Elas largaram tudo para serem bruxas em tempo integral
Ser o próprio chefe é o sonho de muita gente, mas algumas mulheres têm unido a vontade de ter o próprio negócio com a espiritualidade. Mirella Floren, Ana Paula Rizzo e Tatiane Lisbon são algumas das pessoas que estão deixando o mercado de trabalho tradicional para serem bruxas em tempo integral.
Mas a rotina de uma esotérica não é passar o dia todo olhando para uma bola de cristal ou ficar no mundo da lua. Elas ralam para pagar as contas, aumentar o rendimento e conseguir mais clientes. "Tenho uma rotina cansativa que divido entre atendimentos e a estruturação para criar a empresa que eu idealizo", diz Tatiane, mais conhecida, nas redes sociais, pelo seu projeto, A Papisa.
A jovem de 27 anos de São Paulo (SP) se interessou pelo tarô aos 12 anos, mas passou a ver potencial em seu jogo em 2015, quando aprofundou os estudos. No entanto, continuou trabalhando com redes sociais até 2017, quando deixou o mercado de trabalho formal. "Comecei a fazer bicos como promoter e cheguei a trabalhar em uma empresa de telemarketing esotérico", fala. Em 2018, quando conheceu a astróloga e influenciadora digital Madama Br00na, botou o projeto A Papisa em ação. A internet teve papel decisivo em seu crescimento. "A visibilidade foi o que aumentou o alcance do meu trabalho e possibilitou eu me sustentar apenas com os atendimentos", diz a astróloga e taróloga.
"Trago seu amor em um click"
No lugar dos cartazes "Trago o seu amor de volta", entram stories e posts no Instagram. As redes sociais são o principal outdoor dessas profissionais. A Papisa, por exemplo, ficou conhecida por causa da série Spoilers, com previsões em seus stories. Mas não para por aí.
Ana Paula Rizzo, 26, cria, há um ano, perfumes personalizados baseado na numerologia de seus clientes. Como o trabalho dela e de outras bruxas tem escuta ativa e troca de energias, ela acredita que a internet também cria uma identificação entre o cliente e a esotérica. "Nós também somos um produto, afinal, não vendemos apenas o nosso serviço, mas também a nossa conversa e companhia. O 'santo' tem que bater", fala.
Concorrência brava
Com o perdão do trocadilho, mas o feitiço pode se virar contra o feiticeiro. Como nos últimos três anos houve um aumento no interesse de pessoas por astrologia e por trabalhar na área, muita gente desavisada acha que tirar uma carta nas redes sociais é coisa fácil. No entanto, segundo as profissionais, pode ser espiritual e financeiramente irresponsável. "Trabalhar com assuntos relacionados à espiritualidade é incrível, mas não adianta fazer só pelo dinheiro ou pelo like. É algo que a pessoa precisa viver todos os dias. E também é preciso ter estudo, dedicação", fala a oraculista, benzedeira e terapeuta de cura energética Mirella Floren, 32.
Foco, força e fé
Ex-barbeira e designer, Mirella passava mais de oito horas trabalhando. Atualmente, atende três ou quatro pessoas por dia em sua casa, em São Paulo (SP). Parece moleza, mas ela garante que é energeticamente exaustivo e, para manter o foco, precisa sempre estar com o pé no freio. "Costumo manter uma média de menos atendimentos, mesmo para oferecer um trabalho com qualidade", afirma. "Há muita troca de energia e acessa muito a nossa sensibilidade", completa Tatiane.
Além disso, uma bruxa precisa estudar bastante o ocultismo. Tanto que, muitas delas, começaram o "caminho" ainda na adolescência. "Tirei o tarô a primeira vez quando tinha 14 anos", narra Mirella, que se considera uma profissional autônoma. Ana, por sua vez, acredita que é uma empreendedora porque tenta inovar. "Faço um atendimento já bastante diferente, unindo a numerologia e a perfumaria, e estou sempre estudando. Faço uma pós-graduação e tenho um gasto mensal com livros para estar sempre atualizada", pontua a jovem, que ainda se considera uma aprendiz.
Empresa esotérica
Pamela Ribeiro, 26, é conhecida nas redes sociais como Bruxa Preta. Umbandista, ela trabalha com tarô e baralho cigano, além de ser oraculista. De segunda a sexta-feira, faz dois ou três atendimentos por dia das 19h às 23h, pela internet. Ainda assim, não conseguiu deixar o trabalho como redatora para viver de sua espiritualidade. "Consigo tirar, por enquanto, um salário mínimo, mas estou me reorganizando para que, até o ano que vem, eu possa trabalhar apenas como bruxa", fala.
Mirella pontua a importância de um plano sério de negócio antes de arrumar o jogo de tarô. "É bom ter uma reserva de emergência para não passar por aperto", diz. "Eu mesma passei por muito sufoco no começo porque não sabia disso." Atualmente, a terapeuta de cura energética tem uma assistente que a ajuda a organizar sua agenda.
Em 2018, Tatiane chegou a atender de cinco a dez pessoas por dia, mas precisou pisar no freio. "Tenho que cuidar da parte burocrática, fazer contatos", afirma. Ela ainda trabalha sozinha na Papisa, mas pretende aumentar a equipe no segundo semestre deste ano. "Vou contratar uma assistente para me ajudar, além de alguém para ficar responsável pela parte financeira".
Contas em dia, sem feitiçaria
É preciso lidar, ainda, com a angústia de manter o orçamento. "Tem semanas que minha agenda está cheia, em outras parece que ninguém vai vir", fala Ana Paula. O retorno, no entanto, vale a pena. A numeróloga diz que sua renda aumentou 100%. "Todo mês eu surto com isso, mas a conta sempre fecha. O feedback que recebo dos clientes também faz tudo valer a pena."
Pamela diz que a possibilidade de atingir as pessoas é o que a motiva a se organizar para mudar de vida no próximo ano. "Parece clichê, mas quero ajudar os outros e, de quebra, ganhar o meu próprio dinheiro", fala.
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