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Feminicídio no DF: enganadas por suposto motorista, elas acabaram mortas

Letícia Sousa Curado e Genir Pereira de Sousa  - Arquivo Pessoal
Letícia Sousa Curado e Genir Pereira de Sousa Imagem: Arquivo Pessoal

Jéssica Nascimento

Colaboração para Universa

28/08/2019 04h00

Letícia Sousa Curado, 26 anos, e Genir Pereira de Sousa, 47. Além do mesmo sobrenome e de morarem na mesma cidade, Planaltina, a 44 km do Distrito Federal, as duas mulheres tiveram o mesmo desfecho: foram mortas por Marinésio dos Santos Olinto.

Letícia é a funcionária terceirizada do Ministério da Educação, de 26 anos, que morreu enforcada e cujo corpo foi encontrado na segunda (26) pela Polícia Civil do Distrito Federal. Era casada há oito anos e tinha um filho de três.

A jovem, segundo amigos e familiares, era evangélica e cantava na igreja. À noite, a advogada se dedicava aos estudos: fazia cursinho para concurso público. Leticia morava em um apartamento no Setor Arapoanga, um bairro de Planaltina. A família estendeu um tecido preto para simbolizar luto no local. A Universa, o marido de Leticia diz que a família tem tentado acreditar que a morte ocorreu por "planos de Deus".

"A gente pensa assim para doer menos, sabe? Ela não é de se atrasar, nesse dia ela se atrasou. Eu não fico sem trabalhar, nesse dia fiquei sem trabalhar. Meu pai ia ter um exame, eu ia oferecer uma carona para ela, mas não pude oferecer. A gente sabia que quando ela desapareceu algo estava estranho, ela nunca foi de sumir. Se sumisse por conta própria, levaria o nosso filho", diz o educador físico Kaio Fonseca, de 25 anos.

Letícia, segundo o marido, era uma mãe exemplar. Acordava cedo para dar café da manhã ao filho, levava o garoto à creche e depois ia para o trabalho. "Ela só pensava na família. Não sei o que será da gente agora..."

"Quando soubemos do caso de Leticia, começamos a sofrer de novo"

Genir foi atacada praticamente da mesma forma que Leticia. Ela era faxineira em uma pizzaria e foi vista pela última vez no dia 2 de junho, entrando em um carro, em uma parada de ônibus. Dez dias depois, foi encontrada morta, com marcas de estrangulamento, em uma área de mata entre o Paranoá, onde trabalhava, e Planaltina, onde morava. Marinésio também teria se apresentado como motorista de transporte pirata, como fez na última sexta-feira (23), antes de matar Letícia.

O desaparecimento de Genir foi comunicado pela chefe dela, após a empresária estranhar a ausência da funcionária. A Universa, a irmã de Genir disse que ela costumava usar transportes irregulares para ir e voltar do emprego e que a família já estava sem esperanças de encontrar o assassino da mulher.

"Quando ficamos sabendo do caso de Leticia, começamos a sofrer de novo. Reviver tudo de novo. São casos idênticos e pressentimos que o Marinésio poderia ser o culpado. É uma sensação de alívio ter certeza de que ele vai pagar pelo que fez. Ao mesmo tempo, não cai a ficha de que nunca mais vou ver minha irmã", diz Luzileide de Sousa, que trabalha como doméstica.

A irmã de Genir conta que a vítima era a irmã do meio de seis irmãos. Tinha dois filhos e trabalhava praticamente em período integral. No dia 1º de junho, Genir saiu da pizzaria onde trabalhava acompanhada de um homem com quem mantinha um relacionamento e passou a noite com ele.

No dia seguinte, saiu da casa do companheiro e foi até o condomínio onde a dona da pizzaria morava no Paranoá. Imagens de câmeras de segurança mostram que a vítima chegou por volta das 7h30 e saiu aproximadamente dez minutos depois. O carro de Marinésio, uma Blazer prata, apareceu em seguida.

Devido ao estado avançado de decomposição do corpo, a Polícia Civil não conseguiu identificar se a vítima sofreu abuso sexual. Na delegacia, Marinésio disse que manteve relação com ela dentro do carro, mas que o ato teria sido consentido.

"Minha irmã não merecia morrer assim. Tenho certeza de que ela morreu lutando. Ela nunca faria esse tipo de coisa, de abordar motorista sem conhecê-lo direito. Infelizmente, ela sempre pegava transporte pirata, apesar de a gente pedir muito que ela não fizesse isso", diz Luzileide. "Ele ofereceu, ela acreditou e acabou perdendo a vida."

Outras vítimas

Marinésio teria feito uma terceira vítima, no dia 11 de agosto, por volta das 20h. A mulher, que tem 23 anos, reconheceu o suspeito ontem na delegacia de Planaltina. Aos policiais, ela contou que Marinésio a abordou na rodoviária do Plano Piloto, se apresentou como motorista de transporte pirata e disse que poderia levá-la até o Vale do Amanhecer. No meio do caminho, teria começado o assédio. Passou a mão dela e disse: "Nós não vamos para o Vale, vamos para o Morro da Capelinha (uma área isolada da cidade)".

A vítima, então, entrou em desespero e ameaçou pular do carro. Chegou a abrir a porta, mas Marinésio parou o veículo. Ela então aproveitou a oportunidade para descer do carro, correr e pedir ajuda para um casal em um carro que vinha logo atrás.

Segundo a delegada Jane Klébia, responsável pelas investigações, Marinésio tem perfil de psicopata: "Ele não sabe explicar por que mata. Só vai lá e executa. Não tem um perfil de mulher, de idade, escolhe aleatoriamente".

Jane conta que, depois de matar Leticia, Marinésio ameaçou duas irmãs de maneira semelhante aos crimes anteriores. As mulheres, de 18 e 21 anos, saíam de uma festa, perto da rodoviária de Planaltina, na madrugada de sábado (24), quando foram abordadas por ele, que, mais uma vez, ofereceu um serviço de transporte pirata.

As irmãs aceitaram o transporte, mas perceberam, ao longo do trajeto, que Marinésio desviou do caminho combinado e seguiu em direção ao Vale do Amanhecer. Ele as assediou e as duas começaram a gritar até que ele parasse o carro e conseguiram desembarcar.