Noivo ciumento avisou que iria matar a companheira, mas ninguém deu bola
Ela não gostava de reclamar e nem de expor seus problemas pessoais. Nos últimos meses de vida de Andreia Campos Araújo, o ciúme do então noivo seria motivo suficiente para que ela se abrisse com amigos e parentes, talvez evitando sua morte, aos 28 anos. Mas ela preferiu aguentar quieta e sozinha.
A filha de 11 anos de Andreia ainda hoje chama pela mãe, catarinense de Jaraguá do Sul (SC). A garotinha já morava com os avós quando a mãe começou a namorar Marcelo Kroin. Menos de um ano depois, em agosto do ano passado, Andreia foi assassinada por ele.
Na semana passada, após seis horas de julgamento, Marcelo, 40, réu confesso, foi condenado a 20 anos e seis meses de prisão, inicialmente em regime fechado, por homicídio triplamente qualificado e tentativa de ocultação de cadáver.
Em 4 de agosto do ano passado, dia anterior ao crime, a comerciante Tauana Araújo, sobrinha da vítima, convidou a tia para ir a um spa no fim de semana. A resposta foi negativa: "Ela falou que ele estava com bastante ciúmes", diz Tauana, em entrevista a Universa.
Apesar da resposta direta, Andreia não dava sinais de um provável descontentamento com Marcelo em casa, onde os dois trabalhavam juntos com sistemas de informática. Tauana acredita que a tia camuflava um provável sofrimento.
"Esse era o defeito dela, de não falar o que estava acontecendo"
"Se ela tinha algum problema, guardava pra ela e nunca falava. Se eles viviam algum problema em casa, ela não ia falar. Esse era o defeito dela, de não falar o que estava acontecendo. Ela sempre foi assim."
Por isso, amigos e parentes não desconfiavam de nada, até porque encontravam pouco o casal. "A gente não tinha tanta convivência com eles. Depois que ficaram juntos, eles ficavam mais sozinhos, só nos reuníamos em aniversários e festas de família".
Durante uma festa dessas, Marcelo quis ir embora mais cedo, mas Andreia resolveu ficar e o deixou irritado. Veio, então, uma ameaça que se mostraria real. "Quando ele saiu da festa, já tinha falado pra minha mãe, uma das irmãs dela, que iria matar a Andreia. Mas a minha mãe não deu bola, falar todo mundo fala", afirma a sobrinha.
Segundo a denúncia da Justiça, o condenado esperou a companheira chegar em casa, de madrugada, e se aproveitou do fato de ela ter ingerido bebida alcoólica e de ser mais forte para "investir brutalmente", causar vários ferimentos e matá-la por asfixia.
No entendimento do Ministério Público, Marcelo agiu "de forma premeditada e com inequívoca intenção de matar". Para a acusação, o ataque veio "daquele que deveria cuidar de protegê-la, em momento de reduzida possibilidade de esboçar reação e no contexto de violência doméstica e familiar".
Após o homicídio, Marcelo ligou para um amigo, sugeriu fazerem um churrasco e pediu para levar um cigarro de maconha. Quando o rapaz chegou, contou do crime e pediu para o ajudar a colocar o corpo dentro do carro, enrolado num cobertor. Saiu sozinho à procura de um lugar para esconder o corpo, mas foi preso em flagrante por policiais que desconfiaram do seu modo de agir.
Antes, segundo a Justiça, o assassino havia usado o celular de Andreia para simular uma mensagem enviada para o seu aparelho em que ela se despedia do noivo e pedia para que ele não a procurasse mais.
A pena de 20 anos e 6 meses foi encarada pela família como uma resposta aquém do que o assassino deveria pagar, diz Tauana. "Na verdade, foi pouco. Deveria ser, no mínimo, 30 anos. Sabemos que pegou 20 anos, mas, se ficar 10 [anos preso] vai ser muito. A gente sabe, né?"
Tauana conta que, além da filha de 11 anos que ainda chama pela mãe, quem mais sofre são os pais de Andreia. "Eles praticamente não dormem mais à noite."
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