Ela diz que foi estuprada por parente, após desmaiar: "Confia no titio"
Monique Roza, 21, acusa o tio, irmão de sua mãe, de estupro. Ela conta que desmaiou após ser enforcada pelo homem, na casa dele. Acordou machucada, arranhada, rasgada. "Um trapo", descreve a mãe da vítima, que foi buscá-la após o ocorrido. A delegada Debora Rodrigues, da Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), Região Metropolitana do Rio, informa que o homem será ouvido nesta quarta (10). E que "foi bem difícil de achá-lo".
Horas após a noite de 20 de junho, Monique postou nas redes sociais a foto do suspeito: "Esse é meu tio, irmão da minha mãe. Ele me estuprou", dizia a postagem. Universa não conseguiu entrar em contato com ele.
Ela diz que não temeu qualquer represália da família ao expor o tio. "Sempre vi casos em que a vítima foi abusada por anos e não denunciava por medo e até por ameaça do estuprador. E sempre pensei: 'se fosse comigo, faria de tudo para sair dessa situação e conseguir justiça'".
Hoje, ela toma o coquetel anti-HIV cujos efeitos colaterais são vômito e disfunção hepática, entre outros. Também toma calmante que a deixa dopada na maior parte do dia. Antes de tomá-los — todas as manhãs, por 28 dias — ela atendeu ao telefonema de Universa para relatar como tem sobrevivido. Sua mãe, Chana, também falou sobre a relação conturbada com o irmão e seus pais, avós de Monique, e do apoio à filha.
"Tio legalzão"
Criada em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, Monique enfrentou depressão e anorexia no ano passado, após o término de um namoro. Preocupados, os avós maternos ofereceram abrigo na casa deles, em São Gonçalo. Os outros três tios, incluindo o suspeito, moravam bem próximos e tinham boa relação com a sobrinha.
Ele era o tio 'legalzão', e me levava para sair. Nunca fez nada"
No feriado de Corpus Christi (20), sobrinha e tio combinaram que ela iria para sua casa, onde mora também a mulher dele. O trio passou aquela quinta-feira ouvindo música, cantando no karaokê. O genro de sua tia completou o coral. Mais tarde, o grupo resolveu passar numa lanchonete perto da casa onde estava.
"Eu coloquei um body e short. Ele desceu meu shorts até o joelho e falou que eu não podia usar porque estava muito curto. Mas não levei na maldade. Achei que era cuidado. Vesti o short de novo e saímos assim".
Na volta para a casa, a mulher de seu tio esqueceu a carteira no bar e voltou para pegá-la. Ficaram na sala tio, sobrinha e o genro. O suspeito, conta Monique, mandou o jovem "dar uma volta". Ele ficou no quintal e presenciou tudo. É a principal testemunha do caso.
Pediu pra "confiar no titio"
"Meu tio trancou a casa e essa pessoa ficou socando as janelas. De repente, ele me deu um beijo. Eu recuei, assustada. Ele falou para eu ficar calma e 'confiar no titio'. Lembro dele em cima de mim falando um monte de coisa. Lutei um pouco e levei mordidas. Ele me enforcou e eu desmaiei. Fui arrastada pela casa e então ele fez tudo que queria. A mulher dele chegou e, junto com o genro dela, conseguiram entrar. Eu estava no chão do quarto deles e meu tio no sofá da sala como se nada tivesse acontecido. Ele falava para eu não contar para ninguém. A mulher dele não conseguia parar de chorar".
Foi a própria mulher do suspeito quem ligou para a mãe de Monique, mas não conseguiu explicar o que acabara de acontecer. E então a vítima relatou cada detalhe. Sua mãe pegou um carro, atravessou a Ponte Rio-Niterói e resgatou a filha. Dali, foram direto para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Jacarepaguá. Em seguida, registraram a ocorrência na 72ª DP (São Gonçalo).
Enquanto isso, o homem saiu da casa e desde então a família conta que nunca mais o viu. Ele já foi localizado pela polícia, de acordo com a delegada.
"Ele ainda pegou R$ 50 da minha bolsa", acusa Monique.
Monique acha que sua avó materna não acredita na sua versão. No lugar de ouvi-la, conta, ela questionou se a neta havia ingerido bebida alcoólica.
"Quando contei, ao telefone, ela ficou horrorizada no começo, disse que preferia estar morta, mas pediu para eu não ir ao médico nem à polícia. Acho que queria abafar o caso. Alguns dias depois, pediu para pegar minhas coisas de sua casa porque se mudaria dali. Cheguei lá com tudo para fora da casa e as portas trancadas, com fechaduras trocadas".
Infância violenta
A mãe de Monique, Chana, de 40 anos, diz que em nenhum momento duvidou de seu depoimento. Ela também falou com Universa.
"Primeiro, quando recebi a notícia, tinha a sensação de que eu havia morrido. Parece que tinham me dado um soco e eu gritava muito. Depois, saí desesperada para encontrá-la. Chegando lá, meu chão se abriu. Ela estava que nem um trapo", descreve Chana.
Ela conta que, junto aos três irmãos, foi maltratada pelos pais na infância. "Éramos tratados como escravos e apanhávamos muito".
Ao se casar, foi a única que se mudou do bairro e foi viver em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Mas frequentemente tinha notícias de que o irmão agredia a ex-mulher.
"Não quis me envolver mais com esta família, mas agora todas as lembranças ruins voltaram. Quero olhar para a cara dele e perguntar o por quê. Já tivemos uma infância tão dolorida, e ele ainda me dá isso de presente".
Os outros dois irmãos de Chana, ela afirma, estão preocupados com a má fama que "manchou a família", e não ofereceram ajuda.
"Em momento algum duvidei da minha filha. Eu, meu marido e minhas filhas, de 17 e 13 anos, somos os únicos ao lado dela. Quem achei que ia ficar ao meu lado sumiu".
Mais de 80% dos casos de estupro são dentro de casa
A delegada Debora Rodrigues conta que o homem deve prestar depoimento esta semana. Se ele não aparecer, sua prisão poderá ser decretada. A titular da Deam de São Gonçalo informa que estupros cometidos por parentes estão entre a maioria dos casos. As vítimas têm entre 9 e 11 anos, em sua maioria.
Quer ouvir o pior? Tem pai que chega aqui falando que já que a filha irá perder a virgindade mesmo que seja com ele".
Debora lembra que crimes cometidos contra menores de idade não prescrevem: se a vítima sofreu abuso quando pequena, ela pode denunciar a hora que for. Está na lei: desde 2012, a contagem para prescrição de crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes passou a ser calculada a partir de quando as vítimas completam 18 anos e não mais da data de quando o abuso foi praticado.
"Vivo um dia de cada vez. Hoje só quero que ele pague", finaliza Monique.
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