"Bora pra Void?" As roupas e ideias dos clientes do bar de SP que dita moda
Vale abrir o guarda-roupa dos seus pais, olhar debaixo da cama e até ir ao bazar de igreja mais próxima da sua casa. Se você gosta de moda, é nesses lugares que vai encontrar as peças necessárias para manter um look atualizado e estiloso. Quem ensina são os frequentadores da Void, uma loja-bar-revista, que conquistou os jovens modernos e virou influenciadora de tendências do lifestyle urbano.
Em São Paulo, há um grande espaço no Largo da Batata e outro no Centro. No Rio de Janeiro, a marca está espalhada em sete endereços diferentes na zona sul e oeste da cidade. Há mais dois endereços em Porto Alegre, cidade onde fundadores e sócios pensaram na marca pela primeira vez, todos homens. Eles não estão dando entrevistas no momento: prometem um reposicionamento de marca para o próximo mês. Mas é sobre os clientes que vamos falar.
Os frequentadores, a maioria entre os 20 e 25 anos, incautos e preocupados seguem lotando a casa em filas para comprar suas bebidas e os descolados bolovos -- a casa não tem garçons.
Como você pode ver nas fotos abaixo, podem facilmente ser confundidos com os personagens de "Stranger Things", série da Netflix que se passa em 1984. Universa esteve na unidade do Largo da Batata, para retratar como "a moda Void" reflete a juventude.
Entre as características dos looks, um reflexo da juventude: liberdade para misturar tudo e enfrentamento às barreiras de gênero. Divisão entre o mundo digital e o real também parece não existir. Quando a reportagem perguntou os nomes dos entrevistados, era comum que eles se adiantassem em também passar o @ do Instagram.
Virou até bordão o termo "Bora pra Void?", usado para descrever quem usa o figurino característico da clientela do local. Está colorido demais, com um paletó largo, bora pra Void? Na unidade do Largo, as araras com roupas à venda, inspiradas no streetwear, ficam próximas ao balcão onde são preparados e servidos sanduíches e bebidas. Não é incomum avistar grupos de jovens com skates debaixo dos braços.
Outros clientes usam roupas de skatistas mescladas com coturnos dos góticos. Blusas de moletom com capuzes bem largos são usadas com bermudas ou calças esportivas. No pé, tênis esportivos dividem espaço com meias neon. Sem essa de roupa para homem ou para mulher. Estereótipos de gênero são transponíveis sem neurose. "Na verdade, essa roupa aqui é dela. Nós fomos trocando entre a gente", explica Jorge Diogo, 22, apontando para a amiga, a influencer Ray Neon (Raíssa Neon).
Esse guarda-roupa complexo costuma ser formado por peças antigas, baratas, exclusivas e compradas em brechós. "São os lugares perfeitos para comprar. Lá há peças atrativas, em bom estado de conservação e únicas, o que contribui também para a individualização do jovem. Sem contar que encontrar um achado incrível é muito atraente e divertido", explica Silvana Holzmeister, professora do curso de moda da Belas Artes e editora da Harper's Bazaar. E baratos, como citam os entrevistados: todos dizem que procuram montar as roupas com pouco dinheiro.
"Essa camiseta aqui eu comprei no Brás. Também comprei o moletom lá", explica Carol Naomi, 19 anos, falando sobre o bairro paulistano famoso por vender peças baratas.
Confira as fotos abaixo:
Logomania
Modas nos anos 90, os logotipos de marca eram bem presentes na hora de compor o visual. Símbolos famosos, como Nike, e de empresas como Kodak, Nasa, Polaroid e Hard Rock Café fazem sucesso. Consequentemente, dão certa nostalgia ao visual.
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Roupas não-binárias
Moletom masculino, calça feminina? Não, obrigado. No streetwear paulistano, meninas usam blusas largas, meninos usam pantalonas que lembram saias. "É uma geração que não vê barreiras e usa o visual para passar mensagens. Tem uma questão também de resistência a uma sociedade mais conservadora", explica Silvana.
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Low-cost & exclusividade
Sem essa de roupa cara. Michelle, 20, assina o serviço de uma biblioteca de roupas em que pega emprestado roupas de um acervo para ter mais diversidade e não ficar gastando dinheiro. Gabriel (esq.), 21, garimpa brechós e cria conjuntos estilizados. "É uma arte se expressar por meio do que você veste", diz Paulo, 21. Ele tem um All-Star do Superman desde a adolescência e "jamais" pensa em vendê-lo.
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Tudo neon
O neon é tendência em semanas de moda e virou febre depois de ser muito usado pelo clã Kardashian. "Usei até minha meia neon para combinar com minha peruca", explica Ray Neon (à dir.). Mesmo em looks todo preto, com um quê de gótico, cabe um detalhe ultracolorido.
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