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Ele sempre cuidou da minha filha, diz mãe de Alinne Araújo sobre ex-genro

Alinne Araujo e a mãe, Maria Elizabeth, em foto publicada no perfil do Instagram da jovem - Reprodução/Instagram
Alinne Araujo e a mãe, Maria Elizabeth, em foto publicada no perfil do Instagram da jovem Imagem: Reprodução/Instagram

Elisa Soupin

Colaboração para Universa

26/07/2019 04h00

"O que eu tinha de melhor na minha vida, minha princesa, minha joia rara, meu tesouro, eu perdi", diz Maria Elizabeth Araújo, de 52 anos, sobre a morte da filha Alinne, influenciadora que, em 15 de julho, deu fim à própria vida, em um caso que mobilizou o país. A jovem de 24 anos se suicidou um dia após ter se casado consigo mesma. Seu relacionamento de dois anos foi encerrado pelo noivo via WhatsApp na véspera da cerimônia.

A mãe, agora, tenta dar pequenos passos após a tragédia. "O pai dela nunca foi presente e eu nunca quis mais filhos, justamente para dar para a Alinne tudo que eu não tive. Então, a vida inteira, fomos só nós duas. A gente era tão grudada que, quando ela foi morar com o Orlando (seu ex-noivo), eu fazia chamada de vídeo para perguntar para ela se minha roupa estava boa antes de sair de casa. Ela dizia 'mãe, troca o sapato, coloca aquela blusa', éramos eu e ela, sempre", relembra ela, em meio a momentos de choro e consternação.

Alinne era dona do perfil @sejjesincera no Instagram, em que abordava justamente as dificuldades de lidar com a depressão, a ansiedade e o transtorno de personalidade borderline. Lá, ela buscava ajudar outras pessoas que passavam pelo mesmo, contando as próprias experiências.

"Ela tinha muita vontade de ajudar, mesmo não tendo conseguido fazer isso consigo mesma. Tenho muito desejo que alguém se interesse em continuar o trabalho dela com a página e realmente consiga ajudar outras pessoas para que o que aconteceu com ela não se repita", diz Elizabeth.

Os problemas psiquiátricos de Alinne a acompanharam por grande parte de sua vida. "Muitas vezes, as pessoas acham que depressão é preguiça. Eu mesma já achei isso. E já falei para ela: levanta, vai tomar banho, vai comer, vai pegar um sol. Depois, entendi que ela tinha uma doença mesmo. Ficava dias sem tomar banho e mentia para mim, dizia que comeu sem ter comido", relembra.

Mas nem tudo era tristeza. A jovem oscilava momentos ruins com outros de bem-estar e felicidade. "Em muitos momentos, ela tinha uma alegria, você não conseguia perceber que ela estava tão mal. Apesar da depressão, ela trabalhava, fazia teatro, faculdade, tinhas boas notas, nunca repetiu em nada", conta ela, que diz que a filha, mesmo doente, era funcional.

A festa de casamento de Alinne, por exemplo, foi inteiramente planejada pela jovem, nos mínimos detalhes. "Ela pensou em tudo, participou de tudo. Foi uma festa de R$ 150 mil em que ela se envolveu inteiramente. A costureira que fez o vestido dela até a chamou para trabalhar depois, de tão boa que ela era com as ideias", conta.

Ex-noivo pediu perdão

Nas redes sociais e na internet, Orlando foi apontado muitas vezes como razão para o suicídio de Alinne, versão que a mãe da jovem refuta.

"Ele me procurou, veio conversar comigo, me pediu perdão. Eu falei com ele que quem perdoa é Deus, que ele não precisava me pedir nada. Orlando é uma boa pessoa, sempre cuidou muito bem da Alinne, era quase um pai, fazia tudo por ela. O único erro dele foi ter terminado pelo WhatsApp na véspera. De resto, ele sempre amou muito minha filha", afirma ela.

Maria Elisabeth Araújo, mãe de Alinne Araújo, em entrevista ao programa "Encontro" - Reprodução/Globo - Reprodução/Globo
Maria Elisabeth Araújo, mãe de Alinne Araújo, em entrevista ao programa "Encontro"
Imagem: Reprodução/Globo

"Ele veio aqui, pegou a cachorrinha deles, levou [embora]. Falo com ele às vezes. Ele é uma pessoa maravilhosa, não tenho nada que falar dele", diz.

Alinne travava há muitos anos uma batalha contra a depressão. "Com 14 anos, ela fez a primeira tentativa de suicídio. Toda vez que uma coisa não ia bem, ela queria fazer uma besteira. Já havia se cortado, já havia feito menção de se jogar, já havia tomado remédio. Isso aconteceu muitas vezes", conta.

Ela lembra que Alinne ficou animada com a repercussão positiva que teve após divulgar que desejava ir adiante com a cerimônia e casar-se consigo mesma. "Foram muitos comentários ruins também, mas muita gente apoiou. A gente estava sentada no sofá, no dia seguinte ao casamento dela. Senti muito sono, nunca dormi um sono como naquele dia", conta.

Quando a mãe pegou no sono, Alinne se atirou da janela do nono andar da cobertura onde morava no Recreio do Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. "Acho que o sono foi para que eu não a visse se matando, porque eu acho que teria morrido junto", lamenta ela, com lágrimas. "Falam isso e é verdade mesmo: a dor de perder um filho só sabe quem já perdeu. É pior que perder o pai, a mãe, qualquer coisa."

Apesar de extremamente abatida, Maria Elizabeth teve que voltar a trabalhar dias após a maior dor que já experimentou. "Eu voltei a trabalhar porque preciso. Sou diarista, pago aluguel, moro sozinha, se eu não trabalhar, não vivo, mas eu não me sinto com forças, não", conta.

Ela pede que a depressão seja encarada com seriedade pelas pessoas que convivem com uma pessoa que tem o problema. "Eu acordava no meio da noite, ia no quarto dela para ver se está tudo bem. Quando alguém disser que está com depressão, não critique, acredite. Não fale que se a pessoa está bonita, bem vestida e sorrindo, então não tem um problema. O deprimido nem sempre está em um quarto escuro, nem morreu para a vida. Ela tinha dias de estar muito bem, mas isso não quer dizer que estivesse bem. Tenha atenção, cuidado com quem passa por isso", alerta ela.

"Ela tinha uma cachorrinha que está com 18 anos, a Latifa. E ela sempre dizia que eu precisava me preparar para o momento de Latifa partir, que a morte iria chegar. Ela foi antes da Latifa, que segue aqui comigo."