"Fico feliz de ver que minha marca se valorizou", diz Fátima Bernardes
Fátima Bernardes trouxe a sua marca para um evento recente da gigante de cosméticos L´Oréal. E não no sentido figurado -- ao avaliar-se a si própria, a jornalista se vê quase como um produto de marketing que deu certo: alguém que fez a transição entre âncora de telejornal e apresentadora de programa matinal sem perder a credibilidade. "Fico feliz de ver que a [minha] marca valorizou", disse. Convidada de honra, ao lado de celebridades como Claudia Raia, Fernanda Gentil, Andrea Santarosa e Taís Araújo, ela deu o tom de um debate sobre o ageísmo, ou o direito das mulheres de envelhecer. A seguir, os momentos mais bacanas dessa conversa.
Idade é só um número
"Quando se fala em tabu, ele não está na idade, mas em qualificar as pessoas pela idade. Você dá uma entrevista, a pessoa escreve o seu nome, a sua idade. Esse número não diz nada sobre mim. Outro dia ouvi a Regina Casé dizer que, ao dizer que tinha 58 anos, recebeu um 'elogio': 'Nossa, não parece'. 'Por quê?'. 'Nunca imaginei uma pessoa de 58 anos como você'. 'Assim como?' Quer dizer, uma pessoa produtiva, divertida, bem-humorada, fazendo as coisas, produzindo. É isso, gente precisa parar de qualificar as pessoas dentro de determinadas décadas. A data na certidão de nascimento são só números. O importante é como a gente construiu nossa vida e como vamos aproveitá-la da melhor maneira possível, independentemente da década da vida em que a gente está."
Representatividade importa
"Nós éramos um país de jovens, mas essa pirâmide está se invertendo. Em 10, 15 anos, teremos mais gente da terceira idade do que jovens. Então, precisamos aprender a conviver com pessoas de todas as idades, lado a lado, entendendo que somos todos iguais. Se a gente não tiver representatividade nos meios de comunicação, nas tevês, nas campanhas, em tudo, vamos deixar de comunicar com o nosso público. Vamos evoluir pra isso — e é importante que a gente tenha essa clareza de que essa terceira idade será outra quando chegarmos lá."
Velha não é sinônimo de acabada
"Assisti a um TED da Jane Fonda em que ela diz que esperava chegar aos 60 anos como uma velha, no pior sentido da decrepitude. Mas se deu conta de que, com a expectativa de vida mais longa, teria 30 anos pela frente. E aí começou a fazer vídeos de aeróbica -- aos 60! A vida dela deu uma mudada e ela compreendeu que o fim da vida não tinha nada a ver com caduquice. Hoje é mesmo inimaginável pensar nisso. É legal perceber que temos muita coisa pela frente, que há uma expectativa enorme. E já que temos esse privilégio, vamos contar pra todos que podemos fazer mais do que já fazemos hoje."
Trabalho sempre em primeiro lugar
"Fui criada por uma mãe que não trabalhou. Mas desde os 10 anos, ela me dizia que eu tinha que estudar para ter a minha vida. E que deveria demorar a pensar em casamento, que eu deveria fazer diferente. Eu cresci sem saber fazer um arroz e feijão, sem nunca ter cozinhado nada até ir morar sozinha, porque nunca fiz nada a não ser estudar."
Uma vida de cuidados — básicos
"Minha mãe nunca teve a oportunidade de se cuidar muito. Mas eu lembro de quando tinha uns 14, 15 anos, voltava da praia toda descascando e ela dizia que não achava bonito. Então a gente ia mais cedinho, evitava o sol forte. Depois que o filtro solar se popularizou, incorporei à minha vida. Faço pela minha pele a mesma coisa que eu fiz aos 20, aos 40, aos 60 e continuarei fazendo aos 70. Mas a gente tem que aprender a respeitar os próprios limites, né? Cada um tem a sua composição, uma estrutura. A gente deve olhar para o que é, sem se comparar com a Fernanda [Gentil], a Claudia [Raia], a Taís [Araújo]. Se você fica bem se maquiando, ótimo; se fica bem cuidando da pele, ótimo também. O importante é fazer bem a quem está em volta de você"
Sorrir rejuvenesce
"Você tira 10 anos de uma pessoa quando ela dá um sorriso. Fiz essa experiência com minha mãe — ela tem 76 anos. Mostro como ela fica mais jovem quando sorri."
A hora de dar uma guinada na carreira
"Ninguém nunca realiza todos os projetos que gostaria. A gente só está bem quando a está pensando em um novo projeto. Eu fico feliz de não ter tido esse freio. De ter querido mudar minha carreira. Fui vista como maluca? Sim, minha mãe ficou desesperada: "Por que você vai sair do jornal nacional, você não gosta?". Gosto. "Está Feliz?". Estou. Mas será que estaria feliz em cinco anos? Não sei. E se eu esperasse muito, talvez não desse mais tempo. Não porque eu ia morrer em cinco anos, mas porque talvez aquilo que eu estava sentindo passasse. Demorei, foi um processo de convencimento, porque é natural que eu tivesse que convencer meus chefes, afinal, estava tudo funcionando. Fiquei muito feliz de ter bancado essa escolha."
Uma marca que só melhora
"Quando fiz a mudança, eu só tinha uma preocupação. E não era se o meu programa daria certo, mas se aquela história construída em 25 anos com tanto sacrifício, pudesse desvalorizar a minha marca. Porque eu sou uma marca, cada uma de nós é a nossa própria marca. É o que a gente tem, o que a gente construiu. E fiz todo o processo de transição para que isso não acontecesse. Sete anos depois, fico muito feliz de olhar e ver que a marca valorizou, avançou, que eu dei um passo que foi importante. E eu sou mesmo inquieta, então eu já fico pensando o que pode vir daqui a um pouco. A gente não deve parar, não devemos ser os limitadores dos nossos próprios sonhos. Se nós mesmos não acreditarmos, fica muito difícil convencer alguém de apoiar os seus sonhos."
Não vai ter filho jornalista, não...
"É importante passar pros filhos que tenham uma relação saudável com o trabalho. Quis que os meus tivessem uma relação bacana com essa escolha. O trabalho era para o sustento da família? Sim, mas era também para o sustento pessoal. É muito bom ver que hoje, os três, que estão com 21, estão encaminhados. Ninguém quis fazer jornalismo (risos). Acho que ficaram traumatizados com a quantidade de trabalho."
Mãos na cabeça!
"Sou o mais próxima do que é natural possível. Não uso cílio postiço no programa todo, dia, só em eventos especiais. Nunca mudei a cor do meu cabelo. Só faço algumas luzes? Então, um dia, eu toparia mudança. Porque já mudei muito de corte. Fiquei 10 anos de cabelo curto. Foi um problema pra crescer, o meu cabelo ficava uma empada! Não crescia, eu parecia o chapeuzinho do Playmobil, não funcionava. Hoje estou muito feliz com o cabelo comprido. Está volumoso, né? Outro dia, no shopping, descendo a escada rolante, uma pessoa que nunca vi veio me cumprimentar. 'E aí, Fátima?' E enfiou a mão no meu cabelo. Quem cumprimenta segurando o cabelo pela raiz? Acho que ela queria ver se era mesmo meu (risos)!"
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