"Achei que ela fosse dar a volta por cima", diz amiga de Alinne Araújo
Resumo da notícia
- A influenciadora Alinne Araújo iria se casar com Orlando Costa no fim de semana.
- Ele terminou com ela por mensagem de texto no Whatsapp na véspera da cerimônia e Alinne decidiu se casar consigo mesma.
- Após a cerimônia, ela recebeu muitas críticas e ataques na internet -- os comentários diziam que ela estava fazendo marketing da situação.
- Ela provavelmente se suicidou na tarde de segunda (15). A polícia apura as causas da morte.
- Especialista fala sobre o impacto de comentários negativos em rede social em pessoas com histórico de depressão.
A influenciadora Alinne Araújo, do Instagram @sejjesincera, provavelmente cometeu suicídio na tarde de segunda-feira (15). Seu ex-noivo cancelou o casamento na véspera da cerimônia e seu relato sobre a decisão de casar consigo mesma viralizou nas redes, trazendo inúmeros comentários negativos. Ela protagonizou a cerimônia sozinha, no domingo. Um dia depois, Alinne, que tinha 24 anos, caiu da janela do prédio, no Rio de Janeiro.
Melhor amiga de Alinne e madrinha de seu casamento, Odara Marina Damasio conversou com Universa e contou que a depressão acompanhava Alinne há muitos anos.
"Eu a conhecia desde os 15 anos e desde sempre ela lutava contra a depressão e a ansiedade. Foram várias tentativas de suicídio. Há uns dois meses, ela ficou internada dois dias depois de tomar muitos remédios. Já se cortou também. Uma vez, a mãe dela pegou ela com metade do corpo para fora da janela", relembra a amiga.
De acordo com Odara, Alinne se jogou do apartamento em que morava. A Polícia Civil informou que foi instaurado inquérito para apurar os fatos e as circunstâncias da morte de Alinne e que a perícia foi realizada e testemunhas foram intimadas para esclarecer os fatos.
"Ela fez o Instagram para falar de saúde mental e ela tinha muito apoio ali, era acolhida, comentou que os seguidores vinham crescendo rápido. Ela estava com uns 25 mil seguidores em seu perfil pessoal antes disso tudo", conta a amiga, consternada. Até o fechamento dessa matéria, o número havia quadruplicado: são quase 100 mil. Na página Sejjesincera, ela acumula mais mais de 350 mil seguidores.
No domingo, o número de seguidores disparou depois que ela relatou que seu companheiro, Orlando Costa Jr., tinha terminado com ela por meio de mensagens de texto na véspera do casamento. Ela decidiu, então, casar-se consigo mesma.
"Ela falou 'eu nunca vi isso, tem até hater', mas apesar dos comentários ruins, também estava tendo uma repercussão muito positiva. Tinha muita gente da imprensa querendo falar com ela. Eu achei que ela fosse dar aquela volta por cima bem de filme mesmo, sabe? Eu achei que ela estava bem com isso, de alguma forma", diz a estudante de arquitetura que também tem 24 anos.
Odara relata que a relação de Alinne e Orlando Costa Jr. era boa. "Ele era um cara bacana e já fez muita coisa por ela, mas a família dele dizia que ela era interesseira e era contra o relacionamento por isso. Acho que ele foi muito influenciado pela família", diz ela.
Em sua conta no Instagram, Orlando Costa Jr. se disse acabado, "não existo mais". Depois, ele apagou sua conta privada. Eles fariam dois anos de namoro no dia do casamento, de acordo com Odara, e já moravam juntos.
Nas redes, famosos como Whinderson Nunes, Babi Rossi, Alexandra Gurgel, Luiz Bacci e Camila Monteiro lamentaram o ocorrido.
Achar culpados não é a solução
Após a notícia do suicídio de Alinne se espalhar, o público das redes sociais passou a comentar o caso e o nome da influenciadora chegou aos Trending Topics do Twitter brasileiro na noite de segunda (15). Porém, grande parte dos comentários falavam em quem seria o culpado pelo incidente: Orlando, por ter terminado com Alinne às vésperas do casamento, ou os comentaristas que a chamaram de "marketeira" após decidir aproveitar a festa de casamento sozinha.
Henrique Bottura, psiquiatra da Clínica Psiquiatria Paulista e do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que a tentativa de achar culpados em casos de suicídio é um reflexo humano natural para se distanciar da situação. "Sempre que acontece algo difícil ou que nos angustia, seja um acidente ou uma situação específica, a gente vai sempre tentar achar um culpado, é uma reação para aliviar a dor. A projeção é quase que natural, é uma forma de nossa consciência não se sentir vulnerável", diz.
Entretanto, é complicado estabelecer relações de causa e efeito em casos complexos como o de Alinne, que já enfrentava uma depressão e pensamentos suicidas há tempos. Quem explica é Yuri Busin, psicólogo, doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (CASME).
"O suicídio é uma junção de diversos fatores que culminam na tentativa. A gente não pode crucificar um único culpado, a mente humana não é tão lógica. Ela é um conglomerado de variáveis que interferem nas nossas ações. Claro que todo mundo tem sua participação e se sente culpado de alguma forma. O que é importante tirar desse caso é que as pessoas precisam muito de suporte, e parar de achar que depressão e ansiedade são frescura ou bobagem", afirma.
Procurar ajuda e se distanciar das redes pode ajudar a manter a sanidade mental
Os especialistas ressaltam que, em tempos de comentários odiosos na internet, é necessário manter um distanciamento do que se diz nas redes para não se deixar levar pelas opiniões negativas.
"A internet é um ambiente tóxico. As redes sociais têm fatores que pioram sim a saúde mental, mas tem coisas muito boas que ela também promove, depende do uso da pessoa e do controle do próprio eu. Por isso, precisamos lembrar que, quando a gente posta as coisas nas redes, estamos expostos. Quando a gente se expõe, estamos abertos a tomar porradas e receber elogios. Se a pessoa está em dúvida se consegue lidar com isso, às vezes é melhor se afastar daquele ambiente", aconselha Busin.
"Tudo depende muito da sua perspectiva. É preciso entender que não tem como agradar 100% das pessoas. Boa parte quer aprovação, que muitas vezes vem na forma do like no Instagram, por exemplo. Agora, para influencers, no caso, tanto os likes quanto o ódio vêm numa escala ainda maior. Por isso, é preciso sempre pensar se você consegue lidar com as consequências daquela exposição, mas o mais importante de tudo é não ter vergonha de procurar ajuda e encontrar um psicólogo que possa te ajudar a lidar com tudo isso, para não adoecer ou piorar".
Bottura complementa: "Se alguém te critica, é preciso ser capaz de fazer uma distinção de que aquilo que dizem de mim não necessariamente é verdade, e que nem tudo que dizem de alguém faz sentido".
Se você está passando por algo semelhante ou conhece alguém que precise de ajuda, disque 188 - Centro de Valorização da Vida
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