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Ela cobrava R$ 25 para alugar vestidos. Hoje, tem modelos de até R$ 2.000

Joelma Lima começou fazendo ajustes e consertos, mas tudo mudou a partir do primeiro aluguel, pedido por uma amiga - Joelma Lima Noivas/Divulgação
Joelma Lima começou fazendo ajustes e consertos, mas tudo mudou a partir do primeiro aluguel, pedido por uma amiga Imagem: Joelma Lima Noivas/Divulgação

Alexandre Santos

Colaboração para Universa

19/08/2019 04h00

Joelma Lima, 50, começou a costurar na adolescência, entre familiares que já dominavam o ofício. "Tinha por volta de 14 anos. Acredito que herdei a habilidade da minha família. Tanto por parte materna quanto paterna, muitos costuravam. Não tinha pretensão de me tornar o que sou hoje", conta a empresária baiana, que à época mal vislumbrava a ideia de um dia lucrar com a atividade. Com duas lojas de aluguel de trajes de festas em Salvador e pedidos que não cessam, Joelma fatura uma média de R$ 23 mil nos melhores meses. Tornou-se referência no ramo.

Mas, antes da profissionalização do negócio, a caminhada foi árdua. No início dos anos 2000, Joelma se dividia entre um caixa de supermercado e a criação de um casal de filhos. Após o expediente diário, aproveitava o turno da noite para costurar em casa. Atendia demandas de vizinhos e moradores de Periperi, bairro onde ainda reside, na periferia da capital baiana. Confeccionava roupas e acessórios, pregava botões e providenciava ajustes. O ateliê improvisado funcionava em um quarto.

Amiga de infância foi a primeira cliente

Certa vez, Joelma resolveu aprontar um vestido para ir a um casamento. Costurou em sua máquina semi-industrial um conjunto corpete+pantalona e foi à cerimônia. Duas semanas depois, uma amiga de infância apareceu em sua residência e a pegou de surpresa: queria alugar um vestido, pois seria madrinha de um casamento. Atarefada em meio a tecidos, agulha e linha, Joelma explicou que não alugava vestimentas, apenas costurava. Ainda assim, relembra a empresária, não deixaria na mão aquela que seria a sua primeira cliente.

"De tanto ela insistir, lembrei da roupa que fiz quando fui ao casamento. Ela experimentou lá no quarto, mesmo. Combinou, deu tudo certinho, e aí ela perguntou quanto sairia o aluguel. Como eu não tinha nenhuma noção de preço, perguntei: 'R$ 25 está bom pra você?" Ela achou barato e alugou", descreve.

Joelma Lima entre suas produções para noivas - Divulgação/Joelma Lima Noivas - Divulgação/Joelma Lima Noivas
Joelma Lima entre suas produções para noivas
Imagem: Divulgação/Joelma Lima Noivas

A partir de então, outras pessoas passaram a procurá-la com o mesmo objetivo. E, de vestido em vestido, de indicação em indicação, os pedidos só aumentavam. "Para dar conta, eu ia até o centro da cidade, de ônibus, comprava os tecidos e voltava pra casa", relata Joelma, que usava o dinheiro das encomendas para comprar material. O local de trabalho, contudo, ficou exíguo. "Primeiro, o ateliê funcionava no quarto dos meus filhos. Depois, à medida que os pedidos foram aumentando, passei para o meu quarto."

A nova adaptação não surtiu efeito. Joelma precisava de mais espaço. Foi aí que resolveu migrar para um ponto comercial: alugou um lugar com cerca de três metros quadrados, na mesma rua onde morava. Ali, passou a contar com o auxílio dos filhos, do marido e de uma ajudante. "Aí já tinha espaço pra minha máquina e um provador. Só não tinha ainda conta bancária. Se precisasse de cartão de crédito, usava o do meu marido e de minha sogra", revela.

Não tardaria a necessidade de se mudar novamente -- no total, foram três mudanças. Nesse momento, Joelma percebeu que lidava com algo promissor. Foi então que ela teve um insight: tomou emprestados de parentes R$ 3.000 e decidiu investir no estabelecimento. Com o dinheiro pintou as paredes e arrumou pufes para melhor acomodar os clientes.

À medida que o empreendimento evoluía, Joelma estava cada vez mais imersa em seus afazeres. Passou a supervisionar todos os detalhes do dia a dia e, gradativamente, deixou de lado a máquina de costura.

Diferentemente do início, hoje cerca de 90% do acervo que possui veio de fornecedores. Mas de uma coisa ela não abre mão: fazer possíveis ajustes e o que for possível para garantir a satisfação dos clientes.

Apesar do sucesso no ramo, a empresária diz nunca ter feito cursos ou se especializado tecnicamente para tocar o negócio. Considera-se uma autodidata que aprendeu com erros.

Só agora, com a abertura de uma filial no bairro do Imbuí, no outro extremo da cidade, Joelma passou a contar com uma espécie de consultoria, oferecida por um amigo. Admite, no entanto, que pesquisa muita coisa no YouTube.

Inaugurada no início de agosto, a nova unidade deve empregar cinco funcionários, entre eles uma costureira, uma lavadeira e uma passadeira, todos com carteira assinada.

Vendendo sonhos

Joelma diz que sua marca tem 500 peças de acervo. E, embora o nome fantasia faça referência ao universo feminino, a empresária também dispõe de artigos masculinos. Afinal, ressalta ela, um casamento não aconteceria sem a figura do noivo nem das daminhas de honra e pajens. Há também cortes de moda plus size.

Ao encarar a atividade como um segmento que vende sonhos, Joelma diz encontrar muita gente sem condições de bancar um casamento. Não à toa, tem preços para agradar a todos os bolsos -- e gostos.

Em suas lojas é possível, por exemplo, alugar um vestido de noiva por R$ 120. Há, entretanto, peças que podem sair por R$ 2.000.