"Só dê like se for transar". Isso funciona nos apps? Segundo usuários, sim
Quem usa aplicativo de relacionamento em algum momento já se deparou com perfis que são bem claros no que estão procurando por ali: sexo casual. Uns são bem diretos usando imagens que remetem a filmes pornográficos, outros usam frases como "quero te comer", "só dê like se estiver a fim de transar" e, há ainda aqueles tipos que tentam seduzir a pretendente a sair com ele oferecendo um date sexy e/ou romântico com direito a música, cerveja e massagem nos pés.
Por mais estranha que a ideia de sair com alguém nesses moldes possa parecer, a verdade é que os aplicativos de paquera são ferramentas para adultos, ou seja, só topa esse tipo de proposta quem quer. Se não deseja isso, basta descartar o pretendente e caso encerrado.
Porém, há muita gente que ainda tem em mente a ideia errônea de que pessoas que têm esse tipo de perfil no app devem ser depravadas, doentes ou psicopatas -- e que, por isso, são perigosas -- ou, ainda, se questionam sobre a efetividade desse tipo de abordagem.
Será que funciona? Para dois entrevistados, Paulo e Arcanjo, homens que fizeram um perfil mais sexual por estarem cansados de conversas que não saíam do "oi, tudo bem?", a mudança foi bem positiva.
Puxando conversa com perfis 'mais ousados'
"Às vezes uma conversa interessante é melhor que uma transa mal feita". O perfil do motorista de aplicativo Paulo, 27, que usa o nome fictício Alex no app de paquera, conta com uma única foto: um peitoral, sem rosto. A descrição começa com dois trechos de músicas, descreve o que ele considera prazeroso entre quatro paredes e termina com um convite: "O que acha de sentir tesão e gozarmos juntos?".
"Realmente acredito no que está escrito ali e acho que quem se interessa sabe muito bem o que quer. Não existe essa falta de conteúdo nas palavras ou criação de personagens", pontua. Paulo acredita que muitas pessoas inventam um mundo perfeito nas redes sociais e que é vazio de conteúdo. O que também impacta nas relações reais. "Neste perfil, eu tive muito menos likes do que no tradicional e muito mais coisas aconteceram. Quem dá like no meu perfil não o faz pela minha embalagem, pela balada que fotografei, pela roupa que uso ou pelo carro com o qual tiro foto. É pela proposta que eu faço".
O jovem optou por não mostrar o rosto no app por receio de ser reconhecido por familiares e amigos que fariam piada com o assunto e não entenderiam a proposta dele. "Acho que a sociedade, de maneira geral, não está preparada para lidar com coisas relacionadas à sexualidade. Há muito preconceito. As pessoas têm seus padrões de normalidade. É mais bem aceito trair seu marido, do que procurar alguém na rede social ou ir a uma casa de swing com ele para conhecer pessoas novas", exemplifica.
Paulo diz que, a partir do momento que o match acontece e ele começa a conversar com a pessoa, o "Alex morre", e a relação passa a ser transparente. "Não quero que deem like pela minha aparência, mas que se interessem pela proposta. Houve pessoas que eram o que eu imaginava, rolou [sexo] e não foi o que eu esperava em termos de prazer. E já conheci pessoas que não eram aquilo que eu esperava de aparência e o sexo foi incrivelmente bom, teve um encaixe incrível. Dou oportunidade de algo a mais acontecer".
Paulo se descreve para as pretendentes assim. "Sou uma pessoa extremamente normal, meu pênis não é grande, não sou bombado, não sou rico, não fico só com mulheres gostosas".
Com o perfil mais ousado no aplicativo, há cerca de cinco meses, ele diz já ter saído com nove mulheres e que os encontros sempre acabaram em sexo, de maneira muito natural.
Paulo conta que uma desilusão amorosa faz com que ele não procure um relacionamento sério agora. Essa foi uma das razões para criar o perfil mais direto. Ele crê que, dessa forma "expectativas não são criadas e, consequentemente, decepções não acontecem".
"Cresci muito nesta fase"
"É uma fase na qual não só eu cresci muito. Muitas pessoas que se envolveram comigo também". O empresário Arcanjo Oliveira, de 26 anos, também vai direto ao ponto no quesito "perfil sexual" e garante que tem sido uma boa ideia. Com contas em dois aplicativos de paquera há cerca de dois anos, ele oferece massagem tântrica, que diz ter aprendido de maneira autodidata.
"Há massagens que terminam em sexo e em outras só ficam na massagem mesmo. Não ganho dinheiro com isso. É incrível como muitas mulheres não sabem o que é ter um orgasmo, não conseguem gozar, principalmente se forem depender de alguns homens que só querem receber e não dar prazer".
Arcanjo conta que ainda há muito tabu quando o assunto é massagem tântrica. Apresentar a técnica, que inclui autoconhecimento e a importância de se conectar com o parceiro para que o sexo seja uma experiência mais completa do que apenas a forma tradicional, focada na penetração, foi uma das razões que motivou o rapaz a criar o perfil.
Oliveira diz que ele mesmo mudou muito após começar a estudar o assunto. "Eu era o típico cara retraído, tímido ao extremo e tinha um bloqueio com mulheres, que não sabia a razão. A massagem foi uma das coisas que me libertou sexualmente".
Por ser heterossexual, ele diz só ter aplicado a massagem em mulheres. "Já teve proposta da garota falar 'você faz em homem também?' Ensinaria a mim e ao meu namorado?'. Mas eu não aceitei".
O rapaz conta entender o comportamento das mulheres que dão match, mas desistem do encontro por medo ou até mesmo por não se sentirem atraídas fisicamente por ele.
"Acho engraçado, mas entendo. Muita gente não tem a experiência por conta disso, o que é totalmente compreensível, mas eu tenho consciência do que eu sou, do meu caráter. Tudo depende da cabeça da pessoa".
Nos dois aplicativos, Arcanjo afirma ter alcançado cerca de mil matches com os perfis em que fala sobre massagem tântrica.
Distribuindo superlike
Para ele, houve uma mudança de critérios dentro dos apps. Quando fez as contas, ia por uma noção estética para dar like nas mulheres que gostaria de sair; mas as estrelinhas (ou Superlikes) eram destinadas àquelas que, além de o atrair fisicamente, tivessem um perfil mais liberal e que se mostrassem abertas a novas experiências.
"Hoje estou com outra cabeça e, por questão de agenda, podemos dizer que eu faço como se fosse um date e só saio quando é uma pessoa que me interessa".
Arcanjo não se vê como um "mestre do sexo" e diz que em algum momento sairá dos apps de paquera. "Estou para aprender. Não é porque você fez um curso que sabe de tudo. A verdade é que quanto mais você pratica, melhor fica. Dou o meu melhor, busco conhecimento e isso vira um diferencial em relação a muitas pessoas", finaliza o jovem.
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