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Influencer é acusada de tentar ser negra e se defende: "Não quero competir"

Aline Tófalo é artista independente, dançarina de hip hop e influencer no Instagram - Reprodução/Instagram/@alinetofalo
Aline Tófalo é artista independente, dançarina de hip hop e influencer no Instagram Imagem: Reprodução/Instagram/@alinetofalo

Bruna Cambraia

Colaboração para Universa

27/06/2019 04h00

"Não tô aqui pra competir com mulher preta ou tomar espaço de outros pretos". Essa foi parte da resposta de Aline Tófalo, influencer de 25 anos, para as acusações de blackfishingfeitas por usuários das redes sociais. O termo, que designa o uso de elementos estéticos negros por pessoas brancas para sustentar uma falsa identidade negra ou mestiça, foi argumento das críticas que a artista independente recebeu.

O que aconteceu

Após publicar um vídeo no Facebook criticando o feminismo branco, na sexta-feira (21), Aline foi acusada de se "passar por negra". Na publicação, a artista, de São Paulo, recita uma poesia que fala sobre as diferenças entre a trajetória e luta de mulheres negras e brancas. Veja abaixo:

Em resposta ao vídeo, as críticas giraram em torno da identidade da artista que, para eles, é branca e estaria roubando o protagonismo de mulheres negras. "É grave porque a garota já fez clipe, propaganda e vários trampos fantasiada de preta, é bizarro", disse uma internauta. "As oportunidades que essa mina ganhou nenhuma mina preta ganha, ou até ganham, mas pouquíssimas", publicou outra.

"Tive calma e procurei ver se havia fundamento"

Em entrevista à Universa, Aline declarou ter mantido a calma quando percebeu o que estava acontecendo e, também, ter buscado se informar para entender as críticas antes de se posicionar publicamente. "Quando vi que era um ódio descabido e desproporcional, dei uma desligada das redes para refletir e entender como eu poderia me posicionar sem gerar mais ataques", completa.

Após ter passado cinco dias afastada da internet, a influencer -- que tem cerca de 18 mil seguidores no Instagram -- resolveu publicar no Facebook um vídeo em resposta às críticas. Veja abaixo:

Busca por identidade e afirmação

Aline conta que a afirmação de sua identidade foi resultado de um processo, que começou quando ela percebeu que existiam referências de beleza fora do padrão. "Conforme eu fui vendo que os produtos para cabelo e pele foram mudando, e que não eram mais apenas para mulheres brancas, fui ganhando mais coragem para me aceitar", diz. "Aconteceu um empoderamento coletivo: a partir do momento em que você vê uma mulher se assumindo, você toma força para se assumir também", complementa.

Aline na infância - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Aline na infância
Imagem: Arquivo Pessoal

A artista lembra que a problemática que girou em torno de sua afirmação enquanto negra surgiu na adolescência, fase que é crítica e crucial para se entender no mundo. "Quando criança, minha identidade nunca foi questionada, muito pelo contrário. Isso sempre me foi lembrado o tempo todo, principalmente quando a professora na creche penteava o cabelo de todo mundo, menos o meu", relata.

Para Aline, as pessoas se esquecem da história do Brasil quando se fala em racismo. "A galera esquece que os negros sempre tiveram que se embranquecer. Hoje, o que a gente entende como bonito, há cinco anos não era. A gente tentava se enquadrar naquilo, porque nunca existiu outra alternativa", justifica. Ela considera que essa incompreensão que existe em relação ao embranquecimento do qual as pessoas negras são vítimas é o principal motivo das acusações que recebeu. "Começaram a me stalkear e ver que há cinco anos eu tinha uma aparência diferente, mas desconsideraram meu processo de entendimento de identidade. Eu alisava o cabelo e todas as vezes em que tirava foto procurava usar flash. Usava até maquiagens mais claras. Todas as pretas que eu conheço passaram por esse processo social e político de embranquecimento", completa.

O maior problema para um negro de pele clara no momento de afirmar sua identidade é enfrentar a incompreensão das pessoas, que é resultado da falta de informação, na opinião da influencer. "A nós, não foi explicado o que foi a miscigenação. Isso faz com que a gente fique na dúvida, mas o que somos é exatamente essa mistura de polos. É difícil se identificar quando a gente apanha de todos os lados. É aquele clichê verdadeiro: preta demais para os brancos e branca demais para os pretos", desabafa.

Aline diz que sua intenção é colocar em foco as questões que estiverem ao seu alcance, para somar na luta do povo negro de forma geral. "Minha missão enquanto mulher negra é trazer toda a representatividade que a mim fez falta para sair do casulo com coragem e sabedoria", explica. "Não tenho uma resposta para dar para essas pessoas, a não ser dizer que vou continuar trabalhando e usando meus privilégios (por ter a pele mais clara) para trazer visibilidade para as nossas questões", complementa. "Eles (os críticos) não são meus inimigos. Minha luta é só para trazer referências para essa geração que tá vindo aí se assumir com a certeza que me faltou", termina.