Artista visual lésbica cria 'fonte sapatão' a partir de sapatos de mulheres
Você alguma vez já se perguntou se a Times New Roman, Calibri ou Helvética tem uma história por trás? Dá para uma fonte tipográfica ser política? Para a artista visual Duda Nieto, de 23 anos, a resposta é sim. Ela desenvolveu a Sola Type, uma "fonte sapatão", pensando dar visibilidade à comunidade lésbica, a partir de letras que ela retirou da sola de sapatos de mulheres lésbicas ou trans.
"Em uma aula de Design & Layout em 2018, tive um projeto que buscava encontrar tipografia oculta em lugares diferentes, como fruta, comida. No meu trabalho, no ambiente acadêmico e como artista visual, sempre dou um jeito de trabalhar a visibilidade lésbica, tema que me atravessa. Achei que não encontraria nada mais sapatão do que sapato, gostei da ideia também das pegadas deixadas por essas mulheres e resolvi procurar a tipografia em solas", conta Duda, que é bolsista na Miami Ad School, no Rio de Janeiro.
'Me manda uma foto da sola do seu sapato?'
A baiana começou seu projeto abordando mulheres na rua e pedindo, na cara de pau, para fotografar as solas de seus sapatos, mas estava difícil.
"Os sapatos acabam tendo solas iguais, com padrões muito parecidos", explica. Foi aí que veio a ideia de fazer um apelo online.
"Fiz um vídeo me achando blogueira, explicando e chamando mulheres a me enviarem fotos das solas de seus sapatos", lembra. Influenciadores LGBT
viralizaram o vídeo de Duda e ela recebeu mais de 300 amostras de fotos de solas de sapatos de mulheres, em sua maioria lésbicas, de todo o país.
Mas o trabalho estava longe do fim. "Salvei as fotos, anotei os nomes e informações de todas as pessoas que me mandaram para creditar, editei cada imagem, vetorizei e depois transformei em uma fonte. Foram nove meses de trabalho, uma gestação mesmo", brinca ela.
Ativismo além do óbvio
Para Duda, uma nordestina lésbica vivendo há cinco anos no Rio de Janeiro, a fonte imprime a sua história pessoal.
"Demorou muito para eu vestir a carapuça de sapatão. Quando cheguei aqui, ainda me considerava bi, e percebi que fui castrada para isso. Por ser baiana, por não performar muita feminilidade, por ser bolsista na Miami Ad, por ter caído em lugares muito elitistas aqui no Rio, a fonte é como uma resposta, uma forma de materializar a potência lésbica e de mostrar que estamos aqui", explica ela.
Duda recebeu um feedback muito positivo pelo caráter inovador do seu trabalho.
"Eu enxergo essa fonte como uma linguagem, uma narrativa, uma forma de reforçar a história. O ativismo está além da pesquisa, da história e da antropologia. O design pode ser ativista, pelo tempo que a gente passa na internet, a nossa comunidade é muito conectada. É uma ferramenta viva e pode ser usada para criar novas narrativas, novas formas de criar bandeiras, novas formas de visibilidade", diz ela, que disponibiliza a Sola Type gratuitamente aqui. Usar é simples, basta instalar e executar.
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