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Vítima de onda de ataques com ácido contra mulheres: "Meu corpo pegou fogo"

Ataque deixou queimaduras de 2º e 3º grau na vítima - Reprodução/TV Jornal
Ataque deixou queimaduras de 2º e 3º grau na vítima Imagem: Reprodução/TV Jornal

Marcos Candido

De Universa

22/08/2019 04h00

O corpo de Cláudia* tornou-se uma labareda. No dia 17 de julho, enquanto caminhava na rua, dois homens a atacaram com fogo e ácido. Quando percebeu o corpo em chamas, ela correu em desespero. Subiu uma das ladeiras do bairro de Vasco da Gama, na periferia de Recife, em busca de ajuda. Encontrou refúgio na casa de uma vizinha, que lançou água gelada em sua direção: "Meu corpo pegou fogo".

A história faz parte de uma onda de ataques com ácido, provavelmente sulfúrico, cometidos contra mulheres no país. No início de julho, Mayara Estefany Araújo foi morta com ácido, também em Recife. O ex-namorado e um amigo dele foram presos como suspeitos. Em maio, no Distrito Federal, Cácia Regina Pereira da Silva, 47, morreu após ser atacada pelo ex-marido e ter 45% do corpo queimado por uma substância corrosiva.

Sobrevivente de um desses ataques, Cláudia teve queimaduras de 2º e 3º graus na nuca, orelha e costas. A gestora de recursos humanos foi internada por 22 dias e, desde então, vive à base de remédios para frear a dor. A vítima recebeu uma carta com ameaça de morte uma semana antes do ataque. A suspeita é que o ex-marido, com quem foi casada por cinco anos e vivia um relacionamento conturbado, esteja envolvido. "A violência começou quando dei entrada em um pedido de divórcio", diz. A polícia ainda investiga o caso.

Vítima (foto) foi enterrada em Limoreiro, Pernambuco  - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Outra vítima de ácido, Mayara Estefanny Araújo (foto) foi enterrada em Limoreiro, Pernambuco, no início de agosto
Imagem: Reprodução/Facebook

Uso de ácido por pessoas físicas é ilegal; venda é controlada pela PF

A perícia inicial dos casos indicou um possível uso de ácido sulfúrico, usado na indústria para o refino de petróleo e em bateria de automóveis. "O ácido sulfúrico é classificado como corrosivo, ou seja, [usada em pessoas] causa uma destruição da barreira epidérmica, incluindo alterações irreversíveis na estrutura da pele", explica Samara Eberlin, doutora em farmacologia pela Unicamp e pesquisadora pela Fapesp em controle de segurança de produtos químicos. Se entrar em contato com a pele, o ácido pode penetrar até mesmo os ossos do corpo humano.

Laboratórios e indústrias precisam ter uma licença da Polícia Federal para utilizar o ácido sulfúrico. Apesar disso, o controle não tem sido suficiente para barrar a venda e o uso ilegais da substância por pessoas físicas.

Em vídeo, vítima de Brasília corre após ataque com ácido

Lei mais rígida contra uso clandestino de ácido pode entrar em vigor em Recife

Após o ataque contra Cláudia e com a morte de Mayara, os vereadores de Recife aceleraram um projeto de lei para tornar mais rígida a venda de ácidos, como o sulfúrico, com a criação de um banco de dados de compradores e multa a quem vender para quem não tem autorização para comprar. O PL foi aprovado nesta terça (20) pela Câmara Municipal do Recife e vai para a sanção do prefeito Geraldo Júlio (PSB).

"A lei tem uma abrangência enorme. Além de prevenir casos de violência contra a mulher, também evitamos acidentes domésticos com produtos de limpeza clandestinos", explica a vereadora Goretti Queiroz (PSC).

Enquanto a lei não entra em vigor, Cláudia quer que mulheres de todo o país saibam o que aconteceu com ela, para que não tenham que passar por algo parecido. Apesar disso, as sequelas permanecem. Por desconforto com as queimaduras, mal dorme. O medo também a impede de sair de casa. A rotina foi interrompida e ela está à espera de apoio psicológico. "Tinha acabado de me formar como profissional de recursos humanos. Tinha projetos. Eu me preparava para fazer uma pós-graduação. Agora, tenho um trauma que me acompanha."

* Nome preservado para segurança da vítima

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Imagem: Arte UOL