"Ser lésbica no esporte nunca foi empecilho no meu trabalho", diz Cristiane
Cristiane Rozeira foi o grande destaque do jogo de estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol Feminino no domingo (10). A jogadora, que namora há quatro meses a advogada Ana, diz que ser lésbica nunca foi um empecilho.
"Fora do Brasil nunca sofri preconceito. Aqui, óbvio que existem algumas ofensas, mas diminuiu bastante nos últimos tempos. Eu acho que as pessoas hoje têm um cuidado maior porque dependendo do jeito que você fala ou ofende alguém isso pode gerar um problema muito maior. Acho que as pessoas estão mais espertas nas redes sociais. Não que elas não tenham preconceito. De vez em quando recebo uma gracinha ou outra no meu perfil ou no da minha namorada. Mas a gente sabe lidar muito bem. E ser lésbica no esporte nunca foi um empecilho no meu trabalho. Sempre teve muito respeito", diz, em entrevista ao site "BeRainbow".
Do placar de 3x0 contra as estreantes jamaicanas, a artilheira fez os três gols. Só pela seleção foram mais de 70, além de ser a maior artilheira da história das Olimpíadas. Ainda assim, só agora ela tem se tornado mais conhecida do grande público. "Você sai do Brasil e é um ídolo para aquelas pessoas. É muito louco você não ser um ídolo no seu país", desabafa a jogadora.
Mesmo com todas as atenções voltadas ao esporte no momento, Cris lamenta que o incentivo esteja vindo apenas agora. "Fico muito feliz de ver esse apoio, mas ao mesmo tempo fico triste porque eu estou pegando um momento perto do meu final de carreira. Porque eu tenho 34 anos e é a primeira vez que eu estou vivendo tudo isso. Até o ano passado, por exemplo, eu não tinha patrocínio nenhum", relembra.
A jogadora, que atualmente mora no Brasil depois de uma temporada difícil na China, também relembra o período em que quase desistiu de jogar futebol por conta de uma depressão.
"Em 2016 eu saí da Europa, fui direto para a seleção, fiquei treinando o tempo inteiro. Não fui para casa. Na segunda já voltava a trabalhar de novo. Aí fui para a Olimpíada, foco total. Sofri uma lesão no segundo jogo. Aí trata lesão de madrugada, trata de dia. Fazia fisioterapia em todos os horários possíveis. Aí vou jogar, bato um pênalti e erro. Estádio lotado. As pessoas o tempo inteiro te criticando em redes sociais e você precisa tapar os olhos. E depois disso, que minha cabeça não estava muito legal, eu tive pouco tempo com a minha família e já voltei para a França com uma lesão, sem a medalha. E ainda nesse pouco tempo em casa escutei várias coisas das pessoas na rua. Tem pessoas que não têm sensibilidade com o outro. Eles acham que você errou e fez de propósito porque você quis. Aí juntou tudo", contou, reforçando que hoje entende a importância de falar sobre o período.
"Quando eu falo sobre isso não é para aparecer. Nunca precisei disso. Quem me conhece sabe que eu não sou assim. Mas é importante falar. É importante as pessoas entenderem que, além de atleta, de só jogar futebol, que é o que as pessoas acham, porque esse é o nosso trabalho, existe um outro lado humano."
Segundo ela, apesar do bom momento no futebol feminino, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para que outras meninas consigam o mesmo sucesso que ela e que Marta - seis vezes melhor do mundo.
"Acho que ela conseguiu tudo isso com o trabalho, com o esforço dela. Óbvio que por trás teve ajuda de um grupo todo. Você não consegue fazer as coisas sozinha. Seria interessante que a modalidade tivesse o reconhecimento necessário. Que as atletas tivessem o reconhecimento que merecem. Mas a gente sabe que o país não valoriza o atleta. Sabemos que têm vários esportes esquecidos de alguma maneira e aí você vai para fora e é um ídolo para aquelas pessoas. É muito louco você não ser um ídolo no seu país. A Marta já tinha cinco bolas de ouro antes de melhor do mundo e não tinha tanta ascensão com está tendo hoje. E por quê? Quer dizer, teve que esperar ela ganhar uma sexta para criar toda essa expectativa em cima dela. Então tem até isso. Parece que você precisa ficar provando as coisas dentro do esporte para que as pessoas realmente te reconheçam. O correto seria que a modalidade em si tivesse um reconhecimento grande porque é importante quando essas meninas novas aparecem. Uma hora vamos sair de cena e quem fica são elas."
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