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Mãe surda faz campanha por acessibilidade no filme "Turma da Mônica: Laços"

A família Correia; filhas têm 4 e 10 anos - Arquivo pessoal
A família Correia; filhas têm 4 e 10 anos Imagem: Arquivo pessoal

Mariana Gonzalez

Da Universa, em São Paulo

23/06/2019 04h00

Resumo da notícia

  • A analista de sistemas Carolina Correira e o marido, o auxiliar administrativo Gutemberg, são casados há 17 anos e são surdos
  • Eles têm duas filhas ouvintes; a mais velha, Isabella, faz 10 anos nesta semana e quer comemorar vendo o filme "Turma da Mônica: Laços" com a família
  • Por isso, a mãe reuniu mais de 150 mil assinaturas em um abaixo-assinado que pede acessibilidade à produção e às principais redes de cinema do país

A analista de sistemas Carolina Correia e o marido, o auxiliar administrativo Gutemberg Gomes Jr., são surdos, casados há 17 anos e se comunicam com as filhas ouvintes Isabella, de 9 anos, e Maria Clara, de 4, por meio de Libras (Língua Brasileira de Sinais).

A mais velha vai completar 10 anos na quinta-feira (27), dia da estreia do filme "Turma da Mônica: Laços", versão live action inspirada nas aventuras criadas por Maurício de Sousa. Ela pediu à mãe para comemorar seu aniversário na sala de cinema mas, para isso, é preciso acessibilidade -- o que levou Carolina a criar um abaixo-assinado plataforma Change.org, que já conta com mais de 150 mil assinaturas.

À Universa, Carolina fala sobre a relação que a família tem com a Turma: "Aprendi a ler em português com os gibis, porque têm muitas imagens e me ajudavam a entender o significado das palavras. Agora, eu e a Isabella adoramos ler as revistas juntas".

Em sua campanha, que começou há oito meses, ela pede que a produção do filme e as redes de cinema UCI e Cinemark disponibilizem uma pessoa fazendo Libras durante a sessão ou que uma versão com legendas entre em cartaz.

"Nós, surdos, temos direitos", diz, em Libras, ao lado da filha que traduz os sinais em vídeo publicado no Instagram.

Desde 2016, é lei: o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) determina que todos tenham igual acesso a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e desportivas; as empresas têm até 2020 para se adequar.

Esta não seria a primeira vez que Carolina e Gutemberg deixariam de ver um filme com as filhas por falta de acessibilidade, já que dificilmente produções nacionais vão para as telonas com legenda.

"Uma vez, a Isabella quis assistir ao filme 'Fala Sério, Mãe'. Eu fui com ela ao cinema e fiquei sem graça, porque não entendi nada", lembra. "Agora minha filha quer comemorar o aniversário, ela merece esse momento."

Mudanças

Pouco depois da criação do abaixo-assinado, a produção de "Turma da Mônica: Laços" respondeu às demandas da família, dizendo que o filme será acessível.

"Os recursos disponíveis são legendas descritivas, audiodescrição e Libras", disse, em nota. A empresa publicou, também, um vídeo no Instagram de divulgação do filme em que a atriz Giulia Benite, que interpreta a Mônica, aparece anunciando a novidade, em português e em Libras.

O Cinemark respondeu dizendo que "está investindo na compra de equipamentos de acessibilidade" e que, em junho, recebeu a primeira leva. A empresa informou, ainda, que 12 cinemas da rede contam com estes recursos no país -- dois deles na cidade do Rio de Janeiro, onde vive a família de Carolina.

A rede UCI, citada por Carolina na petição e procurada pela Change.org, ainda não respondeu à demanda. "Só faltam vocês", escreveu a mãe de duas, em apelo para garantir que a comunidade surda tenha acesso a mais salas de cinema pelo Brasil.

Procurada por Universa, a UCI disse que já está trabalhando na instalação de equipamentos de acessibilidade e que, até o final de junho, sete unidades da rede serão acessíveis para surdos, uma delas no Rio de Janeiro.

"Na UCI, os usuários do sistema de Libras poderão optar por intérprete humano ou virtual -- em formato de avatar. O aparelho também contará com suporte de tradução automática, legendas em tempo real e audiodescrição", esclareceu a empresa, em nota.