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Mentir para o ginecologista: por que isso pode estragar sua vida sexual

O ginecologista é um aliado da sua vida sexual - iStock Images
O ginecologista é um aliado da sua vida sexual Imagem: iStock Images

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

16/07/2019 04h00

Pudor, vergonha, medo de julgamentos, desconhecimento e até acreditar que compartilhar certas informações não é algo relevante estão entre os motivos que levam muitas mulheres a omitir dados e até mesmo a mentir no consultório do ginecologista. Isso pode ser extremamente prejudicial, pois não só impede o médico de orientá-las da forma correta, como atrapalha os próprios cuidados com a sexualidade, de forma geral.

Confira, a seguir, fatos importantes que devem ser revelados ao especialista.

Abortos voluntários ou espontâneos

"O conhecimento médico de antecedentes de abortos permite que o ginecologista associe essa informação a detalhes de alterações menstruais ou mesmo dificuldades para engravidar, caso haja alguma sequela na cavidade do útero por causa desses procedimentos", observa Maurício Simões Abrão, médico gestor do serviço de Ginecologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Relatar esse tipo de experiência pode fazer a diferença em diversas questões, como determinar se há risco de cicatrizes internas que podem causar a chamada Síndrome de Asherman, um quadro grave associado a sintomas como ausência de menstruação, abortos de repetição, problemas na placenta ao engravidar novamente, infertilidade e dor pélvica crônica. "Além disso, podem existir questões psicológicas que podem influenciar a sexualidade atual e o futuro obstétrico da mulher", diz a ginecologista Bárbara Murayama, coordenadora da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho, em São Paulo (SP).

Múltiplos parceiros

Se a sua vida sexual for agitada e sem um parceiro fixo, provavelmente você tem maior risco de adquirir ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). O médico, ciente disso, pode orientar sobre o uso correto de preservativos, como a troca necessária se a penetração ocorrer em orifícios diferentes, mesmo que com o mesmo homem. "Há doenças que podem ser tratadas e curadas, outras apenas controladas. Algumas, como a herpes, impedem que a mulher tenha relações durante a vigência das lesões pelo risco de transmissão para o parceiro e também pelo risco maior de adquirir outras doenças nessa fase", conta Bárbara, que comenta que esse tipo de informação muitas vezes é suprimida pela paciente, por receio de ser julgada moralmente.

"Não cabe a nenhum ginecologista julgar as informações que a mulher traz em consulta. Cabe a nós acolher e buscar ajudar, orientar e cuidar do que estiver ao nosso alcance. Caso o médico que costuma atendê-la não agir com respeito e acolhimento em algum momento, sugiro que procure uma segunda opinião", pontua.

Consumo de drogas lícitas e ilícitas

Para o ginecologista e obstetra Antonio Pera, da Clínica Pera, em São Paulo (SP), o médico deve saber se a paciente fuma, bebe ou usa drogas ilícitas. "Há doenças relacionadas com essas substâncias e existem medicações que não podem ser prescritas por causa delas. Assim, é de fundamental importância que essa informação nunca seja omitida", afirma. Para se ter uma ideia, a associação de cigarro com alguns tipos de anticoncepcionais aumenta em 30 vezes a incidência de infarto, derrame ou trombose.

Certas medicações combinadas ao álcool produzem sensação de morte. "E se a mulher usar cocaína e for submetida a alguns tipos de anestesia pode ter uma arritmia e morrer", completa Pera. Já Bárbara lembra que o uso de drogas frequentemente está ligado a hábitos sexuais desprotegidos, o que traz riscos de ISTs. "Muitas vezes, o ginecologista é o único profissional de saúde que a mulher passa para rotina. Então, temos a obrigação de identificar esses hábitos ruins ou uma dependência e, sem julgamentos hostis, buscar ajudá-las, acolhê-las e tentar oferecer tratamento", declara a médica.

Desconhecimento sobre anticoncepcionais e exames

Até mesmo as mulheres com uma vida sexual ativa há bastante tempo podem ter dúvidas sobre métodos de contracepção ou receberem a prescrição para fazer um procedimento nunca antes realizado. Não há motivo para se envergonhar disso, tampouco para se achar experiente o bastante para dispensar recomendações. A todo momento a indústria farmacêutica lança novidades e somente o ginecologista é capaz de apresentar as melhores alternativas para cada paciente.

"O importante é que todos os riscos, benefícios e informações sobre cada tratamento sejam bem explicados. Assim, você pode ir para casa com tudo em mãos e pensar com calma sobre o que é o ideal", fala a ginecologista e obstetra Caroline Alexandra Pereira, da Clínica Viváter, de São Paulo (SP). Esclarecimentos sobre exames -- como são, preparo, razão para a solicitação etc. -- também devem ser feitos com o médico para evitar preocupações à toa.

Detalhes da sua vida sexual e da intimidade

"O dever do profissional não é julgar o que você faz ou deixa de fazer, mas sim saber para poder avaliar os riscos e também as prevenções necessárias para deixar tudo 'nos trinques'. Portanto, não tenha medo nem vergonha de falar sobre todas as relações que já teve ou tem ou até mesmo sobre as que você pretende ter se ainda não perdeu a virgindade", conta Caroline. O tipo de sexo realizado -- oral, anal, vaginal -- e se é feito com preservativo também precisa ser relatado. "Além disso, é bom falar sobre problemas pessoais, familiares ou no trabalho que possam estar afetando o bem-estar, para que o médico avalie tudo com cuidado", diz o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo Nogueira, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP).

De acordo com Elaine Sangalli Mallmann, ginecologista da Clínica Leger, em Porto Alegre (RS), algumas confissões também têm seu espaço numa consulta ginecológica. "É muito bom poder dividir com alguém as preocupações, especialmente com uma pessoa capacitada para ajudar. Revelar que fez ou faz sexo desprotegido, que já sofreu abuso sexual, que o parceiro tem relações com outras mulheres ou até mesmo que a relação atual é cheia de conflitos pode ajudar a explicar uma dor pélvica de longa data, por exemplo, cuja causa até agora ninguém conseguiu descobrir", explica Elaine.

Mania de se automedicar

Segundo Elaine, trata-se da omissão mais comum -- e uma das mais prejudiciais. "Às vezes, o médico tem que ser muito perspicaz para poder descobrir tudo o que a paciente usa: vitaminas, suplementos, remédios para melhorar unhas, cabelos, crescer cílios, dar disposição, aumentar a libido... E uma infinidade de medicamentos que são prescritos pelas amigas ou ingeridos sem orientação e que podem interagir com anticoncepcionais, por exemplo, modificando o efeito uns dos outros ou de alguma medicação que é vital para aquela paciente", avisa.

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