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Turismo LGBTQ+: onde ser gay e usar app de pegação pode ser perigoso

Em alguns países, uso de apps e turismo pode ser perigoso para pessoas LGBTQ+ - FG Trade/iStock
Em alguns países, uso de apps e turismo pode ser perigoso para pessoas LGBTQ+ Imagem: FG Trade/iStock

Nathália Geraldo

De Universa

31/08/2019 04h00

A prática de baixar logo o Tinder, o Grindr ou qualquer outro aplicativo de relacionamento assim que se chega a um país para visitar nem sempre é segura. Há lugares em que repressão, discriminação e um cenário de intolerância à diversidade podem ser, infelizmente, os anfitriões para os turistas LGBTQ+.

"Em Dubai, um amigo meu foi agredido por um cara que ele conheceu no Grindr. Ele ficou sumido por algumas horas", conta o funcionário de navios de cruzeiro Marcelo de Brito. O tripulante, que também é gay, conta que há países reconhecidamente mais perigosos para eles.

"Marrocos, Cuba, Croácia, Montenegro e Albânia foram bem complicados. Na Croácia, fui hostilizado em um restaurante por estar com uma camiseta escrita 'Make America Gay Again' ['Faça a América Gay de novo', uma referência ao slogan da campanha de Donald Trump]", explica. "Aliás, nesses países a gente é até aconselhado a não descer [do navio], principalmente os mais afeminados."

Experiências em diferentes países

Casal gay posando - Pollyana Ventura/iStock - Pollyana Ventura/iStock
Alguns destinos podem ser mais perigosos para a comunidade LGBTQ+
Imagem: Pollyana Ventura/iStock

Além de leis e orientações emitidas pelas próprias autoridades locais (veja lista com alguns países abaixo), há posturas de intolerância dentro do meio turístico, como explica o criador do site Viajay, que reúne pacotes e ofertas de viagem para o público LGBTQ+, Fernando Cesar Moreira Sandes Filho, de Los Angeles, nos EUA.

"Já recebi o relato de um casal de lésbicas que foi passar a lua de mel na Venezuela e o hotel se recusou a dar cama de casal para elas. São situações tristes, e o que a gente tenta fazer é munir a comunidade de informações sobre esses lugares", afirma.

A Tailândia, no Sudeste Asiático, tem vendido a ideia de ser destino amigável para o grupo, de acordo com o guia de viagem Lonely Planet, por ter sediado pela primeira vez um simpósio de viagens LGBTQ+, no ano passado. A segunda edição do evento acontecerá em 5 de setembro de 2019.

Sandes Filho, no entanto, pontua que todo cuidado é pouco e que nem sempre o perfil que o país promove internacionalmente corresponde ao que a comunidade local vive dentro de suas cidades -- vale lembrar que, no país, não há criminalização de relações sexuais consensuais entre adultos.

Homens na praia  - Baramyou0708/iStock - Baramyou0708/iStock
É preciso estar atento a opções de destinos gay-friendly, para garantir mais segurança
Imagem: Baramyou0708/iStock

"A gente já viu que não é bem assim. Ou seja, até que ponto os países que se vendem como destinos gay-friendly são, de fato, amigáveis com os gays?". De outro modo, em Cuba, que em maio perseguiu e prendeu ativistas que foram às ruas pelos direitos LGBTQ+, existem possibilidades de "experiências pontuais" seguras para os viajantes gays. "Fizemos um guia para lá indicando uma pousada administrada por um casal de lésbicas e os leitores já nos agradeceram por terem ido. No entanto, não é [um lugar] totalmente amigável", explica ele.

Usando apps com segurança

Celular app - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Preocupado com o bem-estar dos usuários, o Grindr, aplicativo de relacionamentos usado pela comunidade LGBTQ+, dá algumas dicas para quem circula por lugares onde ser gay coloca a pessoa em perigo. Entre as dicas, estão:

  • Não publique fotos do seu rosto. O Grindr sugere publicar imagens de hobbies ou que representem personalidade
  • Tente encontrar amigos de amigos para poder checar se são confiáveis, por exemplo
  • Encontre-se pelo Skype ou em um local seguro primeiro
  • Busque lugares, como cafés e restaurantes, que já são gay-friendly
  • Compartilhe sua localização ou informe a um amigo sobre onde você vai estar
  • O Grindr ainda indica que se o usuário for preso, é orientado a não confessar ou admitir nada. "Mesmo que eles tenham provas, ficar em silêncio é a sua melhor aposta", diz a empresa.

Leis e comportamentos

A Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais (em inglês, ILGA), com sede na Suíça, publica anualmente um relatório com as restrições de direito que pessoas LGBTQ+ podem ter em diferentes países.

Há proibições de vários tipos, relacionadas ao que os governos chamam de "atos indecentes entre pessoas do mesmo sexo", criminalizados na Líbia, por exemplo. No Marrocos, gestos públicos entre casais gays podem ser considerados "obscenos e indecentes" — também são crimes.

Veja proibições em relação à comunidade LGBTQ+ em alguns países:

Dubai: nos Emirados Árabes Unidos, é um destino emblemático e bastante perigoso para a comunidade gay. De acordo com a associação, a Autoridade Reguladora de Telecomunicações bloqueia sites que "promovem princípios destrutivos, como homossexualidade". É uma política regulatória. Em 2018, o governo de Dubai proibiu um livro usado em escola privada por "violar as religiões e tradições tradicionais" ao apresentar uma família com duas mães.

Líbano: o Grindr foi banido pelo ministro das Telecomunicações em janeiro de 2019. Universa pediu posicionamento da empresa sobre esse tipo de banimento, mas não recebeu até a publicação deste texto.

Indonésia: também houve tentativas de proibir aplicativos de relacionamento, sem sucesso.

Rússia: o debate sobre os direitos dos cidadãos e turistas LGBTQ+ na Rússia se intensificou durante a Copa do Mundo de 2018, inclusive com ameaças a torcedores gays. De acordo com o documento da associação, uma lei federal proíbe a "promoção de relações sexuais não-tradicionais entre menores", mas tem sido usada para processar membros da comunidade, ativistas e representantes de mídia.