"Medo da polícia": jovem de 19 anos diz que foi estuprada em uma viatura
Resumo da notícia
- PMs foram presos suspeitos de terem estuprado jovem em Praia Grande, em junho
- Câmera de segurança e laudo do IML reforçam versão da vítima
- Vítima afirma que vai receber apoio psicológico
Natália*, 19, queria saber o caminho para ir a um terminal de ônibus em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Era noite, ela estava sozinha e precisava voltar para casa, em São Vicente, cidade vizinha. Foi quando viu uma viatura da polícia militar e seguiu em direção até dois policiais para pedir informação.
Daquele momento em diante, Natália afirma que a rotina da vida dela foi interrompida.
A cozinheira diz ter sido estuprada dentro da viatura por um dos policiais, no início de junho. Os soldados Anderson Silva da Conceição e Danilo de Freitas Silva negaram o crime, mas câmeras de segurança e um laudo do IML desmentiram a versão dada por eles. A dupla recebeu prisão preventiva após decreto da Justiça. Os dois seguem presos na capital paulista.
"Amigos se afastaram por não acreditar em mim", conta Natália a Universa. "Eu vivia a vida de uma jovem normal, saía com minhas amigas, ia para a academia...", conta. Agora, diz que mal consegue comer. "Fiquei doente, com anemia".
Na noite do dia 12, Natália afirma que um dos soldados teria perguntado se ela era menor de idade. Após responder negativamente, eles se afastaram para conversar. Quando voltaram, ofereceram uma carona até o terminal. Ela aceitou e entrou no veículo. Um policial, porém, sentou ao lado dela no banco de trás.
"Ele colocou a minha mão no pênis dele. Eu vi que ele estava excitado, tirei minha mão e falei 'não'", conta. Logo depois, relata que o policial ao seu lado a estuprou, forçando sexo oral e penetração.
Quando esse homem acabou de violentá-la, os PMs a deixaram no terminal de ônibus. Nervosa, ela conta que mudou o curso e foi até a casa de uma amiga, onde precisou ser acalmada.
"Cheguei na casa minha amiga gritando, muito assustada", relembra.
A família da colega orientou Natália a fazer o registro da ocorrência. Uma policial foi até o local, coletou o depoimento inicial e orientou um exame para constatar o crime, no qual foram apontadas lesões nas partes íntimas. Ela diz também ter tomado um coquetel para evitar infecções sexualmente transmissíveis.
Durante o ataque, a suposta vítima teria perdido o celular. O aparelho foi encontrado após uma inspeção no veículo e reforçou a versão também dada por ela à Corregedoria da Polícia Militar.
Polícias são denunciados
Segundo levantamento de Universa a partir de dados da Lei de Acesso à Informação (LAI), cerca de 50 boletins de ocorrência por crimes de estupro e estupro de vulnerável foram registrados contra policiais militares no estado de São Paulo entre 2008 e 2018. Entre 2008 e 2016, foram 42 registros. Em 2018, foram cinco. A reportagem não conseguiu identificar dados deste tipo referentes ao ano de 2017.
O boletim de ocorrência é a primeira etapa em uma investigação policial. O registro não conclui autoria do crime, mas quem não conta a verdade para as autoridades pode responder por crimes como denunciação caluniosa ou comunicação falsa de crime, que rendem pena de prisão de até oito anos e multa.
Defesa
Em depoimento, os soldados confirmaram a carona e disseram que teriam rodado com Natália pelas ruas na busca por um homem que teria feito ameaças contra ela. Os dois disseram ter sentado no banco da frente, mas a câmera de um shopping próximo mostra um dos militares entrando pela porta de trás do veículo. (Veja vídeo abaixo)
Por telefone, a reportagem tentou entrar em contato com a defesa dos dois suspeitos, mas não foi atendida. O posicionamento será acrescentado assim que, ou se, a defesa se pronunciar sobre o caso.
A Secretaria de Segurança Pública emitiu nota em que afirma que o caso está sendo investigado e segue em sigilo.
Vítima diz que tenta retomar a vida
Nos próximos dias, representantes da Defensoria Pública de São Paulo vão até São Vicente oferecer apoio jurídico e psicológico para Natália.
Na segunda (1), quando falou com a reportagem, disse que tem dificuldade em voltar a ser quem era. "Não saio de casa. Meus pais não me deixam sair, por medo de polícia", desabafa. "Os últimos 20 dias têm sido os piores dias da minha vida".
* Nome alterado a pedido da vítima
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.