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É mesmo a hora de tirar a fralda? Especialistas ajudam a perceber os sinais

Na hora de tirar a fralda da criança, a palavra-chave é paciência! - iStock
Na hora de tirar a fralda da criança, a palavra-chave é paciência! Imagem: iStock

Ana Bardella

Colaboração para Universa

20/07/2019 04h00

Desfralde: a palavra que deixa pais e mães de cabelos em pé é inevitável. Passar da fralda para o penico ou vaso é um passo importante para o desenvolvimento de qualquer criança. Se vai ser rápido ou desgastante, não há como prever. E uma das principais dificuldades dos responsáveis está em perceber o momento certo para dar início. Será que a criança está mesmo preparada?

Anna Chiesa, professora do departamento de enfermagem em saúde coletiva da FMUSP, adianta que, apesar de não existir uma idade certa para iniciá-lo, o ideal é não fazer as tentativas antes dos 2 anos. "Biologicamente, é preciso que esteja desenvolvida uma rede interna que faz o controle da coluna vertebral. Enquanto essa habilidade não estiver pronta, não é possível trabalhar o comportamento", diz.

Além da idade, outros fatores precisam ser levados em conta. Thais Bustamante, pediatra e neonatologista, explica: "Em termos motores, a criança precisa ter mobilidade suficiente para andar até o banheiro sozinha, abaixar as calças e conseguir ficar sentada de maneira estável. Do ponto de vista cognitivo, deve ser capaz de comunicar necessidades e de seguir orientações simples". Mas, na opinião da especialista, o ingrediente fundamental para o sucesso é a vontade da própria criança. "É preciso que esteja engajada no processo. Caso contrário, as tentativas provavelmente resultarão em estresse para os pais", diz.

Processo demorado

Priscila Silvestre é jornalista e mãe do Rafael, de 3 anos. Ela conta que o desfralde não tem sido simples. "Comecei em fevereiro. Atualmente ele faz xixi na privada às vezes, mas pede pela fralda com frequência. Uma vez chegou a perguntar se podia 'cortar o piu-piu', e quando eu perguntei o motivo, explicou que não 'queria mais fazer xixi'. Provavelmente por estar cansado de me ouvir perguntar sobre sua vontade de ir ao banheiro", relata.

A jornalista Priscila Silvestre conta que o desfralde do filho Rafael, de 3 anos, não tem sido simples - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A jornalista Priscila Silvestre conta que o desfralde do filho Rafael, de 3 anos, não tem sido simples
Imagem: Arquivo pessoal

Em sua opinião, a dificuldade está relacionada a dois fatores: "Rafael passa os finais de semana com a família do pai e, apesar de ser incentivado lá também, acredito que a mudança de local possa influenciar", diz. Além disso, quando iniciou o processo, fez por vontade própria, sem que o menino tivesse demonstrado interesse. Mas a mãe está confiante: "Acredito que, aos poucos, ele mesmo vai se animar e passar da fralda para a cueca".

Truques que podem ajudar

De acordo com Thais, o ideal é iniciar o desfralde quando perceber que a criança se sente incomodada com o cocô e o xixi acumulados. "Ela mesma passa a avisar que a fralda está cheia", aponta. Se conseguir permanecer mais de duas horas com a fralda seca, este também é um bom sinal. Em seguida, converse. "Explique da forma mais natural possível que o corpo produz cocô e xixi a partir do que se come e bebe. E que, quando vem a sensação de que a barriga está cheia, é hora de ir ao banheiro", orienta.

Depois providencie os itens necessários, tal como um penico ou redutor de assento. O importante é que ela se sinta confortável, não muito "solta" e com medo de cair no buraco do vaso, e fique com os pés apoiados. Para facilitar, evite jardineiras, macacões, vestidos complicados, bodies e calças com cinto. Cuecas ou calcinhas de personagens também servem como estímulo. "Se puder, faça o processo em um período quente do ano, pois, se escapar, fica mais fácil lavar e secar as roupas", complementa Anna.

Lembre-se também de manter a porta do banheiro aberta. "No início, vale a pena lembrar a criança de ir ao banheiro cerca de uma hora após as refeições", indica Thais. Se ela frequenta creche ou escola, deixe os cuidadores avisados sobre a transição, para que estimulem que ela aconteça fora de casa também.

Por último, a pediatra recomenda dar tchau para o cocô ou xixi. "Algumas crianças podem ter dificuldades de se 'desapegar' deles. Assim, você comemora de forma natural, sem exageros, mas também deixa claro que aquilo deve ser descartado", ressalta. Reforce sempre a importância de se limpar da forma correta (principalmente as meninas devem ser orientadas a fazer isso de frente para trás, para evitar infecções urinárias), de vestir as roupas e depois de lavar as mãos. Mas esteja presente no ritual enquanto for necessário. "Até os 4 anos, toda criança precisará da ajuda dos pais para se limpar de forma adequada", reforça.

Paciência é a palavra-chave

"A tendência é querer ver o resultado logo, mas nem sempre isso é possível. É preciso lembrar que crianças gostam de ser autônomas e, se não estão conseguindo, não é porque estão sacaneando os mais velhos", aponta a professora. "Mesmo com um treino adequado, escapes podem acontecer. Procure não demonstrar ansiedade, frustração ou dar bronca na criança. Quanto mais estresse, mais pesado se torna o processo. Algumas podem inclusive começar a segurar o cocô, o que pode levar a prisões de ventre e problemas de saúde", alerta a pediatra. O melhor é agir naturalmente e respeitar o tempo de desenvolvimento de cada uma.

Regressões são normais?

De acordo com Thais, o ideal é não começar o processo antes de grandes mudanças na vida da criança, tal como o nascimento de um irmão ou uma transição de casa ou escola. "Crianças pequenas vivem de rotina: qualquer alteração é suficiente para bagunçar o mundo e a cabeça delas. O melhor, portanto, é esperar as mudanças acontecerem e a criança se adaptar a elas antes do desfralde. Regressões podem estar associadas a estes motivos. Se perceber que a hora foi imprópria e que as coisas não estão saindo como o previsto, vale a pena dar um tempo e tentar novamente quando tudo estiver mais tranquilo", finaliza.

Depois de adaptado durante o dia, o que quer dizer vários dias sem fazer xixi fora de hora, é hora de tirar a fralda à noite. Novamente, vale ter uma dose extra de paciência com os escapes, que dão um pouco mais de trabalho. Procure ter uma colcha plástica sob os lençóis para facilitar a limpeza nesse período. No começo, é preciso perceber os horários da criança e até acordá-la para fazer xixi antes que os "acidentes" aconteçam. Mas a palavra de ordem é paciência, dizem os especialistas. "Pode levar de seis meses a um ano. Antes de começar, leve sempre a criança para o banheiro de manhã, logo que acordar, e certifique-se de que a fralda está seca", ensina Thais. Uma hora o processo fica natural.