Ela largou tudo para trabalhar a mente das pessoas: "Ganho 100 vezes mais"
"O segredo é o amor", ensina a coach Tânia Zambon numa entrevista por telefone carregada de bom humor. Ela atendeu a reportagem por telefone em Gramado (RS), onde mora. Estranho seria se fosse diferente: aos 48 anos, a fisioterapeuta trocou as UTIs pela carreira de coaching, abriu seis filiais da sua empresa de desenvolvimento humano, no Brasil, EUA e Portugal, está inaugurando a sétima, em São Paulo, e planeja um filme da sua vida com a atriz Giovanna Antonelli no papel principal.
Tem mais: em 2015, entrou na lista do RankBrasil pelo recorde de maior treinamento de coaching de equipes do país --reuniu 4.068 pessoas num mesmo espaço, no chamado Celebration Power Life, em Gramado. Este ano, se programa para receber 10 mil pessoas. "Vou bater meu próprio recorde". E agora em abril, ela recebeu o prêmio International Star for Quality 2019, concedido pela BID (Business Initiative Directions). Em resumo, significa que sua empresa tem excelência nas atividades.
A virada de chave
Tânia trabalhou com reabilitação e em UTIs por 20 anos. Lidava com a morte diariamente, e frequentemente ouvia histórias de pacientes arrependidos por não terem levado a vida que queriam, ela conta para Universa.
Para lidar melhor com esses momentos difíceis, se especializou em Neurociência e Psicologia. Mas não se sentia feliz.
"Estava cansada desse ambiente pesado, deprimente. Ouvia histórias pesadas diariamente, com pessoas em seu leito de morte percebendo que não eram elas mesmas, além dos erros médicos que observava. Gostava da minha profissão, mas essas coisas mexiam muito comigo."
Até chegar o dia em que ela foi a paciente. Seu segundo filho nasceu com 26 semanas, quando o correto seria a partir de 39. Foram 90 dias de UTI. O menino teve parada cardiorrespiratória, recebeu transfusão de sangue, foi desacreditado:
"Mas eu acreditei. Repeti para mim: 'vou sair daqui, largar tudo e trabalhar a mente das pessoas'. Nós não somos preparados para lidar com nada, seja casamento, filhos ou morte".
Decisão tomada, filho recuperado, veio outro baque: o casamento de 19 anos acabou. Diz ela que os únicos bens que lhe restaram foram a filha, na época com 3 anos, e o recém-nascido -- hoje eles estão com 15 e 12 anos.
"Saí sem nada dessa relação com minhas crianças e uma caminhonete. Cheguei ao fundo do poço e tinha dias em que só comia gelatina. Mas decidi recomeçar. E não podia errar. Peguei a caminhonete, penhorei e investi em conhecimento. Fui atrás de ferramentas para blindar a mente e me reconstruir. Estudei negócios e coaching fora do país, com nomes como Joseph O'connor e Tony Robbins. Fiquei três anos juntando tudo que eu ganhava em estudos. E o que aprendia lá fora, ensinava aqui."
Com a agenda enchendo, Tânia fundou o Instituto que leva seu nome, para promover os cursos e treinamentos na área de desenvolvimento pessoal e profissional.
A grande virada na carreira, aponta, foi em 2015: ela foi convidada a dar treinamento em equipe no Projac, onde ficam os Estúdios Globo, em Jacarepaguá, Zona Oeste no Rio. E decidiu trocar o frio do Sul pelas praias cariocas. "As pessoas começaram a me olhar com respeito".
Banalização do coach e machismo
As desconfianças que pairam sobre um coach são tantas que este ano entrou uma proposta na agenda de debates do Senado com o título de "Criminalização do 'Coach'", através do site E-Cidadania. A ideia é barrar "o charlatanismo de muitos autointitulados formados sem diploma válido". Tânia concorda. "Pessoas fazem qualquer cursinho e se intitulam coach. Fiz oito cursos de formação, tenho uma universidade de negócios. Trabalho métodos e ferramentas específicas para alcançar resultado".
Preconceito vencido, faltava "quebrar o gelo" de poucos homens que torciam o nariz por ter uma mulher ensinando a alcançar o sucesso, e incentivar mais o público feminino a almejar posturas de liderança. Hoje, somente na sua Universidade de Negócios, fundada em 2018, no Sul, 45% das matrículas são de mulheres, de diversos segmentos. "Mantenho muito a minha postura. Fui fisioterapeuta no setor de esporte e fazia ultrassonografia na virilha de atleta. Nunca faltaram com respeito. No início, sofri certa resistência, mas consigo me impor".
Lucros de mais de R$ 1 bi
De 2012 para cá, segundo as contas de Tânia, mais de 300 mil pessoas passarem por seus cursos e treinamentos. Somente no Coaching Executive Business, foram mais de 85 turmas, além das 7 edições do Celebration Power Life, o treinamento para equipes que lhe rendeu o recorde em 2015.
No seu site, cheio de cases de sucesso, mostra depoimento de pessoas que dizem ter dobrado suas metas após seus ensinamentos. Em um dos cursos, promete fazer o aluno atingir resultados de mais de 100% em faturamento em 30 dias. Ela diz que nunca recebeu reclamações. "Ano passado, todas as empresas que atendi lucraram, juntas, R$ 1,2 bilhões".
Trabalho de casa
Tânia também se reinventou afetivamente: casou novamente e, para compensar o longo período em viagens, combina a agenda com as férias dos filhos adolescentes:
"O que importa é a qualidade de tempo, o seu comportamento em casa. Quando estou com minha família, esqueço o resto. Quando vou para Portugal, por exemplo, eu caso com as férias deles de fevereiro e os levo. Faço o mesmo em julho, no meio do ano, quando vou ao Vale do Silício (EUA). E quando não os levo, deixo bilhetes carinhosos, para me fazer presente. Meus filhos passaram por momentos difíceis. Tiveram uma mochila e duas casas. E quando estou com eles, sou deles".
Depois de seis livros publicados, com três para sair e cursos ao custo mínimo de R$ 1390 -- a Universidade de Negócio tem custo total de R$ 75 mil --, planeja hoje "tirar o pé do acelerador". "Tenho uma casa confortável num bom condomínio. E mais 12 imóveis. Ganho dinheiro dormindo, porque alugo. Viajo também pelo mundo inteiro. Posso dizer que meu crescimento foi 100 vezes o que ganhava ou mais. Sou meu próprio case. Agora só quero manter o que tenho", diz ela, que não entrega os números de seu lucro.
No meio da entrevista, sobrou tempo para um conselho para a reportagem:
"A primeira coisa para ascender é ter energia. Sem ela, não há vontade. E só consigo isso através da atividade física. Ela é nossa pílula diária, que faz o coração bombear melhor. Eu começo o dia fazendo minha atividade e indo à missa, porque o primeiro ato da manhã imprime todo resto do nosso dia".
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