Dom Pedro I e Marquesa de Santos: detalhes picantes dessa história de amor
Sexo e política sempre formaram uma combinação explosiva — e na história da Brasil não foi diferente, tendo início com o escândalo provocado pelo romance entre o nosso primeiro imperador, Dom Pedro I (1798-1834), e Domitila de Castro Canto e Mello (1797-1867), a marquesa de Santos, também conhecida como a amante mais emblemática do país.
O relacionamento entre os dois — que à certa altura deixou de ser clandestino e foi escancarado perante todos, incluindo a oficial, Maria Leopoldina de Áustria (1797-1826) — sempre foi alvo de curiosidade. Não à toa gerou o filme icônico "Independência ou Morte", o longa-metragem brasileiro mais visto em 1972, com o casal Tarcísio Meira e Glória Menezes nos papéis principais. A produção foi exaustivamente reprisada na "Sessão da Tarde" (TV Globo) nos anos 1980.
O affair foi retratado de maneira mais caliente e menos romantizada na minissérie global "O Quinto dos Infernos" (2002), com Marcos Pasquim e Luana Piovani. Outras versões foram "Marquesa de Santos" (1984), minissérie exibida pela extinta TV Manchete e protagonizada por Maitê Proença, e a novela "Novo Mundo" (2017, TV Globo) em que Agatha Moreira vivia Domitila. E, provando que o caso amoroso mexe para valer com o imaginário popular, a marquesa foi tema de espetáculos teatrais, ópera, samba-enredo (mais de uma vez, inclusive) e até álbum de rock. Veja, a seguir, alguns fatos curiosos de um dos relacionamentos amorosos mais famosos de nossa história:
Paixão impactante
O primeiro encontro entre o casal tem muitas versões — numa delas, Domitila tinha um caso com Francisco Gomes da Silva (1791-1852), o Chalaça, político e confidente de Dom Pedro I. Há a teoria de que os dois armaram um complô para obter benefícios, mas nunca isso foi provado. A questão é que o imperador se encantou à primeira vista com ela e seu espírito livre e despachado, um contraponto à personalidade discreta e pudica de Leopoldina.
Resistência ao machismo
Embora seja uma figura controversa por ter ocupado a função de amante e rival da adorada Leopoldina, a marquesa sempre foi uma mulher que se recusou a se sujeitar ao machismo da época. Domitila teve de se casar com apenas 15 anos de anos de idade com um homem que a agredia e a estuprava com regularidade. Tiveram três filhos. Após sofrer uma tentativa de assassinato, que lhe deixou cicatrizes por causa das facadas, ela se divorciou e conseguiu voltar a morar com os pais — algo raro para a sociedade de então. Carismática e ambiciosa, decidiu alavancar sua vida através da relação com Dom Pedro I.
Título como vingança
Pedro e Domitila se conheceram em São Paulo, terra natal dela, poucos dias antes de o imperador proclamar a Independência do Brasil. A relação durou apenas sete anos, tempo suficiente para ela conquistar fortuna e prestígio. Em abril de 1825, a amante foi colocada no posto de dama de companhia da própria Imperatriz Leopoldina e em seguida intitulada viscondessa de Santos. O título de marquesa de Santos foi ganho em outubro de 1826, sem nunca sequer ter pisado na cidade — a atitude foi uma vingança pessoal de Dom Pedro I a José Bonifácio de Andrada, antigo aliado e santista de nascimento. No mesmo ano, ela recebeu de presente uma mansão perto do Palácio em São Cristóvão, conhecida como a "Casa Amarela", local onde fica hoje o Museu do Primeiro Reinado no Rio de Janeiro.
Sexting do Império
O relacionamento entre ela e dom Pedro começou em 1822 e terminou em 1829, sete anos registrados em centenas cartas de amor e confidências. Durante o tempo em que estiveram juntos, os dois trocaram mais de duzentas cartas de amor e confidência. O conteúdo faria "Cinquenta Tons de Cinza", de E. L. James, parecer um livro infantil. Em várias das mensagens o imperador desenhava o próprio pênis, muitas vezes ejaculando, e acrescentava pelos pubianos no envelope — mimo que, na época, era tido como prova de fidelidade. Para expressar a vontade que tinha de fazer sexo com a amada, Dom Pedro I escrevia "quero ir aos cofres". Em vários dos bilhetes as noites tórridas que haviam compartilhado eram relembradas com saudade e paixão. "Vou ser seu mico", prometia o monarca.
