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Grupo cria rede de mulheres para financiar novos negócios

Maria Rita Spina Bueno é criadora do MIA (Mulheres Investidoras Anjo) - Divulgação
Maria Rita Spina Bueno é criadora do MIA (Mulheres Investidoras Anjo) Imagem: Divulgação

Marcelo Testoni

Colaboração para Universa

19/06/2019 04h00

Quando teve a ideia de abrir o próprio negócio, Isabel Teixeira conta que enfrentou dificuldades. Diz que não foi compreendida nem ajudada pelo que chama de um "universo muito masculino de investidores" que não se viam familiarizados com sua proposta de negócio e tampouco a levavam a sério.

Hoje, Isabel é CEO da BoBAGS, o primeiro site de aluguel e venda de bolsas e acessórios de luxo do Brasil, empresa que ela fundou baseada nos conceitos da economia compartilhada. Ela só conseguiu finalmente viabilizar seu negócio quando conheceu o MIA (Mulheres Investidoras Anjo).

Na linguagem de negócios, investidor anjo é quem faz investimentos com capital próprio em empresas nascentes que têm alto potencial de crescimento.

"Todas as investidoras anjo que conheci por meio do MIA, além de me apoiarem com aporte financeiro, acreditaram em mim e na dimensão do que eu estava fazendo. Elas compreenderam facilmente minhas ideias, que não eram um hobby, mas um negócio liderado por uma mulher e para mulheres. Só tenho a agradecer por tanta energia positiva e solidariedade, e espero que mais mulheres possam conhecer essa iniciativa incrível e que nos coloca para cima", diz Isabel.

Mulheres tradicionalmente investem menos em negócios e também recebem menos investimentos para abrir um. Segundo o grupo americano Female Founders Fund, em 2018 todas as startups dos Estados Unidos fundadas por mulheres levantaram apenas 2,2% de investimentos de risco. "No Brasil, a participação de mulheres também é muito pequena ainda. Em torno de 9% delas são investidoras anjo", explica Maria Rita Spina Bueno, criadora do MIA.

"Mas investimento anjo não é só dinheiro, também é diversidade agregada", complementa Maria Rita, que ainda é diretora executiva da rede Anjos do Brasil, criada em 2011 como uma organização sem fins lucrativos com a missão de fomento ao investimento anjo e apoio ao empreendedorismo brasileiro.

Segundo ela, nos EUA e no Reino Unido, a participação de mulheres investidoras já fica em torno de 20%. "Essa é uma realidade no mundo inteiro. Por isso é importante que tenhamos mais mulheres atuando nessa área, pois elas contribuem com um olhar diferente e com novas maneiras de analisar os negócios. Isso faz com que startups tenham mais chances de sucesso."

Desejo de incentivar mulheres

O grupo feminino MIA surgiu no final de 2013 a partir de um incômodo pessoal de Maria Rita com a presença majoritariamente masculina nesse cenário. Além disso, ela tinha o desejo de aumentar a atuação de mulheres empreendedoras e investidoras anjo. Para realizar tudo isso, conta com as cofundadoras Ana Fontes, idealizadora da Rede Mulher Empreendedora, e Camila Farani, premiada como melhor investidora-anjo no Startup Awards 2016 e 2018 e sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia.

"O MIA é um movimento de fomento ao número de investidoras anjo. Mas isso também significa apoiar empreendedoras, fazer com que elas tenham mais facilidade para construir empresas de grande potencial de crescimento. Sou filósofa por formação e me envolvi com ecossistemas de investimento anjo ajudando meu irmão na área financeira das empresas dele. Fiz isso por muitos anos, até que resolvi voltar para a universidade e fui fazer mestrado e doutorado nessa área. Hoje, me dedico integralmente ao que faço e invisto em startups lideradas por mulheres ou que tenham um impacto social ligado à minha tese", diz Maria Rita.

Não é preciso saber investir

Como Maria Rita, que despertou para o mundo dos negócios, ela diz que outras mulheres também podem. Para participar do MIA é preciso ter, acima de tudo, vontade. Segundo ela, investir se aprende. Porém, Maria Rita salienta que possuir capital é importante e que contar com experiência em negócios e com uma rede de relacionamentos soma pontos positivos na hora de ajudar empreendedoras de startups a desenvolver os próprios negócios.

"Mulheres participam dos nossos eventos sem nenhum compromisso em investir. Qualquer uma que tenha interesse em conhecer mais esse ecossistema, pode se inscrever pelos canais do MIA ou pelos Anjos do Brasil. Em geral, quem mais participa são empresárias, mulheres que vêm do mundo corporativo ou que têm experiência com ele ou com construção de startups. Assim, conseguem ajudar no empreendedorismo de forma atuante", diz Maria Rita.

Elas saem na frente e juntas prosperam

O mais surpreendente é que, apesar de as mulheres receberem menos investimentos em negócios, elas faturam mais, quando comparadas aos homens. Divulgada em 2018, uma pesquisa feita pela consultoria BCG (The Boston Consulting Group) informa que, em cinco anos, startups de homens faturaram cerca de 10% a menos, quando comparadas a startups de mulheres. No estudo foram consideradas 350 startups: 258 de homens e 92 de mulheres.

Maria Rita explica que várias mulheres que se envolvem com o MIA e, consequentemente, com o universo de startups, relatam o quanto aprendem, tanto do ponto de vista do seu próprio valor, quanto na possibilidade de ajudar outras empreendedoras. Ela acrescenta, ainda, que muitas não tinham nem noção do tanto de conhecimento acumulado que possuíam e que poderia ser explorado no mundo dos negócios.

"O retorno é muito positivo. O MIA já impactou quase mil mulheres por meio de seus eventos e de suas palestras. É muito difícil quando uma empreendedora vai buscar capital e faz uma apresentação para uma sala cheia de homens. É comum acharem que ela sabe menos de números, ou que não entende tanto de mercado, porque a forma de se expressar e de fazer perguntas é diferente. Então, a gente apoia e quer ajudar para que elas se envolvam cada vez mais. E o fato de haver outras mentoras e investidoras ajuda bastante", garante Maria Rita.

O MIA não investe diretamente, mas suas investidoras, sim. Como exemplos, já receberam aportes a startups brasileiras como a Pet Anjo (prestadora de serviços para donos de animais de estimação ) e a própria BoBags, que recebeu auxílio aproximado de R$ 125 mil.