Pegou no flagra: como na novela, elas descobriram que parceiro é gay ou bi
Até esta quinta-feira, somente Lyris (Deborah Evelyn) não sabe que o marido Agno (Malvino Salvador) se relaciona com outros homens em "A Dona do Pedaço". O cenário mudará em alguns dias na novela global. E quando descobrir, vai gritar aos quatro ventos sobre a orientação sexual do pai de sua filha. Ela irá até o trabalho dele fazer um escândalo.
Errado. O correto seria esperar passar o impacto para, juntos, resolverem a situação da melhor maneira possível. Principalmente quando há filhos. É o que orienta a psicóloga, sexóloga consultora do site C-Date e fundadora da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade), Carla Cecarello.
Quatro mulheres que passaram por situações semelhantes contaram para Universa como reagiram. Algumas preferiram manter a identidade sob sigilo.
"Você se sente inferior"
"Namorei um homem casado por dois anos, até o dia em que ele decidiu me contar ser gay por mensagem de texto, enquanto eu estava em tratamento contra um câncer.
Tenho amigos gays, meu pai é gay, e nunca me passou pela cabeça o fato dele ser. Também não pensei que foi uma desculpa usada para ele terminar.
Fiquei revoltada porque, no primeiro momento, pensei que não fui mulher o suficiente. Você se sente inferior, um lixo, e se pergunta: 'onde falhei?'.
Meu pai diz que casou tentando esconder sua homossexualidade, e que minha mãe acabou descobrindo. Os dois tiveram duas filhas, mas assim que se divorciaram, ele se assumiu. Como vivi essa experiência, pensei muito se minha mãe não sentiu o mesmo, ou se tentou 'transformá-lo'. Ela já faleceu.
Doeu uma revelação como essa depois de tanto tempo de relacionamento. Quando ele falou que era casado, foi minha opção me envolver. Deveria ter contado também da orientação sexual, porque também poderia escolher se eu queria isso.
Hoje nos falamos apenas por mensagem de texto. Ele segue casado, com dois filhos, e tem os lances dele com outros homens. Nunca mais nos envolvemos".
*Débora, 36, empresária
"Levei numa boa"
"Namorei duas pessoas que se revelaram gays. O primeiro, peguei no flagra.
Morei com uma pessoa por dois anos e nunca desconfiei de nada, mas minha família vivia tentando me alertar. Uma vez, fomos a um chá de bebê e ele quis sentar no colo dos caras, mas cega de amor, não vi nada ali.
Um dia, nossa vizinha me chamou e disse que ele estava na casa de um conhecido nosso. Não acreditei. Quando cheguei lá, a porta estava encostada. Entrei e vi os dois no sofá. Fiquei sem reação, e depois comecei a gritar, chamei de tudo quanto era nome. O outro cara também tinha uma mulher, e ela o deixou. Eu e meu namorado continuamos juntos por algum tempo. Terminamos por outro motivo.
Já tive relacionamento aberto, então não enxerguei problema nisso. Para mim, a questão é falar a verdade. Hoje, ele está namorando uma mulher e ainda não se assumiu. Acho que tem medo.
Depois de terminar com ele, reencontrei um antigo caso. Nos conhecemos há 7 anos. Ele me contava que ficava com homens também. Eu sabia que ele era bi. Fiquei surpresa, mas seguimos juntos.
Não tenho nada contra: se o parceiro quiser ficar com homem ou mulher, o que importa é a sinceridade."
*Nilza, 24 anos, diarista
"Meu irmão o viu com outro homem"
"Fui casada por 23 anos com o primeiro homem de minha vida. Tivemos três filhos. Nosso casamento se desgastou, ele me traiu com uma prima, me fez perder nossa casa por causa de dívidas, e nos separamos. Hoje, após três anos, ele mora com um homem.
Nunca percebi nada, porque além de sermos da igreja, ele sempre gostou muito de sexo. Assim que nos separamos, meu irmão me contou que o viu com outro homem. Na mesma época, a cidade toda já estava comentando que ele estava namorando um cara.
Não tocamos no assunto. Ele resolveu contar da sua situação por mensagem de texto para nossa filha, de 12 anos. E eu conversei com o de 18. A de 5 ainda é muito nova para entender.
Nossos filhos não ligaram, mas o mais velho se fechou mais. Eles têm acompanhamento psicológico. Passei muita vergonha perante minha família e vizinhos. Falavam que eu fui trocada por um gay, sendo que eu pedi a separação, e por outro motivo. Não acho que tenho que ter vergonha. Cada um tem seu jeito de viver.
Hoje estou reconstruindo a vida ao lado de outro homem. E meu ex está se mudando com o namorado para outra cidade."
*Nara, 42 anos, faxineira
"Achei que era culpa minha"
"Conheci meu primeiro namorado aos 17 anos, na igreja que frequentávamos. Ele era muito bonito, liderava o coral. Imagine aquele rapaz que as meninas ficam atrás. Era ele!
Uma vez, roubei um beijo dele, e alguns dias depois ele foi até em casa falar com meu pai para namorarmos. Meu irmão, quando o conheceu, me disse: "esse cara é gay". Não acreditei.
Quatro meses depois, mudou o comportamento, ficou estranho. Até que um dia ele foi no meu portão e disse que não tinha certeza se queria namorar. E não nos vimos mais.
Uns dois meses depois, minha melhor amiga o viu aos amassos com um cara. Claro que eu não suspeitava de nada. Primeiro namorado, e principalmente da igreja. Como eu ia imaginar isso?
Depois, soube por amigos em comum que ele foi viver com essa pessoa. No primeiro momento, achei que era culpa minha, mas não quis confrontá-lo. Aquilo era humilhante. Depois de muito tempo, percebi que o problema não era eu. Na verdade, ele já era assim, mas estava se escondendo através de um cargo na igreja, para ficar bem com a sociedade.
Tive problemas para me relacionar depois. Nunca consegui confiar em alguém. O pior de tudo foi meu irmão dizendo: 'eu te avisei', mesmo me vendo sofrer. E eu sofri muito. Primeiro porque eu o amava. Segundo pela vergonha de ser trocada por um homem.
Fui me acertar em um relacionamento só agora. Casei há quase um ano."
Bianca Dias, administradora, 38 anos
Deixe passar o calor do momento
Receber uma notícia como essa pode provocar reações fortes. E o conselho é esperar "baixar a poeira" para tomar qualquer atitude, principalmente quando há filhos dessa relação. É o que orienta a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello. Em 30 anos de profissão, conta, ela já recebeu pelo menos meia dúzia de casais nessa situação.
De acordo com Carla, é compreensível que a mulher se revolte, se sinta traída ou mesmo ingênua por nunca ter percebido nada. Mas é importante também tentar compreender que o homem também pode estar em sofrimento, por ter escondido sua orientação sexual.
"Na grande maioria das vezes, quando o homossexual entra num casamento com uma mulher, é para cumprir algumas exigências sociais e familiares, ou não tem coragem de se assumir. Em alguns casos, não é uma questão de enganar, mas há a dificuldade em assumir. Só que chega um momento em que ele não suporta mais estar com quem não quer, e precisa ser muito franco", pondera a profissional.
Quando envolve os filhos
O correto é o casal contar a situação para a família junto, orienta Carla. Segundo ela, não é saudável poupar os filhos da realidade.
"É importante tratar a questão de forma inclusiva também, porque se o pai troca a mãe por outra mulher, os filhos saberão. Então por que não saber que foi por outro homem? Por que é imoral? Não! O casal precisa avaliar o melhor momento e passar a informação de uma maneira que não seja tão dolorosa".
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