"Eu luto por minha sobrevivência", diz vítima de tentativa de feminicídio
Bárbara Penna de Moraes Souza, que em 2013 foi espancada, teve o corpo queimado e foi atirada pela janela do terceiro andar do prédio onde morava, depôs hoje no julgamento do seu agressor, o ex-companheiro João Moojen Neto. Pouco antes do depoimento, em entrevista para Universa, ela afirmou que está lutando por sua sobrevivência.
"Eu estou seguindo a vida de uma certa forma porque eu luto pela minha sobrevivência. É algo que está marcado na minha pele na minha vida, algo que foi imposto em mim e por causa do João eu não mais serei a mesma. A minha luta consiste em tentar adquirir forças, com o apoio das pessoas, da sociedade em geral. Eu vim aqui hoje para fazer justiça e não consigo pensar em mais nada", disse.
Além da violência contra a mulher, o réu também responde pelos crimes de homicídio, já que os dois filhos do casal, uma menina de dois anos e um menino de três meses, morreram asfixiados. Mário Ênio Pagliarini, vizinho das vítimas, também morreu na tentativa de resgatar família.
Bárbara Penna, de 25 anos, foi a primeira a depor na manhã de hoje. Ela respondeu as questões do Ministério Público e da advogada de defesa do réu por cerca de uma hora e 45 minutos. João Moojen Neto, de 28 anos, permaneceu de cabeça baixa e quase sempre de olhos fechados durante todo o depoimento.
A vítima, que passou por mais de 220 cirurgias, contou detalhes da noite do crime: "O João saiu do banheiro e ficou olhando para mim, que estava no quarto, com olhar sarcástico. Logo saí e fui para sala onde começamos a discutir", disse. Em seguida a jovem, apoiada em uma muleta, começou a relatar as agressões sofridas pelo ex. "Ele sempre foi muito ciumento. Depois de espancada fiquei 4 meses internada no hospital. Os médicos não sabiam o que tratavam primeiro: minhas fraturas ou a queimadura. Nenhuma cirurgia trará meus filhos de volta".
O réu e as testemunhas de defesa devem depor ainda hoje. Amanhã será a vez das argumentações da acusação e da defesa.
A defensora pública Tatiana Boeira, que representa o réu, explicou qual será a estratégia da defesa. "O João tem um diagnostico de transtorno bipolar, isso está no processo e ele é semi-imputável, ele é parcialmente capaz de entender e ele é usuário de drogas pesadas desde os 12 anos. No momento em que os fatos ocorreram ele estava sob efeito de drogas. Ele tem responsabilidade sobre algumas coisas, e eu penso que outras pessoas têm responsabilidade por aquilo que aconteceu, porque são pessoas que tiveram mais opções de optar, tiveram um livre arbítrio para decidir estar lá ou não estar, e estavam lá".
Já o assistente de acusação de Bárbara Penna de Moraes Souza, Manuel Castanheira, disse acreditar que o processo se tornará emblemático para a Justiça. "Ao fim teremos a resposta que a sociedade de Porto Alegre vai dar para casos como estes. A partir de hoje veremos o que a sociedade de Porto Alegre tolera, permite e o que ela quer impedir dentro da violência contra mulher, da violência domestica e todos estes tipos de doença".
Caso seja condenado, o réu pode passar até 30 anos na prisão.
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