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Deu Match!?

Fakes em apps de pegação: o que fazer quando você dá match com um deles?

Aplicativos têm criado ferramentas de denúncias mais eficazes após aumento de casos de violência nas plataformas - Getty Images
Aplicativos têm criado ferramentas de denúncias mais eficazes após aumento de casos de violência nas plataformas Imagem: Getty Images

Natália Eiras

De Universa

25/07/2019 04h00

Você dá match com uma pessoa no Tinder que parece perfeita. Ela tem rosto de artista de novela e uma personalidade que você sempre quis encontrar. É tudo tão perfeito que até parece mentira. Às vezes, não só parece; é mentira. Aplicativos de relacionamento também reúnem perfis falsos, comuns em redes sociais. No Tinder ou no Happn, no entanto, as coisas são um pouco mais complicadas. "A gente supõe que haverá um encontro na vida real, e há muitos casos de violência que aconteceram após um match em aplicativo", conta a Universa a advogada Mariana Valente, diretora do InternetLab, centro de pesquisa de Direito e tecnologia em São Paulo, e integrante da Rede Feminista de Juristas.

A analista de social media Izabella Jacintho, 22, de São Paulo (SP), ficou assustada quando lhe mostraram um perfil do Tinder que usava fotos suas, incluindo algumas em que estava de biquíni, cuja descrição dizia que ela era "lésbica com muito orgulho". "Já tinham feito fakes meus, mas nesse caso temi que estivessem usando minha imagem para atacar outras mulheres e até mesmo meninos. Podia ser qualquer pessoa por trás daquele perfil, até mesmo um pedófilo." Ela então acionou o Tinder, que pediu mais informações. A jovem encaminhou capturas de tela e imagens que havia reunido e, 12 dias depois, o aplicativo disse que havia banido a conta falsa.

O medo de Izabella não é gratuito. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo, compilados pela ONG Fiquem Sabendo e divulgado pela agência Gênero e Número, o índice de pessoas que sofreram violência em encontros marcados por aplicativo aumentou 250% nos últimos cinco anos. "Além do risco criminal, há também o risco emocional, uma vez que a pessoa cria uma relação de confiança com você e pode obter informações sensíveis, que vão desde dados pessoais até fotos íntimas, para ter algum tipo de vantagem", afirma Valente.

O designer Rafael Araujo, 31, também de São Paulo (SP), já deu match no Tinder com pessoas que não eram quem diziam ser. Na primeira vez, o cara sumiu quando eles estavam marcando de sair. "Algumas semanas depois, pelo explorar do Instagram, vi a foto do menino, entrei no perfil e percebi que tinha sido enrolado. Eram as mesmas fotos que estavam no Tinder, mas o dono do Instagram nem brasileiro era...". Em outra ocasião, o dono de um perfil confessou que estava usando as imagens de outra pessoa. "Ele disse que queria provar uma teoria, de que eu o trataria melhor caso fosse mais bonito. Bloqueei ele em todos os lugares."

Mariana Valente diz que, tanto no caso de Izabella como no de Rafael, o caminho mais efetivo é acionar os próprios aplicativos de relacionamento. "Eles têm canais de comunicação que, com a pressão da mídia e dos juristas, têm se tornado cada vez mais eficientes na hora de derrubar perfis falsos que podem oferecer algum tipo de perigo para seus usuários. É obrigação deles manter a segurança de seus clientes", diz a advogada.

O que os aplicativos estão fazendo para prevenir?

Mariana Valente diz que o papel dos aplicativos em derrubar perfis fakes é muito importante para manter o ambiente seguro. Em comunicado oficial para Universa, o Tinder disse que utiliza uma rede de ferramentas para "fazer varreduras automáticas em perfis para verificação de uso de imagens e/ou linguagem que vá contra nossas diretrizes, bloqueio de endereços de e-mails e números de telefone que já tenham sido denunciados anteriormente." Eles incentivam a comunidade a "relatar quaisquer ocorrências de condutas por meio da ferramenta de denúncia apresentada em todos os perfis do Tinder ou entrando em contato com nossa equipe por e-mail".

O Happn, que usa a geolocalização para mostrar pretendentes, também incentiva que seus usuários reportem qualquer tipo de problema. "Cada chamado aberto é revisado pela nossa equipe de Suporte ao Cliente, que verifica manualmente cada caso. Se eles são identificados como fakes, os perfis são proibidos de utilizar o aplicativo novamente."

A chefe de projetos do aplicativo AdoteUmCara, Karolina Ciccarelli, fala para Universa que, além do canal de denúncia, a empresa tem uma ferramenta de inteligência artificial que percebe comportamentos suspeitos dentro da plataforma. "Como, por exemplo, se uma pessoa fica mandando a mesma mensagem para muitas pessoas em um curto espaço de tempo. Isso nos permite verificar perfis controlados por robôs", diz a empresária.

Caso os aplicativos sejam avisados e não tomem nenhuma providência, eles podem ser processados pelo usuário afetado. "Se a vítima provar que o uso de suas fotos por um fake ou sua relação com um perfil falso tenha causado danos, mesmo que sejam emocionais, ela pode mover uma ação civil de indenização", afirma Mariana Valente.

Posso denunciar o fake à Justiça?

De acordo com o artigo 307 do Código Penal, o uso de imagens de outra pessoa configura crime de falsa identidade. "O fator complicador é ter evidências de que o acusado está usando as fotos para causar um dano a alguém. A pessoa pode, então, fazer uma denúncia para abrir uma investigação", explica Mariana Valente.

A ação civil de perdas e danos também pode ser movida contra o autor do perfil falso. "Neste caso, acione um advogado para entrar com um processo de identificação, o que é muito simples, pois é um rastreamento do IP da pessoa. Uma vez identificado esse IP, o acusado também pode ser processado por perdas e danos", afirma a especialista. Isso porque, mesmo que não tenha acontecido "nada de mais grave", a quebra de confiança pode causar dano emocional. "Afinal, foi criado um laço emocional pela internet e alguém foi enganado. Isso pode ser muito custoso psicologicamente."

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