Presença dos pais pode até controlar o bullying na adolescência
Poucas frases fazem mais sentido no Brasil do que "não basta ser pai, tem que participar". Todos os anos, 2,8 milhões de crianças nascem no país - mas nem todas são acompanhadas de perto pelos seus pais. Já começa pela licença-paternidade brasileira, que é de apenas 5 dias. Mesmo entre os homens empregados, é raro quem usufrua do benefício: de acordo com a pesquisa State of the World's Fathers, de 2019, apenas 32% dos trabalhadores brasileiros conseguem ficar 5 dias em casa quando seus filhos nascem. O mesmo vale para a hora do parto: quase 60% dos homens brasileiros não acompanharam o nascimento de seus filhos.
Isso não quer dizer, porém, que eles não queiram participar. A mesma pesquisa citada acima mostra que 82% dos homens no Brasil dizem que fariam "qualquer coisa" para poder estar presente nos primeiros meses de vida de seus filhos, e 9 em 10 acreditam que trocar fralda, dar banho e alimentar os filhos não são apenas responsabilidade das mães, mas deles também.
E eles têm toda a razão em querer estar perto. Pais participativos, que dividem as tarefas com suas companheiras e que cuidam ativamente dos filhos, só trazem benefícios. As vantagens aparecem em quase todos os aspectos da vida. A ciência já mostrou que os pais geram influências positivas na saúde, na inteligência, no sono, nas relações sociais, no desenvolvimento da fala, na vida acadêmica e (ufa!) na saúde mental dos seus filhos.
Veja aqui, fase a fase, o que um bom pai pode fazer.
Nos primeiros meses de vida: mais leite
Ao contrário do que mostram as campanhas de amamentação, alimentar bebês exclusivamente com leite materno nem sempre é simples. Muitas crianças precisam de auxílio para mamar nos primeiros dias de vida, e as mães costumam relatar dor, inflamações e incômodos na hora de dar o peito. Nesse cenário, os homens são essenciais para fazer com que a amamentação dê certo. Uma pesquisa brasileira feita com famílias do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, mostrou que a mera presença dos pais dentro de casa podia garantir que seus filhos fossem amamentados por mais tempo. Em famílias nas quais pai e mãe não residiam na mesma casa, o risco de interrupção precoce do aleitamento materno era 1,5 vezes maior do que nos lares em que os pais estavam presentes.
Aos 6 meses: sono melhor
Quem tem um filho pequeno sabe que poucas coisas são tão enlouquecedoras quanto a rotina de sono dos bebês: nos primeiros meses, as crianças acordam diversas vezes durante a noite e precisam ser alimentadas e ninadas até de madrugada. Muitas mães ficam à beira da exaustão.
Foi por isso que um time de cientistas israelenses resolveu investigar o que acontecia quando os pais também participavam dos cuidados noturnos, dando mamadeira ou acalmando seus filhos. O resultado foi conclusivo: aos 6 meses de idade, filhos de pais envolvidos (aqueles que botavam os bebês para dormir e que iam de noite acolhê-los) dormiam com menos interrupções do que as crianças que eram cuidadas apenas pelas mães.
Aos 3 anos: pequenos tagarelas
Uma outra pesquisa que olhou para famílias de baixa renda nos EUA observou o que acontecia quando os pais (homens e mulheres) liam para seus filhos aos 6 meses de idade. Quanto maior o tempo de leitura dos pais (homens), maior era o vocabulário da criança aos 3 anos de idade. O efeito da leitura dos pais era inclusive maior que o das mães.
Os pesquisadores acreditam que os homens estimulavam mais seus filhotes porque usavam um vocabulário mais complexo com eles, enquanto as mães - que sabiam quais palavras seus bebês já conheciam e quais não - tinham o hábito de simplificar a leitura ao máximo.
Na adolescência: menos bullying e depressão
A Suécia é uma espécie de paraíso para papais. Por lá, a licença parental de 16 meses é unissex - ou seja, pode ser dividida entre pais e mães da maneira como eles quiserem. Além disso, homens também têm direito a 30 dias de ausência justificada do trabalho durante o primeiro ano de vida de seus filhos para cuidar dos rebentos e de suas companheiras. O resultado? Por lá, quase 90% dos homens ficam um tempo em casa quando seus filhos nascem.
Os efeitos podem ser sentidos no longo prazo. Um estudo da Universidade de Uppsala mostrou que a presença dos pais no primeiro ano de vida fazia com que seus filhos tivessem menos problemas comportamentais na escola, como bullying, e que suas filhas mulheres apresentassem menos doenças mentais na adolescência, como depressão.
Para as mães: mais saúde e menos ansiedade
Ainda na Suécia, outra pesquisa mostrou que a presença dos homens dentro de casa tem impactos positivos também sobre a saúde das mulheres. Nas famílias em que os pais usaram seus 30 dias de falta justificada do trabalho durante o primeiro ano, o risco era 26% menor de as mães precisarem tomar ansiolíticos e 11% menor para antibióticos. As internações hospitalares delas também caíram 14%.
Para os próprios pais: juízo
Mas não é apenas a família que se beneficia com a presença dos pais, de acordo com uma pesquisa feita com 1.600 homens na Universidade de Maryland (EUA). Os impactos podem ser sentidos na própria vida do genitor: homens que se tornam pais têm mais chance de estarem empregados ao final do terceiro ano de vida de seus filhos e se envolvem menos com drogas ou com criminalidade. Ou seja, nada como um filho para criar juízo de vez.
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