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Filhos sem caráter, como Jô, não são apenas responsabilidade dos pais

Maria da Paz e Josiane: as surras da mãe não mudam o caráter da filha - Reprodução/TV Globo
Maria da Paz e Josiane: as surras da mãe não mudam o caráter da filha Imagem: Reprodução/TV Globo

Lucas Vasconcellos

Colaboração para Universa

20/08/2019 15h36

Entre os capítulos de sábado (17) e de segunda-feira (19) de A Dona do Pedaço, Maria da Paz (Juliana Paes) descobriu que a filha Josiane (Agatha Moreira) estava se envolvendo amorosamente com o padrasto (Régis, vivido por Reynaldo Gianecchini). O desenrolar da situação culminou com a prisão da personagem de Juliana Paes, que se descontrolou ao descobrir a traição e atirou no marido.

Ao saber do ocorrido, Amadeu, vivido por Marcos Palmeira, foi ao encontro de Josiane no intuito de ter uma conversa com a filha. Ele disse ter vergonha de ser pai dela e acrescentou que Maria da Paz era uma mulher incrível, mas que havia educado a filha dos dois mal.

A fala do personagem de Palmeira reflete um pensamento comum na sociedade: de que pais são responsáveis pelos erros dos filhos. E, principalmente, que a mãe é a grande responsável pela criação de uma criança. Isso faz sentido? A maneira como as crianças ou adolescentes foram educados é realmente determinante para que eles se tornem adultos bacanas, com os valores que se espera de alguém?

"Existe a visão de que a culpa é dos pais, como se eles fossem os únicos determinantes na formação educacional dos filhos. Mas basta olhar para quem tem mais de um filho e ver que o comportamento de um é diferente do outro. Os pais têm peso na formação da criança e do adolescente, mas ao longo da vida surgem outras influências que determinam o desenvolvimento dessa pessoa", comenta a neuropsicóloga especialista em psicologia do desenvolvimento pela USP Deborah Moss.

Segundo Deborah, para que um menor se torne um adulto com valores éticos bem resolvidos, é preciso mais do que discurso. "O espaço familiar é como um mini mundo, então o discurso ali dentro tem que ser condizente com a prática. A criança ou adolescente precisa de atenção, amor e carinho para conhecer a si mesma e, com isso, fazer escolhas mais saudáveis. Mas ela também precisa de limites, que é uma forma de amar. São esses limites que vão ajudar a determinar como esse indivíduo vai se comportar em sociedade e com outras pessoas".

A mãe é a principal culpada?

Assim como Amadeu disse para Josiane, o discurso de que mãe não educou bem o filho é comumente reproduzido na sociedade. É provável que você já tenha ouvido por aí 'sua mãe não te deu educação?'. Mas atribuir essa responsabilidade a mulher é só mais um ato de machismo.

"Isso é questão histórica, de quando o homem saía para trabalhar e prover para o lar o sustento e a mulher ficava em casa, criando os filhos e afazeres domésticos. É da época em que o homem apresenta a esposa como 'essa é minha mulher' — o contrário, você não ouve, por exemplo. E isso perpetuou essa visão machista. Mas não faz sentido atribuir as escolhas erradas dos filhos à mãe. A responsabilidade da criação é também do pai. E, caso a mulher seja mãe solo, a responsabilidade pelo processo educacional é também da rede de apoio dela, como os avós, por exemplo. Hoje existem várias configurações familiares e esse pensamento tem mudado, ainda que lentamente", diz Deborah.

Aprendizado contínuo

Quando os filhos reproduzem comportamentos que não são legais, os pais não devem se autoflagelar por isso. Mas é necessário reflexão sobre o que aconteceu. A partir de tais ações, podem enxergar como ajudar os filhos a se desenvolver melhor como seres humanos, a ter novos valores. "É preciso ter a consciência de que um pai ou uma mãe não têm controle sobre quem é a criança em situações que fogem do alcance, como na escola ou com os amigos, por exemplo", afirma a profissional.