"Ouvi que meu lugar era na cozinha, e faturo R$ 3 mi ao mês com mecânica"
A empresária Sandra Nalli, fundadora da Escola do Mecânico, com sede em Campinas, no interior paulista, conta que sua aptidão para o universo automotivo começou desde cedo: "Aos 12, aprendi a dirigir com o meu pai. Aos 14, iniciei a minha trajetória profissional como menor aprendiz em uma rede de centros automotivos, passando pelos cargos de vendedora de pneus, peças e serviços; chefe de oficina, até chegar a gerente de negócios do grupo. Percebi que era isso que queria para a minha vida entre os 14 e 18 anos, por amor ao primeiro emprego."
Além de interesse, muita persistência
Sandra diz que foi funcionária por 19 anos e que, apesar de se interessar pelo assunto, teve de ser persistente para seguir carreira nessa área e driblar preconceitos. Na época em que atuava como vendedora, ela soube que havia aberto uma vaga para chefe de oficina, então procurou seu superior para pleitear o cargo. "Foi quando ele disse um 'não' bem sonoro. Então, insisti muito, até que ele propôs um teste com as seguintes missões: aprender mecânica, ganhar a confiança dos mecânicos que seriam os meus liderados e, se não houvesse rejeição por parte dos clientes, eu poderia assumir um cargo por um tempo determinado", relembra.
Após 90 dias, ela assumiu o cargo, mas, com ele, vieram muitos problemas. Ela recorda, por exemplo, que quando foi à matriz da empresa fazer um treinamento de mecânica, entrou na sua sala, que só tinha homens, e logo o instrutor informou que ela estava no lugar errado e queria direcioná-la para o treinamento de assistente administrativo.
"Foram vários episódios. Desde comentários e piadinhas do tipo, 'lugar de mulher é na cozinha', ou 'esse pneu e essa roda são maiores do que você', até situações mais complexas, de clientes se recusarem a me deixar dirigir ou executar um serviço no veículo deles", afirma.
Voluntariado gerou ideia de negócio
Mesmo com os desafios do dia a dia, ela seguiu em frente e, em processo de desenvolvimento para assumir a gerência de uma das lojas da rede em que trabalhava, ingressou na faculdade e cursou administração. Já como gerente, Sandra conta que foi convidada para dar palestras motivacionais na Fundação CASA (Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) e, durante esse voluntariado, percebeu que poderia ensinar mecânica para jovens, com o intuito de contratá-los e ainda preencher as vagas disponíveis em sua unidade.
"Eu precisava contratar mecânicos e tinha dificuldades, foi quando pensei: vou ministrar aulas de mecânica para esses jovens com o objetivo de incluí-los no mercado de trabalho. Aluguei uma sala bem simples e pequena no centro da cidade de Campinas e paguei uma caixa de cerveja para um amigo grafitar na parede 'Escola do Mecânico'. Assim nasceu o projeto", conta.
Sandra explica que, no início, a Escola do Mecânico era só um projeto social, mas, para sua surpresa, muitos interessados começaram a aparecer querendo "comprar cursos". Ela, então, procurou o Sebrae. "Fiz meu primeiro plano de negócios, avaliei o potencial, a viabilidade e identifiquei o valor mínimo que precisava para começar a empreender. Depois, vendi meu carro e fiz um empréstimo de R$ 20 mil com o meu pai para ter capital de giro", explica.
Empresa comprometida com o social
Em 2011, a empresa foi fundada e, em 2016, lançou sua primeira franquia. Sandra diz que, por ter bastante experiência no setor automotivo, percebeu desde o começo que seu negócio já demonstrava ser lucrativo e promissor, e que ao longo de seis anos investiu tudo o que podia na estruturação e expansão dele.
"Atualmente, formamos 14 mil alunos, mas nossa meta para 2019 é formar 27 mil. Temos 22 escolas, mais oito unidades já vendidas em processo de implantação. Ainda neste primeiro semestre chegaremos a 30 unidades em operação e em sete estados diferentes. Quanto ao faturamento, por volta de R$ 3 milhões ao mês, o que corresponde às 22 unidades em operação juntas", informa.
Ela oferece capacitação profissional para as áreas de mecânica automotiva, linha pesada, motocicletas e cursos de gestão para oficinas. Sandra ainda informa que todas as suas unidades geram empregabilidade e doação de bolsas de estudo para jovens de baixa renda e em situação de risco. E ressalta que a razão de sua empresa existir é o "Emprega Mecânico", projeto disseminado em toda a rede e que visa fazer a conexão dos alunos com as vagas de emprego do setor.
"Temos um portal online e aplicativo em que 100% dos alunos e ex-alunos podem incluir o seu currículo e buscar vagas de emprego. Esse projeto é custeado pela nossa empresa e é gratuito para alunos e para empresas do setor de reparação. Somos uma empresa de impacto social, nascemos assim e nossa missão é contribuir na resolução de dois graves problemas do nosso país: a educação e a geração de emprego e renda", conclui.
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