Thiessa: "A cirurgia de redesignação sexual nunca me fez mais mulher"
Thiessa Woinbackk viu a decisão de tornar pública sua identidade de gênero uma forma de se conhecer e, sobretudo, se aceitar como mulher. Aos 29 anos, hoje ela é uma youtuber de sucesso, com quase 700 mil inscritos em seu canal, criado em 2016.
"Eu me escondia, não queria que as pessoas soubessem que eu era trans. Só que esconder isso traz problemas. Esconder isso é como se negar de alguma forma", opina a influencer em entrevista para Universa durante encontro de embaixadoras da Salon Line em Tulum, no México.
A jovem foi criada em Catalão, cidade de cerca de cem mil habitantes no interior de Goiás, cidade em que nunca se sentiu completamente aceita: "Eu não pertencia aos grupos da escola, sempre fui a pessoa sozinha. Não sabia quem eu era direito. Achavam que era travesti, bem assim mesmo. Era sair na rua e ser apontada pelos outros".
Foi próximo a completar os 18 anos que Thiessa passou a se entender, mesmo com a falta de informação sobre o assunto. Ela conta que, na época, passou a reproduzir estereótipos criados sobre as mulheres como ferramenta de autoafirmação. "Hoje eu sei que usar roupa apertada, maquiagem e salto alto são coisas construídas como femininas. Mas essa era a única informação que eu tinha, então comecei a fazer isso," relembra.
Adolescência
A adolescência de Thiessa foi construída com a ajuda dos amigos, mesmo que nem todos lidassem bem com sua transexualidade: "Quando eu comecei a me compreender, sair, fiz amizade com a galera LGBTQ+. Eles me apoiaram no geral, mas a gente sabe que existe preconceito até entre nós mesmos, né?"
Dentro de casa não era diferente. Thiessa foi criada pelos avós paternos e, enquanto o avô sempre incentivou sua autoestima, como quando usou salto alto pela primeira vez, o relacionamento com o pai era extremamente conturbado.
"Eu e meu pai sempre brigamos muito. Ele nunca foi uma pessoa que me proibia de fazer as coisas. Me ajudou com as consultas médicas, os remédios. Tudo foi ele quem fez, mas nunca me tratou no feminino. No meio das pessoas, ele ainda me chama pelo nome antigo", diz ela, que quando questionada sobre a mãe, foi breve: "Não tenho contato com ela desde criança."
Tratamento hormonal e cirúrgico
O tratamento hormonal citado por ela levou tempo, mais do que esperava: "A sorte é que eu fazia Biologia na Universidade Federal de Goiás, então sabia que ingerir de forma desregulada estragaria meu corpo. Então, aos 20 anos, procurei um tratamento em Uberlândia (MG) e encontrei. É difícil porque você acha que vai sair com a receita, mas existe todo um processo. Mas no primeiro dia que tomei... Saí de lá pensando: 'eu sou muito mulher' (risos). Foi incrível".
Sobre a cirurgia de redesignação sexual, pela qual passou em 2014, aos 24 anos, Thiessa é categórica: nunca a fez mais mulher e, se questionada, não faria de novo.
"O pós-operatório foi o pior para mim, foi uma cirurgia complicada. Não me fez mais mulher, mas tem muita menina trans que se liberta a partir disso. Cada caso é um caso. Para mim, só mudou o conforto na hora da relação sexual", opina.
Mercado de trabalho
Depois de se formar em Biologia, Thiessa se estabeleceu em Uberlândia. Conseguir um emprego não foi fácil. Assim que chegava às entrevistas, Thiessa era muito bem recebida até o momento em que empregadores analisavam o currículo com seu nome antigo.
"Eu via na cara da pessoa. Só consegui um trabalho em uma empresa que emprega muita gente da comunidade LBGTQ+. Trabalhei lá como analista de pesquisa internacional", relembra.
Os problemas começaram a surgir quando a jovem começou a ser perseguida pela sua chefe, situação que despertou nela crise de pânico, ansiedade e gastrite nervosa.
"Saía de casa com moletom, touca. Toda coberta. Não queria que ninguém me visse na rua. Tudo isso em um calor de 35 graus. Me diziam que ela pedia para verificar tudo o que eu fazia duas vezes, sendo que isso não acontecia com mais ninguém. Não tinha outra pessoa trans para eu comparar. Por que na equipe toda, com gente cisgênero, ela só cismava comigo, que sou trans?", questiona.
Naquela época, ela saiu do emprego, voltou para Catalão e começou a trabalhar com as redes sociais. A revelação de sua transexualidade veio com o tempo. "Às vezes esconder quem você é prejudica só a si mesmo. É como se fossem correntes, cada vez mais apertadas", diz Thiessa, que hoje mora em São Paulo e se dedica totalmente à profissão de youtuber.
* O jornalista viajou a convite da Salon Line
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.