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Vergonha? 'Bração' à mostra fortalece autoestima. Veja relatos de mulheres

Mayara Russi publicou foto com braço em destaque e gerou debate - Marcus Steinmeyer/UOL
Mayara Russi publicou foto com braço em destaque e gerou debate Imagem: Marcus Steinmeyer/UOL

Nathália Geraldo

De Universa

23/08/2019 04h00

A foto feita do "pior ângulo possível" da consultora de moda e estilo Erica Minchin, as selfies da agente executiva de vendas Veronica Tomaz Costa e o registro em frente ao espelho da modelo plus size Mayara Russi têm uma coisa em comum: evidenciam o braço.

O "bração" em primeiro plano, sem edições e sem poses para disfarçá-lo, é motivo de conflitos internos e de autoestima -- e em tempos em que as redes sociais nos influenciam a procurar a foto "perfeita", fazer o exercício de "assumi-lo" é uma tarefa e tanto.

Dá para valorizar ou naturalizar a parte do corpo que já foi (ou é) tão massacrada por nós e nomeada como "bração de bater polenta" pelos outros?

Verônica diz que não consegue amá-lo sempre. "Mas hoje entendo que a rejeição vem do fato de muitas pessoas falarem para não aceitá-lo. Aí, eu repenso: poxa, meu braço faz tanto por mim, assim como o resto do meu corpo".

Universa conversou com as mulheres que afirmam estar no caminho de fazer as pazes com a autoimagem e não se intimidam: elas usam blusa regata ou qualquer outra roupa que dê vontade. Sem esconder flacidez, gordura ou formato natural de nenhuma parte do corpo. Como se dissessem: "Assuma seu bração".

"Não vou mais deixar de usar regata"

Mayara Russi - Marcus Steinmeyer/UOL - Marcus Steinmeyer/UOL
Modelo plus size, Mayara usa as redes sociais para falar de autoestima corporal
Imagem: Marcus Steinmeyer/UOL

Mesmo quando emagrece um pouco, a modelo Mayara Russi diz que o braço sempre foi mais evidente. "As pessoas falavam que era um 'braço de bater polenta', um 'bração'. Ouvi isso a vida inteira".

Hoje, ela vê que as vezes em que fez Photoshop nas fotos ou não usou regata por vergonha foram perda de tempo. Essa reconstrução de imagem começou a acontecer de um ano e meio para cá. Ela confessa que acha grande demais, mas não passa mais calor: "Não vou deixar de usar uma regata por uma questão estética".

"Para mim, fica a lição de que tudo que te incomoda pode até continuar incomodando, mas não é preciso deixar de mostrar"

É preciso reconstruir a ideia do padrão estético todo dia."Também há dias que não quero mostrar o braço. E temos que saber que há coisas que incomodam, como minha flacidez na barriga porque tive duas gestações, mas não serão mudadas".

"Tem tanta coisa maravilhosa além do braço, né?"

Veronica Tomaz - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Veronica mostra o 'bração' em que fez tatuagem para ter novo significado
Imagem: Arquivo Pessoal

Veronica Thomaz, agente executiva de vendas, diz que o braço é o de menos. "É um momento de felicidade, uma foto superbonita. Aí, tem que esquecer o braço. O sorriso, as pessoas ao redor acabam sendo muito mais importantes do que esse detalhe".

O truque dela foi tatuar essa parte do corpo para enxergar além dele, de uma forma mais bonita. "Quis ter um pedaço de arte em mim. E tem momentos que eu escondo. 'Quem nunca', né?"

Não é todo dia que estou '100% nem aí', mas, tudo bem, a gente não tem que estar sempre ótima com a gente mesmo.

Ela encontrou no futebol americano a forma de se exercitar: mas em nenhum momento se obriga fazer parte de algum padrão de corpo. "É um esporte para altas, magras, gordinhas, baixinhas. Isso fez com que eu aprendesse que posso ser melhor a cada dia, além de me sentir bem exatamente como eu sou", conta ela, que sempre foi gordinha, apesar de algumas dieta e ter vivido o efeito sanfona. "Hoje, foco muito mais na minha saúde, que é o principal". Segundo ela, isso faz parte da evolução e percepção de si mesma -- tem tanta coisa maravilhosa em todo mundo além de um braço, né?

"Um vestido tomara que caia e só meus braços em destaque"

Érica Minchin - Gustavo Carneiro/Arquivo Pessoal - Gustavo Carneiro/Arquivo Pessoal
Érica fez um post no Instagram questionando os padrões de corpo feminino
Imagem: Gustavo Carneiro/Arquivo Pessoal

A consultora de estilo e moda Érica Minchin publicou em seu Instagram um depoimento sobre o bração à mostra. Mas, nos comentários de sua foto, pouca gente falou sobre ele: os seguidores pediam a cor do batom ou elogiaram o cabelo dela. A publicação veio por um motivo: Erica está em um exercício de publicar fotos que, a princípio, não tinha achado tão bonitas.

"Eu sou consultora de imagem. Preciso 'me valorizar', né? Acontece que hoje eu acordei com vontade de mostrá-los pro mundo. Não só "no estado", mas no pior ângulo possível (pois é, o tempo passou e eu não mudei minha opinião sobre a foto)", escreve na rede social.

"Eles fazem parte de mim. São eles que carregam minhas malas pelo mundo quando eu faço uma das coisas que mais gosto. Que seguram essas mãos que hoje te escrevem. É com eles que vou continuar abraçando meu marido, meus entes queridos?'Esmagando' a minha afilhada, mesmo que agora ela esteja quase maior que eu. Para além disso, existem questões mais graves do que essas que as mulheres são ensinadas a se preocupar desde cedo. E assim como você que me lê agora, eu não tenho a menor obrigação de ser 'bonita'."

Para Universa, Érica contou que a transição entre o momento em que se recusava a usar regatas até o ponto em que decidiu mostrar ao mundo seu braço em destaque passou por um processo de entendimento de padrões corporais e gostos pessoais.

"Antes de atuar como consultora de moda, vi uma foto em que eu estava de vestido tomara que caia, há uns dez anos, e só percebi via meus braços em destaque. Passei a evitar o modelo de roupa e até blusas regatas. Curioso é que, recentemente, olhei a mesma foto e não percebi o tamanho todo que eu imaginava na época". De fato, tudo depende de como se vê.

Érica conta que alguns formatos de manga chamam mais atenção para a região e aumentam a percepção do tamanho do braço do que blusas sem mangas. "Não tem sentido deixar de usar regatas", ela defende. E resolveu que não passaria calor por conta disso, já que seu conforto vem antes de qualquer padrão corporal.

"Pensei bastante sobre publicar a foto do braço ou não. Embora eu acredite e defenda que a gente precise repensar padrões opressivos e olhar com mais carinho para as nossas formas, acho muito mais produtivo falar das coisas que gostamos do que chamar a atenção do mundo para aquilo que a gente não gosta...Sabia que esse post poderia ser um convite às pessoas a repararem nesse pedaço específico a cada vez que me vissem em foto ou pessoalmente. Mas recebi muitos comentários carinhosos".

"Braços devem estar no top 3 das coisas que as pessoas me pedem para ajudar a disfarçar, junto a bumbum e barriga. Mas acredito que devemos ressaltar o que a gente gosta, e não disfarçar"