um ano, aprendem a cozinhar e a fazer artesanato e não podem cortar o cabelo até o fim do confinamento.

Quênia

Absorventes são artigos de luxo no Quênia. Segundo estudo da consultoria global FSG, especializada em desenvolvimento social, 65% das quenianas não podem pagar por eles. Como alternativa, usam pedaços de roupas, folhas de jornal e espumas de colchão. A dificuldade de acesso atinge, principalmente, as mais jovens: elas perdem, em média, seis semanas de aulas anualmente porque ficam em casa, já que não têm o que usar quando estão menstruadas.

Nepal

Nepalesas menstruadas são levadas para cabanas e ficam isoladas durante o tempo de sangramento. Acredita-se que elas podem trazer desgraça à vida das pessoas ao seu entorno e aos rebanhos. A prática, chamada de Chapaudi, foi banida pela Suprema Corte do Nepal em 2005, mas ainda é seguida por famílias em regiões mais afastadas do país.

Índia

Mulheres não podem entrar na cozinha nem cozinhar, pois, dizem os indianos, o fato de estarem menstruadas pode estragar a comida. 28% das garotas não vão à escola nesse período, segundo a Rutgers, ONG global voltada à saúde sexual e reprodutiva, por não terem absorventes. O assunto é proibido a tal ponto que não se fala sobre ele nem entre mães e filhas, e 45% das jovens acham que o sangramento tem a ver com algum problema de saúde. O tema foi abordado no documentário "Absorvendo o Tabu", premiado com um Oscar em 2019.

Bangladesh

Como na Índia, elas não podem cozinhar. Além disso, panos que foram usados para absorver o sangramento devem ser queimados, pois tem o poder de atrair espíritos malignos, segundo a cultura local.