Ele está fazendo currículos de graça para transexuais: "Garantir dignidade"
Em uma publicação que repercutiu no Twitter, Bruno Ferreira tomou uma iniciativa de solidariedade a comunidade trans: "Se você é uma pessoa trans (travesti, transexual, homem trans, não-binário ou demais identidades trans) e precisa de um help para participar de processos seletivos para estágio ou vagas de semprego, eu faço o seu currículo gratuitamente".
A medida é necessária. No Brasil, país em que a expectativa de vida para transexuais é de 35 anos, o desemprego delas também entra em pauta.
Em 2014, a ONG Transempregos registrou apenas uma pessoa trans contratada, o que já cresceu em comparação a 2019, ano em que, pelo menos, uma delas é admitido todos os dias. 65% dessas vagas preenchidas são de telemarketing, recepcionista e atendimento ao cliente.
De 2013 para 2019, subiu de 16 para 66 o número de empresas que se interessam em contratar a comunidade. 31% dessas instituições têm uma área de RH específica para aumentar admissões e lidar com o preconceito. Ou seja, os números, fornecidos pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) são otimistas, mas não ideais.
"Muitos do que vieram até mim falam sobre a dificuldade de inserção no mercado de trabalho ou da importância do primeiro emprego para algumas conquistas - como sair da casa dos pais ou viver livremente sua identidade de gênero. Muitas pessoas também têm dúvidas sobre a utilização do nome social nas empresas, já que a retificação do nome de registro civil ainda não é um processo tão fácil de ser acessado pelos mais jovens - apesar de ser garantido pelo Supremo Tribunal Federal. Nesses casos, é importante ressaltar que as empresas podem (e devem) fazer uso do nome social dessas pessoas - o que é um importante passo na garantia e consolidação dos seus direitos e da sua dignidade. Uma coisa legal que aconteceu também foram empresas enviando mensagens para receber esses currículos", contou Bruno a Universa.
A iniciativa do jovem, de 24 anos e que mora em Niterói, no Rio de Janeiro, de fazer esses currículos gratuitamente foi "completamente pessoal e ridiculamente espontânea", como conta.
"Fui obviamente sensibilizado e motivado por todas as trocas que eu tenho com a comunidade e o movimento trans, bem como com as discussões sobre direitos e garantias da diversidade sexual e de gênero como um todo", diz ele, que recebeu o contato de Maite Schneider, uma das fundadoras do Transempregos, que o convidou para somar forças.
Tudo começou quando Bruno estava atualizando seu próprio currículo e pensou sobre a situação de pessoas que não possuem esse acesso, partindo do ponto do seu próprio ponto de vista em que amigos próximos sempre recorriam a ele para ajudar a montar o documento.
"Imaginei que essa poderia ser uma questão ainda mais importante para pessoas trans, que muitas vezes possuem dificuldade em ingressar e permanecer nos espaços tradicionais de educação e emprego. Isso é algo que eu observo muito também entre meus amigos e demonstra uma questão mais estrutural mesmo - a evasão/expulsão escolar de pessoas trans no Brasil é de 82% e 90% das pessoas trans no Brasil estão fora do mercado de trabalho formal - inclusive aquelas que conseguem superar a barreira educacional e ingressar no ensino superior, por exemplo".
E para quem precisar dos serviços de Bruno, é simples: basta preencher um formulário com seus dados e posteriormente aguardar pela devolutiva por e-mail.
"De início, eu pensei em tratar cada currículo individualmente por DM no Twitter, mas não achei que seria a melhor plataforma. Então fiz um formulário online que já solicitava as informações educacionais, profissionais e outras experiências que a pessoa julgasse relevante. Depois disso, entro em contato por e-mail já com uma versão inicial do currículo, que vamos adaptando o formato e o conteúdo com base nas expectativas e objetivos da pessoa. Hoje são cerca de cem solicitações de currículo aptas para produção, isso é, com o formulário preenchido".
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