Isolamento, irritação, nota ruim: como identificar depressão em adolescente
Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) comprovam o que já é lugar comum: a adolescência é uma fase difícil. Segundo a instituição, de 10% a 20% das pessoas entre 10 a 19 anos sofrem de algum transtorno mental.
Nessa faixa etária, o suicídio é a terceira causa mais comum de morte. "Há uma preocupação muito grande com jovens e adolescentes. Há uma expectativa de que esse seja um momento de muita alegria e, quando isso não acontece, a frustração pode levar à depressão e a pensamentos de morte", explica Alexandrina Meleiro, coordenadora da comissão de estudo e prevenção do suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Dados como esses colocam famílias em alerta. Como identificar jovens que estejam em sofrimento? Como ajudá-los? E, se possível, como prevenir transtornos mentais? Universa conversou com especialistas em busca de respostas para essas questões.
Depressão x tristeza
A depressão é caracterizada por uma tristeza intensa e prolongada, diferente da que sentimos normalmente em momentos de dificuldade. Nos adolescentes, essa sensação pode desencadear diversos comportamentos aos quais é importante se estar atento.
"Geralmente, o que passamos a perceber é uma redução do prazer que o adolescente tinha em atividades cotidianas", explica o psiquiatra Gustavo Estanislau, autor do livro Saúde Mental na Escola: O que os Educadores Devem Saber. Maior isolamento no quarto ou nas redes sociais, queda no rendimento escolar e irritabilidade são algumas das manifestações dessa redução no prazer com o cotidiano.
Em casos mais extremos, surge o cutting, quando o jovem faz cortes em seu próprio corpo. "Ele promove a dor física para tentar aliviar a dor emocional", afirma Alexandrina. Em geral, esses cortes são realizados nos braços ou pernas, o que faz com que eles passem a cobrir essas partes usando roupas compridas, mesmo em dias de calor.
É importante que os pais fiquem atentos para observar esses sinais e mantenham conversas frequentes sobre atividades dos filhos e dificuldades. Também vale contar com o apoio de parceiros: escolas e outras instituições que o adolescente frequenta podem notar mudanças no comportamento que são indicativos da depressão.
Comportamentos que podem indicar depressão:
- Demonstrar menos prazer em atividades que antes gostava
- Insônia ou excesso de sono, acompanhado por uma sensação contínua de cansaço
- Dificuldades de concentração e queda no rendimento na escola
- Isolamento e aumento na quantidade de tempo passado no quarto ou nas redes sociais, se esquiva de eventos de família ou com amigos
- Aumento na irritabilidade
- Mudança repentina de apetite, com ganho ou perda de peso
- Perda de autoestima, excesso de pensamentos negativos e falta de esperança
- Realização de cortes no próprio corpo
O que fazer ao desconfiar
Ainda há preconceito relacionado ao papel dos profissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. Tentar combater esse estigma é um dos primeiros caminhos. "Transtornos mentais são condições frequentes, com componentes neurobiológicos, que acometem qualquer um, não apenas 'pessoas frágeis', e têm tratamento efetivo", destaca Estanislau.
Ao abordar o jovem, é importante não ter uma postura que pareça recriminá-lo ou culpá-lo. "O melhor manejo está associado com a escuta afetiva e sem julgamentos", explica o especialista. Sheila Caetano, professora adjunta do departamento de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina/Unifesp.
Sheila recomenda comunicar a decisão de procurar o psiquiatra como uma questão de família. "É possível dizer 'nós, seus pais, não estamos sabendo o que fazer para lidar com essa situação'. Assim, o jovem não se sente culpado, mas acolhido", afirma a médica.
Em casos mais graves, quando já houve uma tentativa de suicídio, é importante buscar atendimento imediato, em um pronto-socorro. "A chance de que a tentativa se efetive, nesses casos, é muito grande", alerta Sheila.
Estratégias para prevenir a depressão
Há ações que as famílias podem tomar durante toda a vida da criança e do jovem para garantir a saúde mental e emocional dos filhos. São pequenas possibilidades de ajuste na rotina que podem ter efeitos positivos.
- Realização de atividades físicas aeróbicas, desde a infância;
- Criação de um espaço de escuta, ao menos semanal, em que os jovens possam contar sobre seu cotidiano sem julgamentos e, em casos de problemas, serem apoiados na busca por soluções;
- Cuidados aos momentos de sono: garantir desde sempre noites de sono bem dormidas, sem o estímulo de televisão, videogame ou celular durante a madrugada;
- Atenção redobrada para evitar situações de violência física ou sexual;
- Exposição a situações de alegria e de frustração, desde a infância, que preparem para os desafios que surgem ao longo da vida.
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