Partido da Mulher Brasileira tem líderes homens e miliciano como candidato
Suêd Haidar reconhece a contradição que seu partido político vive. "Mesmo no Partido da Mulher Brasileira, os homens ainda são as lideranças", diz a presidente nacional da sigla. Criado em 2015 com a intenção declarada de representar o eleitorado feminino, o PMB lançou mais candidatos do que candidatas nas eleições de 2018. Foram 226 homens contra 163 mulheres disputando cargos nas assembleias estaduais, na Câmara e no Senado pelo partido.
Atualmente, a sigla tem três prefeitos no país: dois homens e uma mulher --Jacy Tabosa, eleita pelo PMB em Anajás, no Pará. Três deputados estaduais foram eleitos no Ceará, Amapá e Roraima. No Rio de Janeiro, tem seu principal quadro, com a deputada estadual Marina Rocha.
No próximo pleito, em 2020, um nome masculino e polêmico também deve concorrer pelo partido a uma das principais vitrines eleitorais do país.
Jerônimo Guimarães Filho, o ex-vereador Jerominho, anunciou que será o candidato do PMB à prefeitura do Rio de Janeiro. Jerominho foi preso de 2007 a 2018, acusado de comandar a maior milícia carioca. "Nós conversamos com qualquer cidadão que venha a nós com uma proposta de pleito", justifica Suêd, que confirma as negociações sem comentar o histórico carcerário do pré-candidato.
Não à toa, o próximo ano será decisivo para o futuro do jovem partido. A partir do ano que vem, entra em vigor o fim das coligações partidárias. "Parte do crescimento de legendas pequenas como o PMB se deve às coligações. [Com a mudança], a tendência é que parte desses partidos desapareça por não ter o desempenho esperado", explica Maria do Socorro Braga, pesquisadora em comportamento político da Fapesp e professora do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
De acordo com a cláusula de desempenho aprovada em 2015, um partido preciso ter eleito nove deputados federais em pelo menos um terço das 27 federações ou ter tido ao menos 1,5% dos votos válidos para deputados federais para ter acesso ao Fundo Partidário. Sem as coligações, os partidos não poderão mais se aproveitar do chamado voto proporcional, no qual o voto em um candidato ajudava a eleger um candidato em outra legenda.
O PMB, que já chegou a ter 20 deputados federais, desidratou-se rapidamente. Deputados aproveitaram janelas partidárias para migrar para outras siglas com maior projeção e recursos. No ano passado, o partido de Suêd não elegeu nenhum deputado federal e perdeu direito ao Fundo Partidário. "A tendência é que os partidos menores, prestes a desaparecer, se unam a outros de acordo com famílias ideológicas. Quem é mais próximo da direita vai se aproximar da direita. Da esquerda, com a esquerda", explica a professora Maria do Socorro.
Perdida entre ideologias
Se a previsão se concretizar, a sigla talvez fique perdida entre ideologias. No ano passado, o PMB declarou apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT) à presidência. Em 2015, porém, tinha como principal quadro político o hoje senador Major Olimpio (PSL), um dos principais nomes do bolsonarismo em São Paulo, que se desfiliou do PMB, em 2016, após não ter sido indicado para a diretoria estadual do partido.
"A gente acha que é difícil retratar o que é direita e o que é esquerda nesse país. Pensamos numa política mais centrada, de conversação. Hoje, dizemos que somos mais de centro", explica a líder do partido.
A descriminalização do aborto, diz Suêd, é a pauta mais importante para as mulheres brasileiras, mas só deve ser discutida quando o número de representantes mulheres for mais relevante e vencer as "forças machistas" da política. Suêd é maranhense e já foi filiada ao PDT e ao PCdoB. Na última eleição, se lançou a deputada federal pelo PMB, sem sucesso.
Para ela, o menor número de mulheres na política e no seu partido se deve à dedicação às "causas" da família e também financeiras. "A mulher candidata tem que sair, colocar gasolina, atravessar bairro, ruas e cidades para levar sua proposta. Como não tivemos mulheres no nosso quadro com essas condições, acabamos afirmando mais uma vez que o homem tem mais tempo para isso", diz.
Sem investimento do Fundo Partidário para mulheres
Apesar disso o PMB foi um dos únicos partidos a não investir o dinheiro do Fundo Partidário a que tinha acesso em 2018, de cerca de R$ 90 mil, para dar uma força a candidaturas femininas, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas.
Apesar disso, a sigla cumpriu a cota de 30% de candidatas mulheres para investir o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC). O fundo financia campanhas eleitorais com dinheiro público desde a proibição de financiamento por pessoas jurídicas imposta pelo Supremo Tribunal Federal. No ano passado, o PMB recebeu R$ 980 mil do fundo.
"Embora tenha a participação política da mulher no nome, o PMB tem histórico de não efetuar essa realidade na prática", diz Beatriz Rodrigues Sanchez, pesquisadora do Grupo de Estudos de Gênero e Política da Universidade de São Paulo (USP). "O partido quis surfar no discurso da participação da mulher, que tem ganhado legitimidade."
Mesmo sem os montantes milionários destinados a partidos como MBD e PT, com financiamento na casa dos R$ 200 milhões, Suêd acredita que o partido vai sobreviver e continuar incentivando a participação da mulher. "Quem sabe, em 2022, a gente consiga lançar uma mulher à presidência da República."
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