"Abortei depois de levar um susto". É possível? Entenda post que viralizou
Nesta semana, um post anônimo viralizou no Facebook. No texto, uma mulher contava que havia sofrido um aborto após uma pegadinha de um colega de trabalho. Ela teria levado um susto e o coração do bebê, parado. Especialistas ouvidos por Universa explicam que não há estudos que comprovem a relação direta entre susto e aborto espontâneo, mas que há casos em que a reação emocional pode, sim, prejudicar a gestação e a saúde do bebê.
A mãe que fez o post disse que estava muito abalada para falar com Universa. Ela sofreu muitos ataques após a postagem a responsabilizando pelo seu sofrimento. Mas algo muito parecido aconteceu com a publicitária Nathanna Alves, de 28 anos. Ela sofreu um aborto na 14ª semana de gestação, depois de ter sobrevivido ao período de risco (até a 12ª semana, quando de 15 a 20% das gestações são naturalmente interrompidas).
Nathanna estava com pouco mais de três meses e, numa sexta-feira, foi ao médico fazer o pré-natal. Fez exames, ultrassom, ouviu o coraçãozinho do filho. "Tudo certo", conta. Só que, no sábado, tudo mudou. Ela foi até um parque de diversões perto do bairro em que mora, na Penha, no Rio de Janeiro, com alguns primos. "Um deles queria brincar em uma montanha-russa pequena que tinha lá. Ele entrou no brinquedo e eu o esperei do lado de fora".
"Sabe que montanha-russa, por menor que seja, é bastante barulhenta? Eu não sabia. Quando o carrinho passou por mim, levei um susto com o barulho. Parecia que aquele carrinho ia cair. Foi um susto tão forte que senti minha barriga ficar dura na hora. Ela permaneceu dura até domingo no fim do dia, e, então, voltou ao normal. Na segunda-feira, tive um ultrassom de rotina e ouvi do enfermeiro que o coração do meu bebê não estava mais batendo".
Nathanna correu para o hospital mais próximo da sua casa e, ao ser examinada, o diagnóstico se confirmou. Seu bebê havia morrido. Ela teve de passar por um processo de curetagem, já que sofreu um "aborto retido", que não expeliu o feto.
"Eu fiquei apática, não consegui esboçar nenhuma reação. Foi o pior dia da minha vida. Depois de fazer a curetagem, procurei a obstetra que estava acompanhando meu pré-natal e ela me explicou que, como minha barriga ficou dura após o susto, ele provavelmente foi o fator que desencadeou o aborto. Segundo ela, a barriga começa a ficar dura na 30ª semana de gestação, quando começam as contrações de treinamento. O diagnóstico mais provável é que eu tive contrações de parto e meu bebê morreu".
Nathanna já havia comprado fraldas, roupinhas e acessórios para o bebê que nunca chegou. Depois disso, ela desistiu de engravidar, mas foi surpreendida com uma gestação há dois anos. "Eu passei os nove meses morrendo de medo de levar sustos".
O perigo da adrenalina
A ginecologista obstetra e mastologista Fernanda Torras afirma que 70% dos abortos que acontecem antes da 13ª semana de gravidez estão relacionados a questões genéticas que geram más-formações e problemas cromossômicos. No entanto, a literatura médica aponta que a descarga de adrenalina ou cortisol no organismo --hormônios liberados com emoções fortes como o susto-- pode, sim, estimular a contração uterina.
"Nesses casos, o susto pode antecipar o parto, fazer com que bebês nasçam prematuros. Ainda assim, é mais comum que aconteça após a 28ª semana, quando o bebê já está formado", explica. Ela afirma, ainda, que o estresse crônico no cotidiano de uma gestante pode causar redução do peso fetal e de líquido amniótico, além de restrições no crescimento do feto e, em casos mais intensos, aborto.
A ginecologista, obstetra e pós-doutora do ICESP (Instituto do Câncer de São Paulo) Ana Maria Massad alega, também, que os hormônios liberados com o susto podem promover pequenos descolamentos no saco gestacional, o que pode ocasionar sangramentos. "Quando a gestante perceber esses sangramentos, ela precisa procurar um hospital ou um obstetra o mais rápido possível. Há medidas que podem cuidar do incidente, como medicamentos e repouso absoluto. Por isso, o médico deve analisar a situação", explica.
"As gestantes precisam entender que não precisam deixar de fazer coisas, mas, sim, redimensionar prioridades. Se, no trabalho, ela vive sob constante estresse, deve procurar atividades fora dele para amenizar a tensão. Eu sempre recomendo exercícios físicos e outras atividades que são prazerosas", conclui.
Há cuidados que podem, e devem, ser tomados. Segundo o médico clínico geral, psiquiatra e psicólogo Roberto Débski, parar de fumar, tomar vitaminas, não fazer uso de medicamentos não recomendados pelo obstetra e gerenciar o estresse são boas formas de cuidar do bebê. "Nos três primeiros meses de gestação, o bebê é suscetível a qualquer estímulo agressivo. Os traumas e emoções da mãe interferem diretamente no feto. Podem, inclusive, desencadear traços de caráter na personalidade do bebê. Por isso, é essencial cuidar da saúde mental".
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