Topo

Doulas de adoção dão 10 dicas para quem pensa em adotar

A psicóloga Mayra Aiello - Arquivo pessoal
A psicóloga Mayra Aiello Imagem: Arquivo pessoal

Giovanna Balogh

Colaboração com Universa

30/07/2019 04h00

A adoção é um processo cheio de dúvidas e inseguranças. Não é para menos. Como não há uma gravidez visível a ser acompanhar, o processo acaba sendo mais difícil de se materializar, pois há um longo processo entre decidir adotar, entrar para o CNA (Cadastro Nacional da Adoção) e receber a ligação dizendo que seu filho, enfim, chegou. Outra angústia comum é a expectativa sobre como é o filho adotado, desconhecer seu passado e o rastro de sua história, até ganhar uma nova família.

A psicóloga Mayra Aiello conta que um dos primeiros desafios é o desconhecimento do processo em si, pois falta informação confiável e segura. Os futuros pais encontram poucos profissionais especializados em oferecer suporte para lidar com a insegurança, antes de receberem a ligação avisando que o filho "nasceu" -- sinal de que ele está pronto para ser conhecido pelos novos pais.

É aí que surge a figura da doula de adoção. Atividade comum nos EUA e na Europa e recém-chegada ao Brasil, "a doula de adoção é uma profissional capacitada a dar apoio a todos que querem vivenciar a parentalidade via adoção, quer estejam se habilitando no processo, durante a espera (gestação afetiva) ou que já estejam com seu filho ou filha" explica a psicóloga.

Parceira da psicóloga, a doula Marianna Muradas foi voluntária como doula de adoção nos Estados Unidos e afirma que o escopo da doulagem é semelhante na questão de suporte emocional para as famílias, nas várias etapas do processo de adoção. "Há peculiaridades, conforme a legislação de cada país. Nos EUA, por exemplo, existe a possibilidade de a doula acompanhar a mãe biológica no trabalho de parto e de a família que irá adotar o bebê também estar presente no momento do nascimento. Algo que não se aplica aqui", afirma Muradas.

As duas profissionais acabam de lançar um curso de formação para doulas auxiliarem os casais nesse processo, nos mesmos moldes que fazem com casais grávidos. Mas, em vez de acompanhar o parto, acolhem e orientam o casal durante toda a jornada.

Pós-parto na adoção

Muita gente pensa que não há puerpério quando se fala em adoção. Mas, tanto na adoção homo ou heteroparental, como a monoparental (pessoas solteiras) existe o puerpério.

"Uma mudança intensa como é a chegada de uma criança exige uma adaptação psicológica, emocional e social", diz Mayra Aiello.

"Ter ao lado uma profissional habilitada que valida esses sentimentos e que pode auxiliar nesses processos é de muita potência. O puerpério é um período de adaptação e, como todo puerpério, não há data específica para acabar", afirma Marianna Muradas.

A pedido de Universa, elas listaram 10 dicas para futuros pais adotivos lidarem melhor com essa fase. Confira a seguir.

1. Informe-se nos órgãos oficiais

Se você estiver pensando em entrar na fila da adoção, procure o fórum da região em que mora para buscar informações práticas e burocráticas para dar entrada no processo de habilitação. "Ainda paira no imaginário das pessoas a ideia de que basta ir a um abrigo e escolher uma criança e leva-la para casa. Não é assim. Há uma certa frustração em muitos quando descobrem que há um processo e struturado, com etapas de entrevistas com equipe técnica - assistente social e psicólogo --, visita domiciliar e cursos preparatórios para, então, se habilitar e aguardar ser chamado para a fila do CNA", explica Aiello.

2. Aprofunde a elaboração do desejo

As doulas de adoção sugerem procurar grupos de apoio e conhecer famílias que já passaram pelo processo da adoção para amadurecer a decisão. Outro desafio está relacionado à espera e à individualidade de cada processo, cada perfil definido pelos habilitados e a região cadastrada. "É preciso lembrar que o Judiciário não está buscando crianças para os pais, mas está em busca de pais para as crianças", afirma Marianna Muradas.

3. Acerte as contas com o passado

A depender do histórico, pode ser necessário elaborar o luto de uma não-gestação biológica. Alguns casais entram na fila de adoção após tentativas frustradas de tentar engravidar. Muitas vezes a mãe sonhava em engravidar, parir, amamentar. É preciso vivenciar esse luto para encarar uma nova forma de maternidade, tão intensa e prazerosa como a de quem gestou.

4. Reflita sobre as fantasias acerca da parentalidade

Prepare-se para enfrentar o desafio se adaptar à nova rotina, às mudanças de humor e à ambivalência (alegria e tristeza / acolhimento e abandono), além da etapa da criação de vínculos, construção de afeto e confiança, entre outros.

5. Trabalhe a resiliência emocional

Paciência de esperar, aprender a lidar com o tempo e elaborar as frustrações. Esta é uma fase de emoções fortes. "Ter os sentimentos validados - sentimentos que são muitas vezes ambivalentes - é muito importante para um crescimento individual e familiar saudável", afirma a doula Marianna.

6. Prepare-se para a próxima fase

Busque formas de se preparar com práticas e ações profundas que facilitem o seu processo de autoconhecimento, com espaço para falar abertamente sobre a adoção. Práticas meditativas, mindfulness, terapia, renascimento, constelação sistêmica familiar, viagens, sessão de fotos e trabalhos manuais como a confecção de um álbum de fotos da gestação afetiva são algumas atividades que possibilitam esse mergulho.

7. Não romantize

Tente não alimentar a ideia redentora da adoção. Muita gente acredita que adotar é um ato de caridade e de santidade, e associa pais adotivos a pessoas que estão fazendo algo incrível para transformar a vida de uma criança necessitada. Saiba que quem vai fazer o bem e transformar sua vida será seu filho.

8. Troque experiências

Converse com pessoas que passaram pelo processo da adoção. Existem grupos de apoio para quem adota - virtuais e presenciais - que permitem muita troca de informação para fazer o processo ser mais leve.

9. Envolva a família

Caso tenha a chance, converse abertamente com sua família sobre seu desejo de adotar, pois a rede de apoio se forma e se conecta desde os primeiros passos. Avós, tios, irmãos e demais parentes devem fazer parte do processo, tanto quanto numa gestação. Compartilhe com eles cada fase.

10. Confie no processo

A depender do perfil escolhido, pode levar mais ou menos tempo para seu filho chegar. Saiba que, na hora certa, seu filho estará em seus braços.