Fernanda Young, feminista controversa: "Os dois sexos alimentam o machismo"
Fernanda Young tinha várias tatuagens. Uma delas era o espelho de Vênus, símbolo do feminino, na palma da mão esquerda. Para além do destaque em áreas tão distintas como TV, literatura, televisão e teatro, a escritora, roteirista e mãe de quatro filhos, que morreu no domingo (25) aos 49 anos, também era conhecida como uma mulher forte e polêmica que sabia se impor nos espaços que ocupou.
Sem papas na língua, Fernanda Young era uma feminista na essência. "Nada mais indigesto para o mundo dominador que a liberdade de uma mulher", disse em entrevista a Universa. Mas tinha problemas com o termo feminismo, um tema da moda, segundo ela.
Ainda assim, entrou na onda e lançou, em 2018, o livro "Pós-F: Para Além do Masculino e do Feminino" (editora Leya), com textos autobiográficos imaginando um mundo "Pós-feminismo" e "Pós-Fernanda". No programa "Saia Justa", do GNT, da qual já havia sido uma das apresentadoras, comentou a obra com declarações controversas. Disse que via o machismo em muitas mulheres, enquanto enxergava homens feridos, "que, se for sensível, é uma mulherzinha, uma bichinha".
"Mais importante que falar sobre a mulher é falar sobre o homem e a mulher. Nós somos responsáveis por esse patriarcado. Muitas vezes as mulheres se alimentam do patriarcado e muitos homens sofrem muito com esse patriarcado. Sem uma visão inclusiva, a moda passa e o bélico persiste."
"O feminismo não deveria excluir o homem"
No programa, em que também revela os problemas que teve com a asma que acabou levando à sua morte, ela conta que se recusou a fazer piadinhas politicamente incorretas no livro para abordar o feminismo.
"O feminismo é algo tão importante que, se eu partisse dessa premissa e usasse todo o bom humor (e o mau humor) que eu tenho, que eu sei utilizar bem, para fazer piadinha sobre o assunto, eu ia desmerecer algo que não é cabível. É um assunto sério."
Fernanda voltaria ao tema da necessidade de incluir os homens no debate da questão feminista em entrevista ao site RG. "Não acho inteligente excluir o outro de um debate que busque soluções iguais. Vivemos numa sociedade patriarcal que faz mal aos homens e às mulheres. O machismo é alimentado por ambos os sexos, e ambos saem perdendo. O feminismo não deveria excluir o homem."
Assédio virtual
Em 2015, Fernanda Young recebeu uma mensagem de assédio de um perfil falso na internet e processou o autor. O juiz que determinou que o agressor pagasse R$ 5.000 a ela, em 2017, escreveu na sentença que o valor levava em conta "o fato de a autora ter artisticamente posado nua, de modo que sua reputação é mais elástica". O episódio foi motivo para que Fernanda se posicionasse sobre o machismo que viu implícito na decisão.
"Ele [o juiz] não me conhece, minha vida pessoal é muito restrita. Ele veio com uma opinião pronta. Mas nem que eu fosse dona de um bordel, não importa, ele não poderia dizer isso. A partir do momento que você foi agredido, não importa a sua conduta. Essa bronca legal é uma forma de dizer que a vítima é culpada", disse.
Nua na Playboy: "Sou uma mulher incomum"
As fotos nuas que o tal juiz cita foram publicadas pela revista Playboy em 2009. Na época, surgiram rumores de que a publicação que levava Fernanda Young na capa tinha encalhado nas bancas de jornal. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ela afirmou que "vendeu o mesmo número que as de pessoas admiráveis, como Claudia Ohana".
"A revista não encalhou. Pelo contrário. Me ligaram da 'Playboy' me parabenizando e informando que vendeu 20% a mais do que o previsto."
Fernanda acabaria na entrevista traçando uma bela e sucinta descrição de si mesma. "Temos que levar em consideração que eu sou uma mulher incomum e, graças a Deus, não agrado a maioria. Agradar a maioria me deixaria muito preocupada."
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