Mulher trans relata violência em banheiro no CE e critica despreparo da PM
A jornalista Alí Nacif, de 32 anos, estava participando de uma roda de pagode na noite de domingo (1), em Fortaleza (CE) quando teve a noite interrompida por um episódio de transfobia: ela teria sido impedida de usar o banheiro feminino do bar e, ao reivindicar os direitos de mulher transexual, teria sido ofendida e empurrada duas vezes por um homem que se apresentou como gerente.
Em longo relato publicado nas redes sociais, Alí conta que é frequentadora do Bar da Mocinha, e que chegou a usar o banheiro horas antes sem nenhum problema. Mas que, na segunda vez, "o cidadão começou a engrossar a voz e me empurrar".
Em entrevista à Universa, ela conta que chamou a polícia e foi bem atendida pelo telefone, mas que os policiais que chegaram ao local não tinham nenhum preparo para lidar com a situação.
"Os polícias me tratavam no masculino mesmo eu pedindo para ser tratada no feminino", conta. "Eles deixaram de impor ao funcionário que eu poderia sim usar o banheiro e sequer pegaram o nome dele, mas quiseram meu telefone, data de nascimento e meu nome do registro civil. Tive que reforçar que por lei poderia usar meu nome social".
Alí relata que, neste momento, os policiais chegaram a rir e dizer que não são obrigados a entender de leis. Ela chegou a ser defendida por um estudante de direito que estava no local.
"Se vai atentar um chamado de transfobia, [a polícia] precisa encaminhar uma viatura que possa de fato dar suporte. Os policiais demonstraram nem saber o que era nome social", disse.
Segundo a jornalista, o rapaz que havia se apresentado como gerente no momento das agressões disse à polícia que era segurança da casa. Ela conseguiu gravar com o celular o momento em que a polícia conversa com este homem.
Em entrevista, ela contou que nunca havia passado por situação semelhante, nem no Bar da Mocinha, que ela frequenta há algum tempo, nem em outro estabelecimento.
Consequências
Agora, após denunciar a violência nas redes sociais, Alí pretende levar o caso à justiça e processar o bar e o homem que a agrediu.
"A situação foi muito constrangedora, nasceu uma polêmica porque uma pessoa queria usar o banheiro de um bar. Eu não precisava ter sido empurrada, humilhada, tratada como um homem", diz. "Os policiais riram de mim, disseram 'ah mas minha mulher, minha mãe, se estivessem no banheiro com você ficariam constrangidas'. Elas estavam ali? Não. Isso me fez ficar com vergonha, com medo, com raiva".
Ela conta que em nenhum momento o Bar da Mocinha a procurou para se desculpar ou explicar a situação.
Vale lembrar que, em junho, o Supremo Tribunal Federal transformou a homofobia e a transfobia em crimes, equiparados com o crime de racismo -- ou seja, se condenados, os agressores podem receber pena de dois a cinco anos de prisão, sem possibilidade de fiança.
"Eu engulo a raiva e transformo em resistência porque encontro todos os dias forças para seguir lutando", escreveu, ao publicar nas redes sociais uma foto tirada no dia e no local da violência.
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