Ela teve salão, faliu e hoje ganha R$ 300 mil com unhas: Não posso reclamar
Moradora de Rocha Miranda, um bairro de classe média baixa da zona Norte do Rio de Janeiro, Ana Paula Villar complementava a renda que ganhava num escritório de contabilidade com serviço de buffet e um trailer, onde vendia hambuguer até às 2h. Às 5h, já estava de pé fazendo massas de salgados. Também vendeu sanduíche e sacolé (suco congelado no saquinho) na praia. "Quem dorme muito vive pouco", justifica ela, hoje com 43 anos.
Depois que teve o segundo filho, mais uma atividade: fazer a unha das vizinhas. Abriu três salões de beleza, mas faliu em um ano.
Ninguém diria que hoje estaria decorando as famosas unhas da cantora Alcione, teria formado cerca de três mil pessoas com seu curso online, está com linha própria de esmalte e embolsa um lucro de R$ 300 mil líquidos ao ano.
Um acaso da vida
De todas as atividades as quais desempenhou para ajudar a sustentar a família, a de manicure foi a única não planejada. Começou assim: uma amiga ajudava a fazer as massas das coxinhas que vendia. Em troca, fez as unhas dela. No dia seguinte, todas as outras amigas bateram na sua porta querendo que ela fizesse também.
O domingo era o único dia de que tinha disponível para atender, e não demorou muito para os fundos de sua casa virarem um pequeno salão. Sem experiência, mas precisando faturar e aproveitando que a oportunidade estava ali na frente, prestava atenção nas unhas decoradas de quem parasse perto e tomava a iniciativa de perguntar como foram feitas. Também colecionava revistas com tutoriais.
"Aos sábados, trabalhava num bufê com a minha irmã em Caxias (Baixada Fluminense), e dormia por lá. Quando chegava em casa, no domingo, as vizinhas já estavam na varanda, com o café comprado e tudo", diz ela, lembrando-se do começo do Salão Paraíso das Unhas, em 2006.
Logo Ana Paula alugou uma casa maior, com garagem, onde atendia mais clientes. Já tinha à época quatro funcionárias.
Cinco anos depois e já bombando no antigo Orkut e no Facebook com as fotos das unhas que fazia, Ana Paula tirou do papel o projeto de uma rede de franquias de salão de beleza. Em 2014, estava com três, em Madureira e em Rocha Miranda. Montou tudo com mobiliário e máquinas de ponta. Sem entender nada de administração, deixava para funcionários o fluxo do caixa. Faliu em um ano, na mesma época em que teve o terceiro filho -- os três têm respectivamente, 24, 16 e 5 anos.
Mudou-se para um apartamento menor, tirou os filhos de bons colégios, cortou gastos. "Não chegamos a passar fome, mas caímos muito de padrão. Meu marido que segurou as pontas".
O filho mais velho largou a faculdade de técnica em informática, se especializou em design e passou a cuidar do marketing da mãe. "Queria que ele fosse médico, acho que porque todo pobre quer filho médico, mas a escolha dele acabou me ajudando". Em pouco tempo, o canal criado pela dupla no Youtube, o "Cola na Villar", estourou. Hoje tem 784,8 mil inscritos. Nele, vídeos com dicas como ter unhas grandes e fortes, além das unhas decoradas que faz.
Em cinco meses de canal, Ana Paula foi chamada para dar entrevista no programa Fátima Bernardes, da TV Globo. As marcas passaram a oferecer parcerias em troca de anúncios no canal. "Algumas acham que a gente só quer ganhar produto. Mas, aos poucos, conquistei meu espaço e comecei a ser respeitada pelo crescimento".
Para entender o poder de seu nome: uma marca de máquinas para unha que vendia 500 peças por ano mais que dobrou o lucro após anunciar em seu canal. "Eles venderam 1200 unidades depois que apareceram".
As unhas de Alcione
Ana Paula falou com a Universa um dia depois de fazer as unhas da cantora Alcione. Escolheu uma base preta com estampa de onça e pedras no meio. Foi a Marrom quem ligou pessoalmente para ela depois de ouvir sobre sua fama, em outubro último. "Nunca tinha usado preto na unha dela":
"Eu estava há dois dias de viajar para Portugal e achei que não ia poder atender ao seu chamado. Mas fui à casa dela. E ela paga. Não tem essa de fazer parceria".
Ana Paula não costuma fazer pé e mão. Ela se concentra no alongamento e na decoração das mãos, que pode levar até quatro horas para fazer, ao custo de pelo menos R$ 150.
Com o sucesso, criou cursos online em que ensina estratégias de vendas e negócios, além de técnicas de manicure. Contabiliza ter formado mais de três mil pessoas. Também realiza oficinas presenciais. "É só chamar", ela diz.
Tem mais: Ana também está com sua própria linha de esmalte, lançada em maio último, com venda em pelo menos oito lojas especializadas e na internet. Terá ainda mais uma linha, de glitter, e a meta é atrelar seu nome a diferentes produtos utilizados neste ramo.
Descartou, por ora, abrir outro salão. Aliás, ela hoje é muito mais empresária que manicure. Viaja, dá palestras, participa de feiras. Trocou Rocha Miranda por uma casa "com promessa de compra" na Taquara, zona Oeste do Rio, em janeiro deste ano.
"Passei o que tinha que passar para ter essa história de sucesso. Não posso reclamar do que conquistei".
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