Apelidos fofos
Os dois também tinham apelidinhos de casal. Ele a chamava carinhosamente de Titília e assinava a correspondência com "Demonão" ou "Fogo Foguinho". Os amantes tiveram cinco filhos, dos quais apenas dois chegaram à fase adulta.
DRs x chamegos
Como todo envolvimento íntimo, envolvendo ou não soberanos, o de Dom Pedro I e a marquesa de Santos também tinha altas doses de DR. Audaciosa e cheia de si, em certas circunstâncias ela não se dobrava aos apelos exigentes do amante. "Quero que vá para São Paulo", escreveu o imperador, certa vez, com o intuito de tirá-la por uns tempos da corte, que ficava no Rio de Janeiro. "Vou quando eu quiser", respondeu ela. "Estou mandando-lhe um cavalo", retrucou o impaciente enamorado. "Seu cavalo vai ficar pastando no meu jardim", provocava Domitila.
Tática sexual
A sensualidade era um ponto alto de Domitila — que, embora ostentando um sorriso com dentes bons para o período e cabelos longos e brilhantes, segundo relatos parecia mais sexy do que bonita. Para atiçar Dom Pedro I na cama, apostava em truques de pompoarismo, a famosa técnica oriental que consiste em contrair e relaxar a vagina durante o sexo para potencializar o prazer.
Pênis problemático
Fidelidade não era uma palavra que fazia parte do vocabulário do imperador, que colecionou inúmeras amantes ao longo da vida (inclusive uma irmã de Domitila). Muitas dessas histórias eram de conhecimento da amante — ele mesmo, na correspondência que trocavam, descrevia as enfermidades que volta e meia atacam seu pênis, que ele chamava, nas cartas, de "tua coisa".
Amante cheia de pompa
Aos poucos, Dom Pedro I passou a não se incomodar em esconder o caso do público — pelo menos em São Paulo, já que Leopoldina seguia solitária no Rio criando os filhos. Com o tempo, depois que Domitila se tornou camareira e se mudou para o Rio, era comum ver as duas nos mesmos eventos sociais, sendo que a amante sempre surgia mais exuberante do que a humilhada austríaca. Ambas engravidaram no mesmo período do monarca, que contemplava a amante com joias, vestidos e todo o tipo de agrado, como um exército de escravos e mucamas para atendê-la.
Fim sob ódio popular
Quando Leopoldina morreu, veio à tona todo o ódio da população em relação à concubina — as pessoas admiravam a imperatriz, não só por se compadecerem de sua humilhação pública mas por causa de seu papel frente à luta pela Independência do Brasil. A notícia fez com que uma multidão fosse até a casa de Domitila acusá-la de envenenamento e apedrejá-la. Com a morte da mulher, Dom Pedro viu sua popularidade cair e acabou se casando com Amélia de Leuchtenberg, princesa bávara de 17 anos. Domitila acabou deixando o Rio de Janeiro em 27 de junho de 1828 após insistências do imperador e foi morar no chamado Solar da Marquesa, em São Paulo. Ele rompeu a relação, que ironia, justamente por carta, justificando que a amava, mas amava ainda mais a própria reputação.
Sepultura requisitada
Domitila doou dinheiro para a construção da capela do Cemitério da Consolação, na capital paulista, onde foi sepultada. Seu túmulo é um dos mais visitados do local e sempre conta com plaquinhas de agradecimento por alguma graça. Há a lenda de que ela protege as prostitutas da cidade e as ajuda a arrumar casamento com bons partidos e constituir família.
Livros consultados:
"A Carne e o Sangue - A Imperatriz D. Leopoldina, D. Pedro I e Domitila, a Marquesa de Santos", de Mary Del Priore (Ed. Rocco)
"Mulheres do Brasil - A História Não Contada" (Ed. Leya), de Paulo Rezzutti
"Titília e Demonão - Cartas Inéditas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos" (Ed. Geração Editorial, de Oaulo Rezzutti
"365 Dias de Mudaram o Brasil", de Valentina Nunes (Ed. Planeta)
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