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Off-White: a marca do 'cinto de segurança' que se tornou ícone do novo luxo

Bruna Marquezine é uma das famosas fãs da marca Off-White - Reprodução/Instagram/@brunamarquezine
Bruna Marquezine é uma das famosas fãs da marca Off-White Imagem: Reprodução/Instagram/@brunamarquezine

Marcos Candido

Da Universa

16/06/2019 04h00

A Off-White é um fenômeno. Pessoas dormem na fila para comprar um tênis da marca. A Off-White é cara. Uma bolsa tiracolo listrada pode custar R$ 7 mil, enquanto botas de couro com a inscrição "For Walking" ("para caminhar"), até R$ 10 mil, se compradas no exterior. Talvez a peça mais marcante da marca, o cinto industrial, similar a uma faixa zebrada ou a um cinto de segurança para operários, custa R$ 1.629 no Brasil.

O que é da Off-White vende rápido. Quanto mais exclusivo e mais procurado for o item, maiores são os preços. É preciso conhecer quem importa e quem revende lançamentos: ter contatos, conhecer sites e lojas físicas. No mundo, são 41 pontos de venda, entre eles mecas de luxo como a Rinascente, em Milão; a Galeries Lafayette, em Paris; e a Harrods, em Londres.

Criada em Milão pelo americano Virgil Abloh em 2012, a marca é uma das líderes no movimento que destrona, ou ao menos reivindica seu próprio espaço, em tudo aquilo que você deve imaginar como "moda de luxo". Como a Supreme, a Off-White levou o streetwear a um patamar sofisticado.

Quanto custa o "outfit"?

No ano passado, o mercado de luxo cresceu 260 bilhões de Euros devido ao mercado chinês e também, em parte, por causa de jovens chiques, que desfilam pelas ruas gentrificadas do Brooklyn, nos Estados Unidos, ao Largo da Batata, em São Paulo.

Nesse contexto, a Off-White construiu bem mais do que um estilo. "Vejo a Off-White mais do que uma marca: é um lifestyle", explica Felipe Escudero, do canal "Hyped Content", no YouTube. No ano passado, o canal de Felipe explodiu em visualizações com a série de vídeos "Quanto custa o outfit", no qual fãs de streetwear revelam o preço pago para montar o "kit" (ou look).

A despeito das altas cifras pagas na montagem dos conjuntos, boa parte dos personagens do vídeo usava o cinto industrial amarelo da Off-White. Versátil, a peça, com dois metros de comprimento, é usada na maneira convencional, para segurar a calça na cintura, ou atravessada no meio do corpo, como um laço para segurar um vestido. As listras diagonais pretas são as características do modelo e se entendem a dezenas de coleções da marca.

Cinto Off-White - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

No vídeo, mais do que um cinto em si, o acessório toma ares de componente fundamental para demonstrar que quem o usa está devidamente inserido a uma cultura particular. O mesmo material do cinto aparece em tênis e até em cases de celulares assinados pela Off-White.

Não à toa, a criação que tem mais empolgado Felipe é um tapete da Off-White, assinado com a marca de departamento Ikea. No final de abril, uma fila se formou com dezenas de pessoas à espera da pré-venda do produto em Nova York. O preço? 499 dólares, o equivalente a aproximadamente R$ 1.950.

"Além de ser uma marca de vestuário, isso faz dela uma marca do seu dia a dia. Você consegue adicionar este item de luxo na sua casa, e não precisa necessariamente andar junto contigo", explica.

"Consumir produtos sofisticados como Gucci ou Prada já acontecia, só que ninguém consumia isso na arena do streetwear. Ele fez o streetwear ser tão chique e sofisticado quanto essas grifes".

Um dos segredos do sucesso da Off-White é a busca pela contemporaneidade mesclada a características clássicas do luxo.

Para o professor João Braga, especialista em História da Indumentária e da Moda, não há espanto em usar o termo luxuoso para descrever a Off-White.

"Existem prerrogativas que fazem o luxo ser o luxo: inovação, qualidade, raridade, escassez. São premissas que fazem qualquer coisa -- seja uma roupa, seja uma pedra preciosa, um automóvel, um hotel -- ganhe um diferencial. Consequentemente, um diferencial com valores que são considerados, digamos, os melhores, vai custar mais caro", explica.

As estratégias da Off-White

Para alcançar esse status, a Off-White traçou algumas estratégias. A primeira foi herdada do desconstrutivismo dos anos 90. Ou seja: usar elementos estranhos entre si, combiná-los e criar uma identidade nova e atualizada tanto em materiais como na seara conceitual.

Nos anos 90, o streetwear foi associado à moda dos esportes radicais, com roupas e camisetas largas característicos dos skatistas. Nos anos 2000, segundo o professor, houve uma resistência do luxuoso clássico a esse movimento. A novidade dos anos 2010 foi a fusão dos dois universos.

"O luxo sempre acompanhou o ar dos tempos", pontua o professor. Segundo ele, esse espírito do tempo tem valores como o coworking, o trabalho compartilhado, a diversidade e o prezo pela sustentabilidade ambiental e social.

No caso da Off-White, a marca uniu-se a nomes, como a Nike, e acrescentou seu pensamento criativo e seus valores para a concepção de collabs que vão além do vestuário -- um exemplo é o tapete feito com a Ikea.

Tênis esportivo faz parte da coleção da Nike com Off-White - Divulgação - Divulgação
Tênis esportivo faz parte da coleção da Nike com Off-White
Imagem: Divulgação

Os dois lados saem ganhando: a tradicional atualiza seu discurso. "A realidade de que as marcas estão usando de uma realidade vinculada ao popular, às grandes massas, é uma maneira contemporânea de diálogo social", explica o professor.

Virgil Abloh, o criador e a mente criativa da Off-White, é o único homem negro a se tornar um criativo do conglomerado de moda Louis Vuitton em um contexto de endosso da representatividade e da inclusão social.

Ele é amigo de Kanye West e de grandes celebridades do hip-hop americano. Rihanna usa Off-White. Faz parcerias com grandes museus de arte contemporânea e moderna na Europa e Estados Unidos. E, especialmente, tem mais de 4 milhões de seguidores no Instagram.

Virgil, a mente criativa que uniu o tradicional ao descontrutivismo contemporâneo - WikkiCommons - WikkiCommons
Virgil, a mente criativa que uniu o tradicional ao descontrutivismo contemporâneo
Imagem: WikkiCommons

A intenção de se manter popular, diverso e influente nas redes é clara: não caducar e manter o processo de reconquista de público e desconstrução do que é considerado o "tradicional" em dia (afinal, a marca já bomba ao menos desde 2014).

"A falta de identidade é a verdadeira identidade da moda contemporânea", diz o professor João Braga.

Tem causado frisson a collab entre Nike e Off-White, lançada no fim de maio. Na coleção "Athlete in progress", a união vai além da desconstrução de sneakers casuais clássicas: aposta na desconstrução da linha esportiva e acrescenta ranhuras espinhosas na sola de tênis de corrida. Os cadarços contam com a inscrição "cadarços", o que remete às mais recentes e caras criações da Off-White.

Ao mesmo tempo, a Off-White divulgou a introdução de peças neon na coleção primavera-verão 2020, fruto da mistura da influência do clã Kardashian nos Stories do Instagram às previsões das semanas de moda pelo mundo.