Ela capacita refugiadas para fazerem as joias de Laila, em Órfãos da Terra
Nem todos sabem que as bijuterias de Laila (Julia Dalavia), na novela Órfãos da Terra, foram confeccionadas por mulheres que estiveram em situação bem parecidas com a da personagem. Vivendo uma refugiada na novela das 18h da TV Globo, a atriz exibe modelos delicados feitos por mulheres do projeto Arte de Transformar -- Refazendo Vidas.
Tudo partiu de uma iniciativa da designer de joias Rosane Lopes que trabalhava em missões da ONU e viu despertar o desejo de capacitar mulheres, aumentando suas fontes de renda pelo mundo.
Rosane nasceu no Rio Grande do Sul, mas se considera uma cidadã do mundo e seu primeiro trabalho de sororidade foi desenvolvido na Baixada Fluminense, em 2014. "Após a enchente de Xerém naquele ano, fizemos um projeto para moradoras do entorno de Nova Iguaçu e Duque de Caxias que se encontravam em situação de risco. Na época, fizemos um trabalho de reciclagem de cápsulas de café para a confecção de bijus, biojoias e acessórios, organizando canais de vendas destes itens para geração de uma economia criativa -- e proporcionando renda complementar para estas mulheres e suas famílias", recorda.
Ela lembra que tudo começou de forma voluntária. "Acho que o empoderamento da mulher não deve ficar só no discurso, mas também deve ser na prática. Queria que elas tivessem uma forma de aumentar a renda e ter uma autonomia financeira. Além de ensinar a confeccionar bijuterias, eu também procurava pontos de venda. Procurava abrir mercado para elas", diz. Rosane ainda levou a oficina para a sede de uma ONG que atendia mulheres vítimas de violência.
No Oriente Médio
Em 2015, a agência da ONU onde trabalhou durante quinze anos na área de comunicação a reservou para uma missão no Iraque. "Eu fui para ficar três meses, mas amei aquele país e fiquei quase um ano e meio. O Oriente Médio tem uma cultura muito rica. Lá visitei um acampamento que era fronteira com Irã, Turquia e Síria. Conheci um grupo de mulheres e comecei a trabalhar com elas, durante as minhas folgas. Consegui materiais da região, como correntes, cristais e pérolas para fazer peças minimalistas, assim como essa que Laila usa na novela", lembra.
Quando voltou, em 2017, ela já estava com o pensamento firme de montar um ponto de venda e dar continuidade às oficinas. Ela conseguiu um espaço no Jardim Botânico, zona Sul do Rio de Janeiro. Para comercializar tantas criações desenvolvidas, surgiu o Atelier BZZ. Neste espaço, continentes são conectados por meio de mercadorias com inspirações étnicas e orientais, confeccionadas com materiais garimpados pelo mundo.
Dona de um olhar ampliado, Rosane aposta no reaproveitamento e maleabilidade nas peças criadas, permitindo múltiplos usos, como colares que viram pulseiras ou lenços que se transformam em turbantes e túnicas. Hoje, ela já conta com pontos de venda até na França. "Nosso objetivo maior é a expansão do projeto para outros acampamentos na região do Iraque, abrangendo cada vez mais refugiadas e comercializando globalmente", planeja.
De volta ao Iraque
Ela está de malas prontas para voltar ao Iraque em agosto e ampliar seu projeto, que dessa vez deixará de ser voluntário e se tornará profissional, comercializando os produtos produzidos pelas refugiadas do país. Contudo, restabelecer ou criar uma estrutura social é uma tarefa que não será esquecida. "Oferecemos fortalecimento psicológico e econômico às mulheres que sofreram abusos, estimulando uma existência nova e independente", ressalta Rosane, que planeja também abrir cursos de bijuterias em uma igreja na zona sul do Rio.
A designer cita dados da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). "Uma em cada três mulheres na América Latina não tem renda própria. E para cada 100 homens que vivem na pobreza, existem 117 mulheres. Objetivamos apoiar iniciativas protagonizadas por moradoras de áreas de risco através da economia solidária, estimulando o desenvolvimento econômico. Do mesmo modo, queremos a participação das mesmas na construção de uma sociedade mais resiliente", finaliza.
Serviço: Quem desejar participar do projeto pode ter mais informações pelo site: www.discipline4dignity.com
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